Mário Vargas Llosa recebe elogio unânime pela atribuição do Prémio Nobel de Literatura. Assim o disse Javier Marias, escritor espanhol, ou o crítico literário do «Diário de Notícias» João Céu e Silva.
Em entrevista ao escritor Juan Cruz,
seu amigo e colaborador do jornal «El País», o peruano reconhece que
ele é que não estava à espera e durante catorze minutos achou que aquele
telefonema feito por alguém que dizia pertencer à Academia Sueca das
letras não passava de uma patranha.
«Há anos fizeram uma brincadeira destas ao italiano Alberto Moravia.
Foi uma coisa feia, que o apanhou desprevenido. Por isso, quando a
minha mulher Patricia me disse que era a secretária do Nobel fiquei na
defensiva», explica, lembrando que «nem sequer aparecia nas listas de
favoritos».
Llosa, aliás, nunca pensou
vencer: «Porque cheguei à conclusão que não tinha a identidade
necessária. Sou um escritor conflituoso, tenho posições incómodas»,
explica, revelando a sua surpresa pelo facto da Academia o ter elogiado
pela sua «cartografia das estruturas do poder»: «Essa nota expressa
muito bem o que eu penso».
A veia jornalística
O novo livro, «O Sonho do
Celta», será publicado em Novembro e revela o seu lado mais
jornalístico, pelas reportagens que efectuou em África e Médio Oriente.
Llosa, aliás, tem vindo a publicar várias reportagens no «El País» e na
revista «El País semanal» nos últimos anos e a obra reflecte essas
viagens, normalmente acompanhado da filha Morgana, que regista as fotos.
«O jornalismo deu-me a obrigação
de confirmar, de verificar, ensinou-me o importante que é a
perseverança. Se não tivesse essa disciplina não teria sido um escritor,
pois continuo a verificar, a corrigir, obsessivamente», referiu.
Llosa está em Nova Iorque,
leccionando como professor convidado na Universidade de Princeton. Está
incluído no departamento de estados Espanhóis e Portugueses, tal como o
português Luís Gonçalves. O colega nascido em
Moçambique diz que ainda não teve hipótese de estar com o Nobel, «porque
chegou há poucos dias», mas «oportunidades não faltarão».
A ligação de Vargas Llosa a
Princeton é antiga e é lá que estão muitos dos seus manuscritos
originias, dado que o seu espólio foi oferecido à biblioteca principal.
«Leccionou pela primeira vez aqui em 1992 e nunca deixou de ter uma
ligação especial», frisou Gonçalves.
Curioso é, também, o facto de ter tido uma experiência conjunta com o escritor português José Cardoso Pires, tendo leccionado na mesma altura no Kings College, em Londres. Nessa altura era também amigo de Gabriel Garcia Márquez e, juntos, desenvolveram laços que perduraram, como contou a escritora Inês Pedrosa,
acrescentado o tal picante desaguisado com Gabo: «Pouco depois
zangaram-se a sério. Durante muitos anos disse-se que era por razões
políticas, mas não, foi por questões de saias, porque todos eles eram
aficionados por mulheres».
A marca de «Conversa na Catedral»
«Conversa na Catedral é muito
original, mostrando a história do Peru, mas, para mim, "Tia Júlia e o
escrevedor" talvez seja a melhor forma de começar a ler Vargas Llosa»,
considera Inês Pedrosa. Já para Fernando Dacosta, não
há nada que suplante a «Conversa»: «Depois dessa obra, o Vargas Llosa
era um candidato merecidíssimo ao Nobel da literatura. É um fresco
notável sobre a vida na América Latina e no seu país».
Também o ex-Presidente português Mário Soares
sublinha essa obra, tal como «A Festa do Chibo». «É um grande escritor
sul-americano (...) realmente um autor de romances que nos marcaram a
todos nós», declarou à agência Lusa, acrescentando uma nota pessoal:
«Conheço-o muito bem. Encontrei-o várias vezes, em diversas
circunstâncias. Tenho por ele muita estima, respeito e admiração».
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