"Conto em detalhes o que aconteceu com Dom Pedro depois de ele abdicar do trono brasileiro. Geralmente, os brasileiros acham que ele evaporou no ar, sumiu. E não, ele voltou para Portugal para enfrentar o irmão numa guerra épica entre liberais e absolutistas.
Venceu
essa guerra, mesmo tendo tudo contra ele – desembarcou na cidade do
Porto com 7 mil soldados, e o irmão tinha 80 mil. E virou o jogo,
ganhou a guerra, se revelou um general carismático, brilhante, que
passava as noites nas trincheiras ao lado dos soldados. Morreu em
seguida, porque a guerra contra o irmão destruiu a saúde dele.
A autópsia revelou um corpo destruído: tuberculose, sífilis, o coração e o baço inchados, o pulmão sem funcionar. Se você compara as iconografias, o Dom Pedro IV de Portugal não tem nada a ver com o Dom Pedro I do Brasil. Aqui é um rapaz quase imberbe, muito jovem, um príncipe de 23 anos que faz a independência. Lá, não, é um rei envelhecido, com olheiras, a barba comprida. É como se o Dom Pedro de Portugal fosse o pai ou o avô dele. Até na iconografia esses dois países não se reconhecem no mesmo personagem.
Ele
passou a vida dividido entre os negócios de Portugal e do Brasil,
tentando equilibrar esses dois pratos. E depois da morte continua
dividido: o coração está guardado na cidade do Porto e os restos
mortais, no Ipiranga.
É um
personagem que passa para a história de uma forma muito pejorativa,
como se fosse apenas um mulherengo, boémio, inconsequente. Ele era,
sim, mas não era só isso. É um grande transformador da realidade de
Brasil e de Portugal naquele momento, um chefe liberal. Outorgou ao
Brasil em 1824 uma das Constituições mais liberais do mundo na época –
mas ele outorgou, não deixou a Constituinte fazer. É um homem de índole
autoritária e discurso liberal. Admirador de Napoleão, que tinha feito
o pai dele fugir de Portugal, foi parente duas vezes de Napoleão, nos
dois casamentos."
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