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MÚSICA DE FUNDO E AUDIÇÃO DE VÍDEOS E AUDIOS PUBLICADOS

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sábado, 23 de abril de 2011

"Boa ventura" - Livro relata epopeia da corrida ao ouro em Minas Gerais A cobiça que forjou um país, sustentou Portugal e inflamou o mundo

A cobiça que forjou um país, sustentou Portugal e inflamou o mundo
 
 
"Em meados do século XVIII, Minas Gerais não era apenas a mais urbana das capitanias, mas também a mais populosa. Vivia lá uma parte substancial dos 600 mil portugueses que haviam migrado para o Brasil no vácuo da corrida do ouro. Com a melhora nas condições de vida da região, muitos desses portugueses tinham trazido mulher e filhos. Junto com baianos, paulistas, fluminenses, pernambucanos e africanos, construíram uma sociedade — uma sociedade diversa das que existiam na colónia (...) 

Diferentemente do que acontecia em centros tradicionais como São Paulo, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, a população de Minas contava com uma forte presença de homens livres, e o nível de mobilidade social era coisa rara no mundo ocidental. Com inúmeras oportunidades girando em torno da mineração, o maltrapilho de ontem podia ser o potentado de amanhã.

Havia sempre muito trabalho e, por vezes, boa remuneração para profissionais tidos como marginais em outras praças (carpinteiros, ferreiros, tecelões, ourives, boticários, tropeiros, taberneiros, estalajadeiros etc.). Até os escravos, sobretudo as escravas, tinham chance de ascender socialmente.

Em 1733, o governador de Minas Gerais baixou um decreto em que proibia “mulheres desonestas” [mestiças e negras amantes de homens brancos] de frequentar a igreja com “vestidos ricos e pomposos” e de transitar pelas ruas do Tejuco em suas cadeirinhas carregadas por escravos, gestos, segundo o conde de Galveias, “alheios e impróprios de sua condição”.

Perda de tempo. As mancebas de cor permaneceram no topo das preferências dos varões das Minas — que o diga João Fernandes de Oliveira, contratador dos diamantes no Tejuco e filho de uma das famílias mais ricas e poderosas de Portugal. Depois de comprar por 800 mil-réis a parda analfabeta Chica da Silva, em 1743, João Fernandes a alforriou e fez dela sua concubina, com direito a sobrado na rua da Ópera, roupas finas, joias e um plantel de 104 escravos. Viveram juntos durante dezessete anos e tiveram treze filhos. Em Minas, como Chica houve muitas.

As combinações possíveis na sociedade mineira eram caleidoscópicas. Mineradores, fazendeiros e comerciantes xucros formavam proles de homens refinados. Em vez de criarem seus filhos para os ofícios que os tinham enriquecido, eles mandavam seus herdeiros para a Universidade de Coimbra, uma das melhores instituições da Europa, para estudar direito, teologia, medicina ou matemática. Entre 1750 e 1758, a maioria dos luso-brasileiros matriculados em Coimbra era de Minas Gerais."

In Boa ventura! – A corrida do ouro no Brasil (1697-1810)  de Lucas Figueiredo :

:Editora Record, 2011, 368 páginas

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