Com a devida vénia, transcrevemos alguns trechos de um artigo de Fernanda Trindade Luciani, doutoranda em História Social pela Universidade de São Paulo, publicado na Brasiliana USP:
"Apenas no século XIX os dois manuscritos quinhentistas de Gabriel Soares de Sousa, Roteiro Geral com largas informações de toda a Costa do Brasil e Memorial e Declaração das Grandezas da Bahia de Todos os Santos, de sua fertilidade e das notáveis partes que tem, foram reunidos e publicados sob sua autoria.
"Apenas no século XIX os dois manuscritos quinhentistas de Gabriel Soares de Sousa, Roteiro Geral com largas informações de toda a Costa do Brasil e Memorial e Declaração das Grandezas da Bahia de Todos os Santos, de sua fertilidade e das notáveis partes que tem, foram reunidos e publicados sob sua autoria.
Foi o historiador brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagen
(1816-1878) quem organizou essa primeira edição da obra, em 1851, a
partir do cotejamento de cópias dos manuscritos encontradas em arquivos
europeus, uma vez que os textos originais não são conhecidos, e
atribuiu a autoria a Soares.
Uma
segunda edição, também disponível aqui, foi organizada pelo
historiador, sendo publicada em 1879, logo após sua morte. Ainda que
tenham permanecidos inéditos e anónimos ou apócrifos por mais de dois
séculos, os escritos de Gabriel Soares eram bastante conhecidos desde o
século XVI por meio de cópias que circulavam não somente na Península
Ibérica, mas em outros países europeus, aparecendo citados por
renomados autores.
Fixando moradia ao sul
do Recôncavo Baiano, tornou-se um dos homens principais da capitania,
proprietário de terras, casas na cidade, bois e escravos, chegando a
ocupar o cargo de vereador da Câmara da Bahia. Em meados da década de
1580, tendo herdado alguns mapas e pedras preciosas de seu irmão que
falecera no Brasil, Soares deixava as terras americanas rumo a Espanha
com a intenção de solicitar ao rei Filipe II (I de Portugal) apoio a
sua empreitada de exploração das terras coloniais para além do Rio São
Francisco, em busca de riquezas minerais.
Pode
dizer-se que o princípio organizacional do texto é demonstrar em
carácter promocional – no que devemos considerar as prováveis
hipérboles das descrições de Soares – quão proveitoso seria ao rei
incentivar a exploração daquelas terras e, assim, lhe conceder as
mercês requeridas para sua expedição pelo sertão.
Dessa
forma, seus escritos inserem-se num tipo de literatura produzida pelos
descobrimentos que tinham o rei como destinatário final; seus autores
os escreviam com o objectivo de obter privilégios reais e a Coroa se
valia desses relatos, que, junto às correspondências coloniais, a
aparelhavam para uma administração mais eficiente de suas distantes
possessões ultramarinas.
Se, por um
lado, essas minudenciadas descrições do Novo Mundo despertaram
interesse dos contemporâneos, como viajantes, religiosos e homens que
viviam na colónia ou exploravam as terras americanas; por outro,
considerando a escassa produção documental do início da colonização
portuguesa, elas tornam o Tratado Descritivo do Brasil em 1587 um dos
mais importantes documentos para os interessados e especialistas no
período colonial.
Sua descrição
permanece sendo a melhor fonte de formação sobre a Bahia do século XVI
e vem sendo amplamente utilizada pela historiografia desde o século
XIX, além de servir a diferentes campos de pesquisa como a antropologia
e a botânica."
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