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Boas Vindas a esta comunidade de Culturas e Afetos Lusofonos que já abraça 76 países

MÚSICA DE FUNDO E AUDIÇÃO DE VÍDEOS E AUDIOS PUBLICADOS

NÓS TEMOS TODO O EMPENHO EM MANTER SEMPRE MÚSICA DE FUNDO MUITO SELECIONADA, SUAVE, AGRADÁVEL, MELODIOSA, QUE OUVIDA DIRETAMENTE DO SEU COMPUTADOR QUANDO ABRE UMA POSTAGEM OU OUVIDA ATRAVÉS DE ALTI-FALANTES OU AUSCULTADORES, LHE PROPORCIONA UMA EXPERIÊNCIA MUITO AGRADÁVEL E RELAXANTE QUANDO FAZ A LEITURA DAS NOSSAS PUBLICAÇÕES.

TODAVIA, SEMPRE QUE NAS NOSSAS POSTAGENS ESTIVEREM INCLUÍDOS AUDIOS E VÍDEOS FALADOS E/OU MUSICADOS, RECOMENDAMOS QUE DESLIGUE A MÚSICA AMBIENTE CLICANDO EM CIMA DO BOTÃO DE PARAGEM DA JANELA "MÚSICA - ESPÍRITO DA ARTE", QUE SE ENCONTRA DO LADO DIREITO, LOGO POR BAIXO DA PRIMEIRA CAIXA COM O MAPA DOS PAISES DOS NOSSOS LEITORES AO REDOR DO MUNDO.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

CARLOS VILAR - UM FILÓSOFO DA VIDA, UM ATIVO E ENÉRGICO CIDADÃO CIVICAMENTE EMPENHADO, E UM GRANDE AMIGO QUE COMPLETA HOJE OS SEUS JOVIAIS 91 ANOS - PARABENS E FELICITAÇÕES! QUE CONTINUES SOMANDO ANIVERSÁRIOS, COM A SAÚDE E VITALIDADE DE HOJE.

TRIBUTO DE HOMENAGEM AO DR. CARLOS VILAR
POR UMA VIDA CÍVICA EXEMPLAR E PELO SEU CONSTANTE ENVOLVIMENTO NAS ACTIVIDADES DE CIDADANIA E CULTURAIS 


CELEBREMOS OS SEUS EXEMPLARES 91 ANOS!

PARABENS E FELICITAÇÕES AO GRANDE AMIGO E ATIVO CIDADÃO - DR. CARLOS VILAR - CIVICAMENTE EMPENHADO E SEMPRE ENVOLVIDO EM ATIVIDADES DE CIDADANIA E CULTURAIS ! QUE CONTINUES A CELEBRAR A VIDA EM MUITOS ANIVERSÁRIOS, MAS QUE, COM O TEU ENTUSISASMO E ALEGRIA, CONTINUES A CELEBRAR, COMO NÓS CELEBRAMOS, CADA DIA, CADA HORA, CADA MOMENTO DO TEU CONTENTAMENTO E O CONTENTAMENTO QUE DÁS AOS OUTROS.

TENHO O PRIVILÉGIO DE TER APROFUNDADO COM O PROFESSOR  DE FILOSOFIA, JUBILADO, CARLOS VILAR, UMA AMIZADE MUITO AFETUOSA, QUE CULTIVAMOS MUITO FRATERNALMENTE HÁ CERCA DE 3O ANOS.
É bom termos este privilégio de podermos contar com amigos que, como Carlos Vilar, são pessoas raras! Raras, desde logo, no seu caráter impoluto, na genuinidade e clareza das suas ideias, ideais e posicionamentos, sempre fortemente eivados de grande humanismo e solidariedade. Raras, ainda, na forma muito carinhosa e afetiva com que retribui a amizade de seus amigos.  

Brilhante, inérgico e corajoso orador, o Dr. Carlos Vilar é dotado de forte personalidade mas muito afetuosa, que sempre prodigaliza  com enorme sentido do SER e do culto e entusiástica defesa dos Grandes Valores e Princípios Éticos e Morais, com elevada preocupação pela busca do Direito, da Verdade, da Razão, da Justiça e da Beleza, mas sempre derramando-se em afetos.

O Professor Carlos Vilar será sempre para todos Professor! Mesmo que ele, na sua sincera simplicidade, sempre  rejeite esta distinção, porque verdadeiramente Professor é aquele que "Professa", ou seja, aquele que, como ele, pratica, com denodo, sabedoria e exemplo de vida, um dia-a-dia pautado pelo culto dos afetos, uma corajosa honestidade, batendo-se pela defesa do Aperfeiçoamento Humano, pela Igualdade dos Deveres e Direitos Humanos, pelos valores da Liberdade e da Solidariedade,  sem distinções étnicas, culturais e sociais, de tempo ou lugar.  

Por isso Carlos Vilar, é merecedor e credor da maior admiração e respeito pela sua extraordinária "obra  de uma vida" dedicada constantemente, sem desânimos,  às actividades cívicas e culturais que promovam e cultivem estes Valores, no seio das Agremiações Culturais e de Beneficência e das Tertulias Culturais a que pertence e onde sempre dá o saudável exemplo do seu trabalho com assidiuidade a cem por  cento.  E, a juntar à sua inteligência, à sua cultura  e à sua generosidade, é ainda dotado de uma irradiante simpatia e jovialidade, absolutamente inusitadas para "um jovem há tanto tempo", quantos são já 91 anos. A Filosofia continua a estar presente, como formulações de uma práxis de vida exemplar que segue e que recomenda.

Este Bolg-Revista "Culturas e Afectos Lusófonos" - que é lido em 76 países e já ultrapassou, em pouco mais que dois anos e meio de actividades culturais, mais de 100.000 leitores, quer nos países da CPLP, quer em muitos outros por onde se estende a diáspora lusófona nos quatro continentes - tendo no Professor Doutor Carlos Vilar, um grande amigo do seu editor, assinala aqui a passagem do seu 91º.aniversário no dia de hoje, com este singelo"Tributo de Homenagem" pelo exemplo de grande cidadania e de Amigo que nos nos inspira, instiga, e estimula no sentido da praxis de uma filosofia profundamente humanista, que dele nunca se separa.

Neste momento, Querido Amigo Carlos Villar, permite-me que utilize, a propósito, um pequeno parágrafo da minha carta do ano passado para te dizer novamente:

...parafraseando Torga:
“aqui, diante de mim, eu me confesso pecador, no que sou, por ir ao leme desta nau de condenado em que vou, ao bem deste exílio em que estou, nesta deriva em que vou”, e de, por estar ainda aqui, “neste bondoso desterro, penoso”, por não me ter podido libertar a tempo de te abraçar fisicamente neste dia 05 de Fevereiro. Por isso, e para de algum modo, me redimir destes pecados, veio-me à memória fazer e te oferecer o que é prometido naquela velha canção romântica:
“Hoje é o dia dos teus anos / mas que prenda te hei-de dar / Dou-te a que trago escondida / Na canção que te vou cantar”…
Vou, então, oferecer-te, junto com esta carta, uma Canção ! Mas antes quero desejar-te neste teu dia, tão especial para ti e, certamente, ainda mais especial para nós todos, teus muitos amigos.
DA MINHA PARTE E DE SELMA, QUE MUITO TE QUEREMOS BEM, PARABENS QUERIDO AMIGO, MUITAS MAIS FELICIDADES, MUITOS ANOS DE VIDA, COM SAÚDE, TODOS OS DIAS, NA NOSSA COMPANHIA, NOS ALEGRANDO, NOS ENSINANDO, NOS FAZENDO SENTIR HONRADOS POR TERMOS A TUA AMIZADE E CARINHO E DE SERMOS TEUS AMIGOS! AÍ VAI, POIS, A MINHA CANÇÃO PARA TI, CARLOS VILAR!"      
 
Como evocação, começamos, pois,  por reproduzir aqui o poema que o ano passado te dedicámos e que, obviamente está completemente em dia e adequado:

CANÇÃO PARA CARLOS VILLAR

Que bom e valioso é ter amigos de verdade
É como ter amparo que nos guia na escuridão
É ter a luz, a força e a beleza da fraternidade
É como unir o nosso elo numa Cadeia de União

É sermos, com os amigos, operários em construção
Desse Templo intemporal onde se edifica a amizade
Onde todos somos aprendizes do amor em comunhão
Que é a alegria da partilha com singela solidariedade

Fazer noventa aniversários! E o que ficou?
É o romance de uma longa história de vida
Quanta vivência e sabedoria se acumulou
Quanto de tua alma grande foi a nós oferecida

De onde vem esse manancial de positiva energia
Essa força de viver com tanto brilho e inteligência
Esse vigor jovial, essa graça, esse estado de alegria
Esse ardor apaixonado e com tamanha eloquência?

De que canteiro retiras lírios de afectos sempre em flor
Para cultivares as amizades que são o teu encantamento?
Mas ainda te sobra tempo para enamoramentos de amor
Querido “Charles do Charme” és o nosso contentamento !

E quando um nobre amigo nos ensina que a beleza do caminho
Está mais na caminhada iluminada de amigos com afecto e saber
Está mais na alegria de percorrer a estrada e nunca estar sozinho
Então, ergamos justa homenagem ao amigo que devemos enaltecer

Disse o Grande Poeta sevilhano,António Machado:  

Caminante no hay camino, el camino se hace al andar
Dizemos nós:

Parabéns e Obrigado Companheiro Mestre Caminhante!
Celebremos os belos noventa e um anos do nosso
Querido Amigo Carlos Villar, que é o “jovem há mais tempo”,
e entre todos, e da vida, o maior amante.
Contigo aprendemos que a maior beleza não está no caminho,
mas no caminhar!
                                              
Com o perfume delicioso das flores do jardim que foste plantando, invoco agora um poema filosófico deste modesto poeta teu amigo. Trata-se de um poema que declarei a meus amigos e família daqui, de Natal (Capital do Rio Grande do Norte-Nordeste-Brasil, tambem celebrada como a Capital do Sol, todo o ano), a minha nova filosofia de pensar no tempo que passa. É um poema que fiz questão de ler no meu aniversário anterior, celebrado a 14 de Novembro de 20011, aqui na nossa deliciosa residência, nosso refúgio cantinho do paraíso,  a que chamamos "Vila Verde" (por estar rodeada de muito verde de relva, plantas de flores, árvores de frutos, pássaros cantores a banharem-se na piscina, cães e gatos que amamos e nos amam e macaquinhos nas árvores de frutos tropicais.

Nessa minha efeméride, eu declarei, na leitura do meu poema que, dali para a frente, me recusava a esperar um ano de ambiciosa e pretenciosa certeza, naquilo em que não temos qualquer domínio que nos autorize a ousar esperar, sequer planear "O tempo e a Vida", comprada por atacado em pacotes de compra adiantada de 365 dias. A vida, concluí eu, a vida de cada dia, é bem o mais precioso que devemos celebrar humildemente,  porque a previsão de festa para um aniversário é pretensiosismo a mais. Não  nos consideramos os donos do mundo que  o celebrar aniversários, mas tão somente celebrarei nesse dia, os mesmos que passei a celebrar todos os dias, logo que desperto. Desde então, e agora, neste tempo que passa o que celebro já não só aniversários, mas a vida, em cada dia, cada momento, cada instante, orientado que estou por uma Nova Filosofia que criei e sobre a qual estou a escrever um Livro: Vejamos o poema, que agora tambem te dedico, e que, talvez, tambem queiras adoptar:

NÃO TENHO MAIS IDADE, TENHO VIDA!
 
Já não tenho idade, tenho VIDA !
Para viver o dia de hoje
O momento de agora
Como se fosse o primeiro
Como se fosse o último
Como se fosse o único
Como se ainda fosse cedo
Como se nunca fosse tarde
Para viver com optimismo
Conservar o equilíbrio instável
E o desequilíbrio das emoções
Fortalecer a minha esperança
Recompor minhas energias
Para cumprir a minha estrada
Ao encontro dos contentamentos
Deixar-me flutuar na espuma dos dias
Descobrir novos encantamentos
Partilhar os fugases momentos
Que nos reservem novas alegrias
E...

posto que não posso ser imortal 
Ouso dizer à idade: ...“estás vencida!”
Pela busca eterna da Juventude Filosofal
Pela poesia que procura o verso lustral
E...

porque eu já não tenho idade..TENHO VIDA.

                                                                                                                         Carlos Morais dos Santos

E para fechar esta homenagem ao meu Amigo Carlos Vilar, com "Chave de Ouro", te ofereço a seguir, uma magnífica interpretação  da "Ode  à Alegria" da genial 9ª. Sinfonia de Beethoven, cantada pelos cantores-autores espanhois de grande intervenção cívica contra a ditadura de Franco, que são os famosos cantores Juan Manoel Serrat (catalão), Miguel de los Rios (o criador desta versão cantada em castelhano), Ana Belem e Victor.  É uma raridade, os quatro cantores juntos nesta famosa versão da "Ode à Alegria", das mais belas sinfonias do genial Beethoven. Se conseguires, valia a pena gravar para um DVD para poderes "ouver" (neologismo de ouvir e ver) no teu leitor de DVD.  
É SÓ CLICAR NA SETA DA JANELA-CÓDIGO E "OUVER" DELICIADAMENTE UM CANTO À FRATERNIDADE ENTRE TODOS OS HOMENS E MULHERES DO MUNDO:
...E QUE LOS HOMBRES VOLVERAN A SER HERMANOS"... 

                                                                                                                

JOSÉ CRAVEIRINHA - HOMENAGEADO PELO MOVIMENTO LITERÁRIO KUPHALUXA EM MAPUTO-MOÇAMBIQUE

Interrompemos o estado de luto em que nos encontrávamos - prolongado também, por razões de saúde que nos afastaram do labor regular das nossas edições  - para publicarmos as notícias relativas à homenagem ao grande Poeta Maior de Moçambique, JOSÉ CRAVEIRINHA, que o Movimento Literário Kuphaluxa" de Moçambique, nossos amigos e parceiros, representados no nosso "Conselho Editorial" pelo jornalista e escritor Eduardo Quive, vão realizar em Maputo. 

Como José Craveirinha já estava em reserva de agendamentos de Tributos de Homenagem a serem publicados pelo nosso Blog-Revista, não só é com muito gosto que publicamos a "Nota de Impremsa" que gentilmente o amigo Mauro Brito do "M.L.Kuphaluxa" nos enviou, como é com muita honra e grande júbilo que antecipamos o nosso Tributo de Homenagem a esta grande figura da poesia lusófona de grande projeção internacional.

Aproveitando esta oportunidade, nos associamos a estes nossos parceiros e amigos do M.L.K. e, comungando da mesma grande e profunda admiração pelo Grande Poeta José Craveirinha, aqui lhe prestamos já, também, o "Tributo de Homenagem" do nosso Blog-Revista Culturas e Afetos Lusófonos, estimulando, assim, os nossos amigos leitores espalhados pelos 76 países onde somos lidos, a um conhecimento mais alargado e aprofundado da obra do Poeta Maior Moçambicano e um dos mais importantes da lusofonoa contemporânea, fornecendo alguns dados de informação sobre José Craveirinha e alguns poemas de sua obra, o que fazemos depois da Nota de Imprensa que se segue.  

NOTA DE IMPRENSA

O Movimento Literário Kuphaluxa realiza na próxima segunda-feira, dia 06 de Fevereiro, no Centro Cultural Brasil – Moçambique em Maputo, uma evento em Homenagem ao José Craveirinha, pela passagem dos nove anos do seu desaparecimento físico.
 
O evento, é organizado em parceria com a Família Craveirinha e pelo CCBM, sendo que ambos estarão presentes, numa cerimónia em que será exibido um vídeo de José Craveirinha em vida no bairro da Mafalala, recital dos seus pemas inéditos e ainda, momentos de reflexão do seu percurso poético e de convívio.
 
No painel em que se vai debater o Craveirinha poeta-mor, estarão presentes e darão os seus depoimentos os escritores: Calane da Silva, Ungulane Ba Ka Khosa, Juvenal Bucuane, Lília Momplé e Machado da Graça, para além do público em geral que poderá participar através das intervenções.

Ainda com este evento, o Movimento Literário Kuphaluxa, pretende lançar uma série de actividades que irá realizar com a família Craveirinha pelos 90 anos de idade, que completaria José Craveirinha se estivesse vivo, com o ponto mais alto das actividades, a registar-se no dia 28 de Maio deste ano, desta vez, numa cerimónia a ser realizada na cidade de Xai-xai, província de Gaza.


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José João Craveirinha, nasceu na então designada cidade de Lourenço Marques (hoje Maputo, Capital de Moçambique) a  28 de Maio de 1922, e  faleceu em Maputo, 6 de Fevereiro de 2003. É considerado o Poeta Maior de Moçambique. Em 1991, tornou-se o primeiro autor africano galardoado com o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa.

Como jornalista, colaborou nos periódicos moçambicanos O Brado Africano, Notícias, Tribuna, Notícias da Tarde, Voz de Moçambique, Notícias da Beira, Diário de Moçambique e Voz Africana.
Utilizou os seguintes pseudónimos: Mário Vieira, J.C., J. Cravo, José Cravo, Jesuíno Cravo e Abílio Cossa. Foi presidente da Associação Africana na década de 1950.
 

Esteve preso entre 1965 e 1969 por fazer parte de uma célula da 4.ª Região Político-Militar da Frelimo, maior partido político de Moçambique que, então, lutava pela independência de Moçambique do país colonizador - Portugal.
 

Primeiro Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação dos Escritores Moçambicanos, entre 1982 e 1987, José Craveirinha, dizia de si próprio, o seguinte:

"Nasci a primeira vez em 28 de Maio de 1922. Isto num domingo. Chamaram-me Sontinho, diminutivo de Sonto. Isto por parte da minha mãe, claro. Por parte do meu pai, fiquei José. Aonde? Na Av. Do Zihlahla, entre o Alto Maé e como quem vai para o Xipamanine. Bairros de quem? Bairros de pobres.
Nasci a segunda vez quando me fizeram descobrir que era mulato…
A seguir, fui nascendo à medida das circunstâncias impostas pelos outros.
Quando o meu pai foi de vez, tive outro pai: seu irmão.
E a partir de cada nascimento, eu tinha a felicidade de ver um problema a menos e um dilema a mais. Por isso, muito cedo, a terra natal em termos de Pátria e de opção. Quando a minha mãe foi de vez, outra mãe: Moçambique.
A opção por causa do meu pai branco e da minha mãe preta.
Nasci ainda outra vez no jornal O Brado Africano. No mesmo em que também nasceram Rui de Noronha e Noémia de Sousa.
Muito desporto marcou-me o corpo e o espírito. Esforço, competição, vitória e derrota, sacrifício até à exaustão. Temperado por tudo isso.
Talvez por causa do meu pai, mais agnóstico do que ateu. Talvez por causa do meu pai, encontrando no Amor a sublimação de tudo. Mesmo da Pátria. Ou antes: principalmente da Pátria. Por parte de minha mãe, só resignação.
Uma luta incessante comigo próprio. Autodidacta.
Minha grande aventura: ser pai. Depois, eu casado. Mas casado quando quis. E como quis.
Escrever poemas, o meu refúgio, o meu País também. Uma necessidade angustiosa e urgente de ser cidadão desse País, muitas vezes, altas horas a noite".


Prémios
•    Prémio Cidade de Lourenço Marques (1959)
•    Prémio Reinaldo Ferreira do Centro de Arte e Cultura da Beira (1961)
•    Prémio de Ensaio do Centro de Arte e Cultura da Beira (1961)
•    Prémio Alexandre Dáskalos da Casa dos Estudantes do Império, Lisboa, Portugal (1962)
•    Prémio Nacional de Poesia de Itália (1975)
•    Prémio Lotus da Associação de Escritores Afro-Asiáticos (1983)
•    Medalha Nachingwea do Governo de Moçambique (1985)
•    Medalha de Mérito da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, Brasil (1987)
•    Prémio Camões (1991)
Livros publicados
•    Xigubo. Lisboa, Casa dos Estudantes do Império, 1964. 2.ª ed. Maputo, Instituto Nacional do Livro e do Disco, 1980
•    Cantico a un dio di Catrame (bilingue português/italiano). Milão, Lerici, 1966 (trad. e prefácio Joyce Lussu)
•    Karingana ua karingana. Lourenço Marques, Académica, 1974. 2.ª ed., Maputo, Instituto Nacional do Livro e do Disco, 1982
•    Cela 1. Maputo, Instituto Nacional do Livro e do Disco, 1980
•    Maria. Lisboa, África Literatura Arte e Cultura, 1988
•    Izbranoe. Moscovo, Molodoya Gvardiya, 1984 (em língua russa)
.



 Alguns Poemas de José Craveirinha

BLASFÉMIA

No relicário que te acolhe
é-me angustioiso supor
o labor das areias
na madeira.

E meu pesadelo dos pesadelos
a iconoclasta muchém
no afã da sua lavra
orgiando-se voraz.

Blasfémia suprema
o festim.

O COVAL

Excêntrica
é a minha indignada
mesquinha forma de sofrer.

Lúcido
eu a desencher o mundo
tapando-me no mesmo coval.

MONOGRAMA

A sotavento da face
colar aquoso
se desfia

E em sua fímbria macia
meu lenço azul-escuro
discreto humedece
o monograma
Jota
Cê.

Colar
que se desfia
no próprio lapso.

GUMES DE NÉVOA

Lágrimas?

Ou apenas dois intoleráveis
ardentes gumes de névoa
acutilando-me cara abaixo?

O SACRÁRIO

A ausência do corpo.
Amor absoluto.

Hossanas de sol.
De chuva.
De brisa.
E de andorinhas
resvalando as asas
no ombro de uma nuvem.

Com uma hérbia mantilha
por cima velando
o teu sacrário.

SILEPSES

Ajustadas ao comprido as ripas
esfarelando-se devagarinho
por entre minuciosos
dedilhos de terra.

E em melancólicas silepses
conspícuas gralhas versejam
extemporâneas férias
da Maria

REMENDOS DE ESTRELAS

Remendos de estrelas
passajadas no espaço
reconstroem todo o céu.

Mãe:
E se não houvesse estrelas
se o teu ventre me não gerasse
e se o céu em vez de infinito
fosse de pergamóide azul?

Que espécie de poesia, mãe
faria um poeta que não renuncia
exatamente como eu
à cor com que nasceu?

PARA UM IDÍLIO CLANDESTINO

Deixa-me que te beije
ao de leve o rosto na manhã nova
e meus dedos acariciem
nervosos a curva meiga do teu seio.

Meu amor:
o senso fragmenta-me a sensibilidade
e o que seu sinto-o
larva plena do que há-de vir.

Tu e eu
envolvidos nesta aventura
esperamos o comprometido instante
nalguma parte de nós.

Vai. Não te esqueças.
Nesta manhã do Infulene
ao quilômetro dez da liberdade
o sobrenatural acontece:
É assim.
Eu preso.
E tu minha mulher
depois da visita partes à vontade
mas não livre.
(Julho de 1967)

CANÇÃO NEGREIRA

Amo-te
com as raízes de uma canção negreira
na madrugada dos meus olhos pardos.

E derrotas de fome
nas minhas mãos de bronze
florescem languidamente na velha
e nervosa cadência marinheira
do cais donde os meus avós negros
embarcaram para hemisférios da escravidão.

Mas se as madrugadas
das minhas órbitas violentadas
despertam as raízes do tempo antigo ...
mulher de olhos fadados de amor verde-claro
ventre sedoso de veludo
lábios de mampsincha madura
e soluções de espasmo latejando no quarto
enche de beijos as sirenas do meu sangue
que meninos das mesmas raízes
e das mesmas dolorosas madrugadas
esperam a sua vez.
* fruto comestível de planta rasteira.
 

Poemas extraídos de:  CRAVEIRINHA, José.  Obra Poética.  Maputo: Direcção de Cultura, Universidade Eduardo Mondlane, 2002.  367 p. 



De José Craveirinha
ANTOLOGIA POÉTICA
Org. Ana Mafalda Leite
Belo Horizonte: Editora ufmg, 2010.
198 p.  (Poetas de Moçambique) 
ISBN  978-85-7043-849-4