TRIBUTO DE HOMENAGEM
AO POETA MOÇAMBICANO JOSÉ CRAVEIRINHA
Mais uma vez Eduardo Quive, trás um artigo sobre o Poeta-mor, o
maior da literatura Moçambicana e operário da Poesia, José Craveirinha.
Homem que fez a sua literatura de Combate e primeiro negro a receber o
prémio Camões.
O nossa Revista C&AL tem a maior honra e o privilégio de acolher este artigo de Eduardo Quive e associar-se à homenagem integrando esta postagem na galeria dos nossos TRIBUTOS DE HOMENAGEM às grandes figuras da cultura lusófona
O nossa Revista C&AL tem a maior honra e o privilégio de acolher este artigo de Eduardo Quive e associar-se à homenagem integrando esta postagem na galeria dos nossos TRIBUTOS DE HOMENAGEM às grandes figuras da cultura lusófona
Por Eduardo Quive (*)
A Associação dos Escritores Moçambicanos
(AEMO) reservou a noite da sexta-feira, dia 19 de Fevereirode para uma conversa sobre o
poeta-mor, até então, o maior da poesia em Moçambique e o primeiro autor africano
galardoado com o prémio Camões em 1991.
José
Craveirinha, Mário Vieira, J.C., J. Cravo, José Cravo, Jesuíno Cravo ou Abílio
Cossa, seja como for, o poeta da luta, nasceu várias vezes como o diz na sua
autobiografia.
“Nasci a
primeira vez em 28 de Maio de 1922. Isto num domingo. Chamaram-me Sontinho,
diminutivo de Sonto. Isto por parte da minha mãe, claro. Por parte do meu pai,
fiquei José. Aonde? Na Av. Do Zihlahla, entre o Alto Maé e como quem vai para o
Xipamanine. Bairros de quem? Bairros de pobres.
Nasci a segunda
vez quando me fizeram descobrir que era mulato…
A seguir, fui
nascendo à medida das circunstâncias impostas pelos outros.
Quando o meu pai
foi de vez, tive outro pai: seu irmão. E a partir de cada nascimento, eu tinha
a felicidade de ver um problema a menos e um dilema a mais. Por isso, muito
cedo, a terra natal em termos de Pátria e de opção. Quando a minha mãe foi de
vez, outra mãe: Moçambique. A opção por causa do meu pai branco e da minha mãe
preta.
Nasci ainda
outra vez no jornal O Brado Africano. No mesmo em que também nasceram Rui de
Noronha e Noémia de Sousa.
Muito desporto
marcou-me o corpo e o espírito. Esforço, competição, vitória e derrota,
sacrifício até à exaustão. Temperado por tudo isso.
Talvez por causa
do meu pai, mais agnóstico do que ateu. Talvez por causa do meu pai,
encontrando no Amor a sublimação de tudo. Mesmo da Pátria. Ou antes:
principalmente da Pátria. Por parte de minha mãe, só resignação. Uma luta
incessante comigo próprio. Autodidacta. Minha grande aventura: ser pai. Depois,
eu casado. Mas casado quando quis. E como quis.
Escrever poemas,
o meu refúgio, o meu País também. Uma necessidade angustiosa e urgente de ser
cidadão desse País, muitas vezes, altas horas a noite.”
Para falar do
poeta, Gilberto Matusse, não poupou palavras e argumentos, tendo o considerado,
um homem que nunca se sentia satisfeito com o seu próprio trabalho, sempre
acreditou que podia ser melhor.
A sua poesia
objectiva, marca a diferença e a controversa do Craveirinha, quebrando todas as
regras, onde, geralmente, a poesia é conhecida como a seguidora da
subjectividade, sendo objectiva a narrativa.
Outros poetas,
até chegaram a falar do Amim Nordine (Poeta, declamador e um dos maiores
jornalistas culturais de Moçambique nos últimos tempos, falecido no dia cinco
de Fevereiro do corrente ano e enterrado no mesmo dia no cemitério de
Lhanguene, sem que o país soubesse do acontecimento), outro homem que se dizia
operário da poesia.
Foi dito ainda
naquela noite, que as pessoas que sentem a liberdade têm as palavras, exemplo
de Amim Nordine e José Craveirinha.
O evento contou
ainda com a presença dos familiares do poeta, Casa Museu Craveirinha, entre
outros artistas.
Livros publicados
Em termos
bibliográficos, o escritor fora um dos escritores moçambicanos, com mais livros
lançados, completando seis edições muitas vezes reeditadas, como o caso do Nkaringana wa Nkaringana (era uma vez), Xigubo (batuque) e Maria, para além de ter tido as suas obras traduzidas para várias
línguas extrangeiras como Francês, Italiano e Russo, nestas duas últimas
línguas, lançou Cantico a un dio di Catrame e Izbranoe.
Portanto, falar de Craveirinha, é falar de
um negro “mulato” que tinha muita expressão na literatura internacional, e um
ícone da literatura em Moçambique e no continente negro. Homem que inspira a
juventude actual e com certeza, com a imortalização do seu legado, muitas
gerações vão se espelhar neste operário da poesia, "analfabeto" e autodidacta.
Prémios arrecadados
Quanto a isso, se pode dizer que José Craveirinha
foi um literata com mérito reconhecido e exibidamente explícito na sociedade.
Primeiro venceu
o Prémio Cidade de Lourenço Marques em 1959, de seguida mereceu o Prémio
Reinaldo Ferreira do Centro de Arte e Cultura da Beira em 1961, buscou o Prémio
de Ensaio do Centro de Arte e Cultura da Beira 1961, seguiu com o Prémio
Alexandre Dáskalos da Casa dos Estudantes do Império, Lisboa, Portugal no ano
seguinte, Prémio Nacional de Poesia de Itália em 1975, Prémio Lotus da
Associação de Escritores Afro-Asiáticos em 1983, Medalha Nachingwea do Governo
de Moçambique em 1985, Medalha de Mérito da Secretaria de Estado da Cultura de
São Paulo, Brasil em 1987 e Prémio Camões em 1991.
Craveirinha, foi
portanto, um colecionador de títulos e símbolos com niguém ainda, na estória da
arte de leitura e escrita em Moçambique, posicionado entre os melhores de
sempre em África, para além de ter ganho, igualmente, o destaque de ser o
melhor da última década, mesmo ter morrido nos seus princípios, isto é a seis
de Fevereiro de 2003.
Craveirinha de
Mafalala
Tal como muitos
heróis e homens de grande prestígio na história moçambicana, José Craveirinha,
era pobre, e sobrevivente da “Babilónia”, nome que se dá a zonas pobres.
Neste bairro
mítico, nasceu e viveu para além de Craveirinha, expoente máximo da poesia
Moçambicana. Neste bairro nasceu e aprendeu a jogar futebol, Eusébio da Silva
Ferreira, exímio ponta de lança que actuou no Benfica de Portugal bem como na
selecção de Portugal. Samora Machel, Joaquim Chissano e Pascoal Mucumbi,
Ex-presidentes e primeiro-ministro de Moçambique, respectivamente, viveram
algum tempo neste Bairro mítico dos arredores da cidade de Maputo.
Breve biografia
Craveirinha (Lourenço Marques, 28 de Maio de 1922 — Maputo, 6 de Fevereiro de 2003) é considerado o poeta maior de Moçambique. Em 1991, tornou-se o primeiro autor africano galardoado com o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa.
Como jornalista,
colaborou nos periódicos moçambicanos O Brado Africano, Notícias, Tribuna,
Notícias da Tarde, Voz de Moçambique, Notícias da Beira, Diário de Moçambique e
Voz Africana.
Utilizou os
seguintes pseudónimos: Mário Vieira, J.C., J. Cravo, José Cravo, Jesuíno Cravo
e Abílio Cossa. Foi presidente da Associação Africana na década de 1950.
Esteve preso
entre 1965 e 1969 por fazer parte de uma célula da 4.ª Região Político-Militar
da Frelimo.
Primeiro
Presidente da Mesa da Assembleia-geral da Associação dos Escritores
Moçambicanos, entre 1982 e 1987.
Craveirinha, era
homenageado no âmbito da data da sua morte, que se assinalou, no pretérito seis
de Fevereiro.
(*) Eduardo Quive é jornalista e escritor, membro
do Movimento Literário Kuphaluxa, de Moçambique, entidade cultural nossa perceira, representante junto do nosso Blog-Revista C&AL e membro do nosso Conselho Editorial/redatorial
Movimento Literário Kuphaluxa
Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique, nº 1728, Caixa Postal nº 1167. Maputo
Celulares:+258 82 27 17 645 e +258 82 71 79 349
Email: kuphaluxa@gmail.com
Internet: kuphaluxa.blogspot.com e revistaliteratas.blogspot.com
Venho pelo Domenico, desculpe a intromissão.
ResponderExcluirQue belo trabalho tem aqui.
Extraordinária coincidência...ando a divulgar este poeta aos meus alunos.
bj
Querida Ana,
ResponderExcluirPrifiro nao lhe chamar de intrometida, pois isto confirma a sua simpatia.
Fico grato por ter lido o meu artigo e ter gostado. Fico feliz ainda por saber que divulga o mestre Craveirinha.