“A Cidade e as Serras” é uma obra póstuma de Eça de Queirós,
publicada em 1901, um ano após a morte do escritor português. Apesar de
o romance estar praticamente pronto, a versão final ainda não tinha
passado por todas as revisões que Eça costumava fazer. Em busca do
perfeccionismo estilístico, o autor revia inúmeras vezes o texto e fazia
alterações, até mesmo no desfecho da história.
“O romance não está totalmente referendado pelo autor. Não temos nem como saber se o final seria esse mesmo”, diz Helder Garmes,
doutor em Letras e professor da Universidade de São Paulo (USP). Eça
dedicava atenção especial ao desfecho de seus romances. O final vinha
sempre a reforçar uma tese trabalhada no livro ou relativizá-la. “Os
finais são de fato um espaço privilegiado para o autor. Este é um tanto
desautorizado”, afirma o professor.
Desenvolvimento
do conto “Civilização” (1892), o romance trata de um tema obsessivo
para o autor, a discussão do que é ou não civilização. Em “A Cidade e as
Serras”, a cidade é a capital francesa, Paris, e as serras são Tormes,
no interior de Portugal. “Eça critica o projeto civilizatório e a
falsidade da noção de que a civilização europeia seria superior ao resto
do mundo”, avalia Garmes, que coordena o projecto de pesquisa
“Perspectivas críticas da obra de Eça de Queirós” na USP.
No livro, a oposição entre campo
e cidade trabalha os temas barbárie e civilização. Mas Eça mostra que
tanto num espaço quanto no outro há exploração do trabalho, relações
desiguais e exploratórias.
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