Laura Cavalcante Padilha,
professora na Universidade Federal Fluminense, no Brasil, considera que
“não há uma política editorial do livro escrito em língua portuguesa”.
A professora de Literaturas
Africanas de Língua Portuguesa, que esteve em Lisboa na abertura do
colóquio internacional sobre literaturas africanas de língua
portuguesa, disse à agência Lusa que “o grande problema é uma coisa
chamada gueto”.
“Nós precisamos de, no espaço da
língua portuguesa, nos juntarmos, criar uma rede, para que não tenhamos
gueto. Quem nunca leu Camões? Eu fui formada lendo Camões. Camões é meu
poeta! Assim como eu tenho certeza que Drummond e Manuel Bandeira são
poetas aqui, de Portugal, e angolanos, e cabo-verdianos”, defende.
Laura Cavalcante participa no
colóquio “Percursos, trilhos e margens: receção e crítica das
Literaturas Africanas em Língua Portuguesa”, que decorre no pólo de
Lisboa do Centro de Estudos Sociais (CES).
As literaturas africanas de
língua portuguesa “só não evoluem mais por causa da circulação do
livro”, analisa a investigadora, recordando que “o livro que é produzido
na África, em Angola, em Moçambique, em Cabo Verde, não chega” ao
mercado brasileiro. “Se são lidos? São. Mia Couto é ‘best seller’ no
Brasil. Mas é preciso que outros sejam publicados”, refere.
Por outro lado, estas
literaturas africanas chegam ao mercado português porque algumas
editoras lhes prestam atenção, mas seria preciso que os livros editados
em Portugal circulassem no Brasil “de uma forma menos cara”, defende,
pedindo “um ordenamento político-cultural mais consistente”.
Simultaneamente, “há escritores
portugueses maravilhosos que não chegam”, e vice-versa. “Há muito mais
do que o Paulo Coelho [no Brasil], mas quem é que lê isso que é mais do
que o Paulo Coelho? Quem é que lê uma Adélia Prado, quem é que lê os
romancistas brasileiros? Ninguém”, lamenta.
O colóquio começou hoje e
prolonga-se até sexta-feira, propondo uma reflexão a académicos,
editores (Caminho, Afrontamento e D. Quixote) e representantes de
instituições culturais envolvidos na produção e divulgação das
literaturas africanas de língua portuguesa.
Entre os escritores presentes estiveram a angolana Ana Paula Tavares e a guineense Odete Semedo.
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