O nome de Ignácio Parreiras Neves aparece pela primeira vez numa relação de membros da Irmandade de São José dos Homens Pardos, em Vila Rica, onde consta o seu ingresso em 16/4/1752. A partir de 1760, a sua atuação se deu como regente nas “Festas Oficiais do Senado da Câmara” e nas Irmandades de Nsa. Sra. das Mercês dos Perdões, entre 1776 e 1782, e na de São José.
Em quase todos as documentos onde seu nome está mencionado, I.P. Neves aparece como tenor ao lado de Francisco Gomes da Rocha (contralto) e Florêncio José Ferreira Coutinho
(baixo). Este conjunto foi ativo durante mais de 15 anos, em Vila Rica,
onde os coros para as solenidades cotidianas eram formados apenas pelas
quatro vozes solistas, sendo que a voz de soprano era normalmente
cantada por um tiple, ou seja, um menino cantor, que era substituído
sempre que mudava de voz.
Da obra de Ignácio Parreiras Neves
pouco restou. Há uma referência a uma composição fúnebre pela morte de
D. José I, regida pelo compositor na ocasião, em 1787, que teria sido
concebida para 4 coros, 4 baixos (violoncelos e contrabaixos?), 2
fagotes e 2 cravos. Esta composição encontra-se perdida. Restaram-nos
apenas três exemplos de sua produção que são os seguintes:
• Antífona de Nsa. Senhora: Salve Regina, sem data, para 4 vozes, violinos I e II, Trompas I e II, e Baixo instrumental.
• Credo, para 4 vozes, Violinos I e II, Viola, Trompas I e II, e Baixo instrumental, também sem data.
• Oratória ao Menino Deus Para a Noite de Natal, s. d., para vozes solistas (Soprano I, Soprano II e Baixo), Coro a 4 vozes, Violinos I e II, e Baixo instrumental.
• Credo, para 4 vozes, Violinos I e II, Viola, Trompas I e II, e Baixo instrumental, também sem data.
• Oratória ao Menino Deus Para a Noite de Natal, s. d., para vozes solistas (Soprano I, Soprano II e Baixo), Coro a 4 vozes, Violinos I e II, e Baixo instrumental.
Da última
peça restam apenas fragmentos, dos quais foi possível a reconstituição
somente dos coros de abertura e de conclusão da obra, pois embora
existam indicações musicais suficientes para a reconstrução da obra na
sua íntegra, o texto encontra-se muito incompleto tratando-se de um
auto de natal anônimo desconhecido em língua vernácula.
Portanto,
as duas obras apresentadas nesta gravação são os dois únicos exemplos
completos de sua produção. O Credo foi reconstituido por Francisco Curt
Lange e a Antífona da Nsa. Sra. foi publicada pela coleção “Música
Sacra Mineira”, do INM/FUNARTE.
Francisco Gomes da Rocha
nasceu em Vila Rica, provavelmente em 1754. A partir de 1766, atuou nas
lrmandades da Boa Morte, na Matriz de Nsa. Sra. da Conceição de Antônio
Dias e na de S. José dos Homens Pardos. Em todas elas ocupou cargos
importantes como o de escrivão e tesoureiro. Apresentou-se como regente
e contralto em inúmeras festividades, durante quase toda a segunda
metade do século XVIII. Foi também timbaleiro da tropa de linha,
conforme o recenseamento de 1804, no qual consta que o compositor teria
a idade de 50 anos.
Amigo de José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita,
foi por ele designado para cobrar seus haveres ganhos na Ordem 3ª do
Carmo, quando o compositor se mudou para o Rio de Janeiro. Vários
manuscritos de Lobo de Mesquita que chegaram até os nossos dias estão
com a assinatura de propriedade de Francisco Gomes da Rocha. Como no
caso de Parreiras Neves, a produção de Gomes da Rocha que chegou até os
nossos dias é bastante reduzida. Apenas três obras completas
sobreviveram aos tempos. São elas:
• Invitatório a 4, s. d., para 4 vozes, Violinos I e II, Trompa I e II, e Baixo instrumental.
• Novena de Nsa. Sra. do Pilar, em 1789, para 4 vozes, Violinos I ell, Viola, Trompas I e II, e Baixo instrumental.
• Spiritus Domini a 8, 1795, para 2 coros a 4 vozes, Violinos I e II, Viola, Trompas I e II, e Baixo instrumental.
• Novena de Nsa. Sra. do Pilar, em 1789, para 4 vozes, Violinos I ell, Viola, Trompas I e II, e Baixo instrumental.
• Spiritus Domini a 8, 1795, para 2 coros a 4 vozes, Violinos I e II, Viola, Trompas I e II, e Baixo instrumental.
A
obra apresentada nesta gravação é a sua composição mais elaborada. O
Spiritus Domini a 8 é, na verdade, o primeiro responsório das “Matinas
do Espírito Santo”, para o dia de Pentecostes. Nesta obra podemos
observar que o compositor desenvolveu um estilo bastante refinado
dentro do gosto da época. A orquestração é brilhante e mantém-se
relativamente independente das vozes, o que representa um avanço
estilístico em relação às obras de Parreiras Neves. Francisco Gomes da
Rocha faleceu em 1808. A transcrição dos manuscritos utilizados na
presente gravação foi realizada por Francisco Curt Lange.
O Pe. José Maurício Nunes Garcia
(1765-1830) foi o mais importante compositor brasileiro do período
colonial. Toda a sua trajetória como músico e compositor deu-se no Rio
de Janeiro, onde nasceu. Sua obra, certamente influenciada pelos
compositores mineiros que o antecederam, constitui-se no maior acervo
de música religiosa do período no Brasil, apesar de uma grande
quantidade de manuscritos terem desaparecido.
Quando
da chegada da Corte Portuguesa ao Rio, em 1808, o Pe. José Maurício ja
era um compositor estabelecido com uma considerável produção, inclusive
não religiosa. A partir de 1808, o seu trabalho sofre uma mudança
estilística tornando-se mais operístico, conforme era o gosto da capela
real portuguesa.
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