
Cientistas sociais propõem reflexão sobre a obra do pensador brasileiro Gilberto Freyre no
 Colóquio ‘Identidades, Hibridismos e Tropicalismos leituras 
pós-coloniais’, a decorrer na Universidade Lusófona, em Lisboa 
organizado pelo Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), a 
Universidade Lusófona e a Fundação Gilberto Freyre. 
Gilberto Freyre foi um cientista
 social brasileiro que nasceu em 1900 e faleceu 1987. Foi um cientista 
social que se dedicou tanto à história, à sociologia, antropologia. Ele 
próprio definia-se sobretudo como um escritor, embora fizesse ciência 
social. É autor de uma das obras mais emblemáticas sobre a história do 
Brasil, a ‘Casa Grande & Senzala’, que foi publicada em 1933. 
Em Portugal é sobretudo 
conhecido devido à sua doutrina do luso-tropicalismo, que em traços 
gerais preconizava que os portugueses tinham uma especial capacidade 
para se relacionarem com os trópicos através da miscigenação, tanto 
biológica como cultural. O Estado Novo português apropriou-se no 
contexto do pós II Guerra Mundial das ideias chave do pensamento de 
Freyre, um pouco para justificar a permanência de Portugal nas colónias 
depois do avanço dos movimentos anti-coloniais», explica Cláudia Castelo, investigadora do IICT e membro da Comissão Científica Organizadora do Colóquio.
Um pensador que introduziu 
conceitos como o hibridismo na construção da identidade nacional do 
Brasil e rompeu com o paradigma do racismo científico. 
«Gilberto Freyre valoriza muito a
 questão da mestiçagem ou do hibridismo, tanto na sua componente 
biológica, a constituição dos mestiços, como também na componente 
cultural. E por essa via ele combatia qualquer ideologia racista», 
explica Cláudia Castelo. 
A investigadora do IICT 
acrescenta que «embora ele em ‘Casa Grande & Senzala’ tenha 
destacado o contributo não só dos portugueses mas também dos negros, dos
 escravos negros e dos ameríndios para a formação do Brasil. Isso era 
inovador na época, a importância que ele deu ao contributo dos negros e 
dos ameríndios, uma vez que a obra foi publicada em 1933, que é o ano da
 ascensão de Hitler ao poder e toda a ideologia nazista e racista. Por 
isso ele foi, de certa forma, também um pioneiro na forma como valorizou
 contributos que não só os dos europeus, o dos portugueses, para a 
formação do Brasil». 
Inovador e controverso, as obras
 de Gilberto Freyre chegaram mesmo a ser banidas das universidades 
brasileiras. «De certa forma o facto de ele ter vindo a Portugal e ter 
visitado as colónias portuguesas a convite do Ministra do Ultramar, 
Sarmento Rodrigues, em 1951 e 1952, fez com que o conotassem com o 
salazarismo. E depois no Brasil, mais tarde, o facto de ele se ter 
ligado à ditadura militar a partir de 1964 foi mau visto por diversos 
quadrantes da sociedade brasileira e, nomeadamente, por sociólogos da 
Escola de São Paulo», explica. 
Precursor de novas metodologias 
nas ciências sociais, Gilberto Freyre é lembrado por uma vasta obra e 
por isso difícil de caracterizar. «Ele tem um pensamento muito vasto. 
Ele escreveu sobre não só o Brasil e a formação do Brasil, mas também 
sobre muitos outros tópicos. Sobre a questão da rur-urbanização, a 
ligação entre o espaço rural e o espaço urbano, escreveu sobre a 
importância do açúcar na formação do Brasil, vamos ter uma comunicação 
especificamente sobre a obra dele Açúcar, que é uma obra até com algumas
 receitas de culinária. É um pensador muito diversificado e é difícil 
estar a apontar uma característica em particular».
A obra de Gilberto Freyre junta 
em Lisboa, diversos investigadores que durante dois dias vão refletir 
sobre a contemporaneidade do pensador brasileiro, tendo presente linhas 
mestras como identidades, hibridismo, racismo ou tropicalismos.


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