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MÚSICA DE FUNDO E AUDIÇÃO DE VÍDEOS E AUDIOS PUBLICADOS

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domingo, 10 de outubro de 2010

Vargas Llosa, Prémio Nobel de Literatura 2010 - As ligações do escritor-jornalista a Portugal

Mário Vargas Llosa recebe  elogio unânime pela atribuição do Prémio Nobel de Literatura. Assim o disse Javier Marias, escritor espanhol, ou o crítico literário do «Diário de Notícias» João Céu e Silva.

Em entrevista ao escritor Juan Cruz, seu amigo e colaborador do jornal «El País», o peruano reconhece que ele é que não estava à espera e durante catorze minutos achou que aquele telefonema feito por alguém que dizia pertencer à Academia Sueca das letras não passava de uma patranha.

«Há anos fizeram uma brincadeira destas ao italiano Alberto Moravia. Foi uma coisa feia, que o apanhou desprevenido. Por isso, quando a minha mulher Patricia me disse que era a secretária do Nobel fiquei na defensiva», explica, lembrando que «nem sequer aparecia nas listas de favoritos».

Llosa, aliás, nunca pensou vencer: «Porque cheguei à conclusão que não tinha a identidade necessária. Sou um escritor conflituoso, tenho posições incómodas», explica, revelando a sua surpresa pelo facto da Academia o ter elogiado pela sua «cartografia das estruturas do poder»: «Essa nota expressa muito bem o que eu penso».

A veia jornalística

O novo livro, «O Sonho do Celta», será publicado em Novembro e revela o seu lado mais jornalístico, pelas reportagens que efectuou em África e Médio Oriente. Llosa, aliás, tem vindo a publicar várias reportagens no «El País» e na revista «El País semanal» nos últimos anos e a obra reflecte essas viagens, normalmente acompanhado da filha Morgana, que regista as fotos.

«O jornalismo deu-me a obrigação de confirmar, de verificar, ensinou-me o importante que é a perseverança. Se não tivesse essa disciplina não teria sido um escritor, pois continuo a verificar, a corrigir, obsessivamente», referiu.

Llosa está em Nova Iorque, leccionando como professor convidado na Universidade de Princeton. Está incluído no departamento de estados Espanhóis e Portugueses, tal como o português Luís Gonçalves. O colega nascido em Moçambique diz que ainda não teve hipótese de estar com o Nobel, «porque chegou há poucos dias», mas «oportunidades não faltarão».

A ligação de Vargas Llosa a Princeton é antiga e é lá que estão muitos dos seus manuscritos originias, dado que o seu espólio foi oferecido à biblioteca principal. «Leccionou pela primeira vez aqui em 1992 e nunca deixou de ter uma ligação especial», frisou Gonçalves.

Curioso é, também, o facto de ter tido uma experiência conjunta com o escritor português José Cardoso Pires, tendo leccionado na mesma altura no Kings College, em Londres. Nessa altura era também amigo de Gabriel Garcia Márquez e, juntos, desenvolveram laços que perduraram, como contou a escritora Inês Pedrosa, acrescentado o tal picante desaguisado com Gabo: «Pouco depois zangaram-se a sério. Durante muitos anos disse-se que era por razões políticas, mas não, foi por questões de saias, porque todos eles eram aficionados por mulheres».

A marca de «Conversa na Catedral»

«Conversa na Catedral é muito original, mostrando a história do Peru, mas, para mim, "Tia Júlia e o escrevedor" talvez seja a melhor forma de começar a ler Vargas Llosa», considera Inês Pedrosa. Já para Fernando Dacosta, não há nada que suplante a «Conversa»: «Depois dessa obra, o Vargas Llosa era um candidato merecidíssimo ao Nobel da literatura. É um fresco notável sobre a vida na América Latina e no seu país».

Também o ex-Presidente português Mário Soares sublinha essa obra, tal como «A Festa do Chibo». «É um grande escritor sul-americano (...) realmente um autor de romances que nos marcaram a todos nós», declarou à agência Lusa, acrescentando uma nota pessoal: «Conheço-o muito bem. Encontrei-o várias vezes, em diversas circunstâncias. Tenho por ele muita estima, respeito e admiração».

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