O projecto vai permitir que os contratos onlione tenham validade jurídica
Se um cibernauta português fizer
compras num site brasileiro e for enganado, a que autoridade deverá
recorrer para o ajudar? Nenhuma. Enquanto não sair do papel o acordo
assinado entre Portugal e Brasil para que os certificados digitais
tenham valor jurídico, comprar arte baiana pela internet será sempre uma
aventura.
E o mesmo se passa na situação
inversa, caso um nordestino se lembre de comprar queijo de cabra da
Serra da Estrela numa loja online portuguesa. Nem a DECO nem o homólogo
brasileiro ProCom têm jurisdição fora do país.
Este é um dos problemas que
poderá ser resolvido no âmbito do Mercosul Digital, um projecto de 9,6
milhões de euros financiado a 80% pela União Europeia .
A ideia é abrir uma espécie de
"espaço Schengen" do comércio electrónico entre os países do Mercosul
(Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e os países da União Europeia,
promovendo trocas seguras e com certificação digital. Além do
investimento em infra-estruturas como banda larga e governo electrónico,
o Mercosul Digital inclui a homogeneização jurídica dos contratos de
compra e venda na internet.
E o primeiro
projecto-piloto deverá ser exactamente entre Portugal e Brasil, os
primeiros países a assinarem um acordo que só necessita agora de
transposição técnica.
"Na hora que a gente compra dentro do país, não usa uma identificação electrónica", explica Gerson Rolim,
coordenador brasileiro do projecto Mercosul Digital, durante um
workshop sobre a iniciativa em Lisboa, na semana passada. "Mas se algo
correr mal quando compra online fora do país, para quem você vai
chorar?", questionou. O responsável frisou que existem, neste momento,
23 milhões de brasileiros com o hábito de fazer compras online. "
É uma grande oportunidade de
negócio para as pequenas e médias empresas portuguesas", afirmou o
coordenador. Só o comércio B2B (empresa a empresa) valeu 416 mil milhões
de euros em 2010. "É um segmento que chega perto do valor do PIB de
algumas nações", comparou Gerson Rolim.
"Portugal podia estar a chegar
perto disto", reiterou o responsável, para quem este projecto se trata
de implementar "uma infovia de comunicação com segurança tecnológica e
validade jurídica". Até porque o Brasil arrancou recentemente com uma
Bolsa de Negócios na internet, um espaço de match making empresarial,
onde já estão inscritas 12 mil organizações. "É preciso implementar a
validade do reconhecimento mútuo dos certificados", reforçou.
Apesar de ter sido responsável
pela confusão nas últimas eleições presidenciais, o Cartão do Cidadão é
um dos principais trunfos de Portugal na validação de certificados
digitais. Olivier Piou, CEO da empresa de segurança e
encriptação Gemalto, refere que basta um leitor simples de cartões, que
se liga por USB ao computador, para usar o Cartão do Cidadão como
assinatura digital. "Portugal é um dos países líderes na competitividade e preparação digital na Europa", considerou.
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