José Paulo Cavalcanti Filho tinha um objetivo quando iniciou a sua biografia de Fernando Pessoa
(1888-1935): descobrir quem era o "homem real" por trás do grande poeta
português. Após oito anos de pesquisa, o autor e advogado pernambucano
acabou deparando-se não com um, mas com 127 "Pessoas".
É esse o número de heterónimos
do poeta catalogado pelo livro "Fernando Pessoa: Uma (quase)
Autobiografia", que Cavalcanti lançou agora pela editora Record. As
múltiplas personas de Pessoa vão muito além de Alberto Caeiro, Ricardo
Reis e Álvaro de Campos, e superam também o que pensavam os
especialistas.
Cavalcanti cita no livro que, no
início dos anos 1990, eram conhecidos 72 heterónimos de Pessoa. O livro
acrescentou 55. O conceito de heterónimo que adotou é amplo e não se
restringe à definição padrão: "nome imaginário que um criador identifica
como o autor de suas obras e que apresenta tendências diferentes das
desse criador".
Inclui todos os nomes, tendo
estilo próprio ou não, com os quais o poeta assinou seus textos. A
decisão pode ser contestada, mas a intenção de Cavalcanti nunca foi
fazer uma biografia convencional.
As excentricidades já começam
pelo subtítulo: "Uma (quase) Autobiografia". O autor refere-se ao
trabalho como o "livro que escrevi com meu amigo Pessoa". A "amizade" é
das mais antigas. Começou em 1966, quando Cavalcanti leu "Tabacaria", um
dos principais poemas do autor.
A partir daí, viria a montar
umas das principais coleções sobre vida e obra de Pessoa. O poeta deixou
mais de 30 mil páginas com anotações sobre si mesmo, literatura,
família e factos quotidianos.
Cavalcanti usou tantos trechos
que chega a dizer que seu livro tem "mais frases de Pessoa do que
minhas". "Mas não se trata", explica, "de Pessoa falando sobre si, é a
palavra de Pessoa falando sobre ele. Ou melhor: é o que quero dizer, mas
por palavras dele".
Cavalcanti foi ainda além: para
dar unidade estilística ao texto, tentou escrever como Pessoa. Reduziu
os adjetivos e adotou outro hábito dele: o uso, em média, de três
vírgulas antes de um ponto final.
No prefácio do livro, Cavalcanti
também colocou uma data futura: 13/6/2011. Dupla homenagem, já que
Pessoa nasceu nesse dia, em 1888.
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