A divulgação da literatura brasileira em Portugal- escreve Dora NunesGago-foi
particularmente importante a partir de 1927, com a revista Presença.
De um modo geral, os elementos pertencentes à Presença eram jovens
nascidos entre 1890 e 1915, que se encontravam em Coimbra, nos anos que
se seguiram à Primeira Guerra Mundial. De entre eles, destacam-se Branquinho da Fonseca, João Gaspar Simões, José Régio, Vitorino Nemésio e Casais Monteiro, entre outros.
Foram preferidos e divulgados os poetas brasileiros Jorge de Lima, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, para além dos romancistas Jorge Amado e José Lins do Rego.
Cecília Meireles (1901-1964), brasileira descendente de açorianos, largamente elogiada por Joaé Régio, teve o seu mérito reconhecido em Portugal antes de tal ter sucedido no Brasil. Com efeito, foi José Osório de Oliveira,
um português radicado no Brasil, notável admirador e divulgador da
literatura brasileira, quem lhe enalteceu a obra Nunca mais e Outros
Poemas (1923). Nesta sequência, o poeta Cassiano Ricardo defendeu a sua candidatura ao “Prémio de Poesia da Academia Brasileira de Letras” que acabou por ser
atribuído à obra Viagem.
Aliás, sobretudo até aos anos
40, altura em que recebeu o referido prémio, a autora foi algo
incompreendida no Brasil, por ser considerada, provavelmente demasiado
próxima da Literatura Portuguesa.Foi aliás notória a sua influência nos
escritores portugueses, sobretudo nos anos 40 e 50, usufruindo de
grande prestígio, comparada a poetas internacionais como Rilke.
Cecília Meirelles coloborou em
diversas revistas portugueses: Presença, Revista de Portugal, Távola
Redonda, Primeiro de Janeiro, Lusíada, Ocidente, Mundo Português, para
além da luso-brasileira Atlântida
Por outro lado, a autora organizou, prefaciou e publicou no Rio de Janeiro a Antologia dos Poetas Novos de Portugal (1944), reveladora, ao Brasil e ao Portugal salazarista, da produção do modernismo português – num total de 34 autores, que vão de Fernando Pessoa e Mário de Sá- Carneiro, Jorge de Sena, Miguel Torga, José Régio ou Irene Lisboa.
Embora atualmente talvez um
pouco esquecida pela crítica literária portuguesa, a poesia de Cecília
Meireles, ainda é (felizmente) estudada nas escolas portuguesas. Além
disso, é possível vislumbrar os ecos “cecilianos” na obra de poetas
portuguesas bastante prestigiadas, como é o caso de Natércia Freire.
Importa frisar que é no
conhecimento detido pela autora acerca de Portugal e da sua literatura e
vice-versa, que é possível desenhar o que denominámos por “cartografia
da luso-brasilidade”, enraizada na comunhão entre duas literaturas
irmanadas pelo idioma, mas também pela cultura e a História.
Por outras palavras, a obra de
Cecília Meireles assume-se como uma ponte, ou melhor, um cais, onde as
literaturas desaguam e harmoniosamente se encontram.
Assim,nesta autora de dimensão
universal, o mundo é reinventado através da dinâmica e da musicalidade
da palavra, pois como escreveu: “a canção é tudo: /teu sangue eterno/ a
asa ritmada”. Deste modo, esculpiu na sua escrita, além-tempo e além
fronteiras, uma inquietude lírica, convertida em canto alado imaterial,
afirmando a sublime e perene verdade: “Sou poeta / no vento! / Mais
nada.”.
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