Em artigo de opinião sob o título em epígrafe, António Abreu Freire escreve:
"A
cultura luso-brasileira continua ameaçada, mas tem condições e recursos
para se afirmar como uma das incubadoras de criatividade mais
eficientes e promissoras do mundo, enfrentando problemas que são os
maiores que hoje se colocam à imaginação dos cidadãos e podendo servir
de exemplo e de modelo a outras culturas.
Resolvendo os seus próprios problemas, os povos de língua portuguesa apresentam soluções para os problemas do mundo. Acabar com a iliteracia das massas, transformar as periferias urbanas em espaços habitáveis e socialmente equilibrados, criar condições para que os cidadãos possam encontrar nos seus espaços naturais de vida as condições da sua sobrevivência e da sua felicidade. Fazer com que os africanos não tenham mais razões para fugir de África, com que os portugueses não tenham mais necessidade de emigrar para outros países, que os brasileiros das grandes cidades não tenham mais medo da bala perdida, são desafios suficientes para projectos do novo milénio, à medida das virtudes daqueles que, em outros tempos, criaram o mundo de língua portuguesa, sem outros recursos que os da sua imaginação e uma invejável coragem.
Como
dizia Vieira, os portugueses sempre tiveram pouca terra para nascer e o
mundo inteiro para crescer e morrer. Mas depois que eles fizeram do
mundo inteiro o terreiro das suas paixões, as leivas dos seus arados e
espalharam por esse mundo os seus genes e a sua língua, o desafio dos
nossos dias consiste em fazer com que cada qual no seu espaço reconstrua
a sua vida, transformando as sociedades degradadas em sociedades
ordenadas e o mundo que é no mundo que há-de ser: um espaço onde todos
assumam a sua responsabilidade de contribuir para o bem comum e onde
cada qual, ao seu jeito e feitio, beneficie dos bens criados por todos
os demais.
É a isto que se chama cidadania. Como dizia o trapista da cabana de Brasília, o inimitável Agostinho da Silva: Se fizeres, és; se não fazes, serias. Então, a solução é simples: fazer."
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