Há 300 anos, São Paulo não
passava de um aglomerado de 210 casas de taipa em ruas de terra batida,
com sete igrejas e quatro bicas d"água. Tinha mil habitantes: índios
escravizados, portugueses recém-chegados e mamelucos filhos da terra. Em
11 de julho de 1711, o povoado do alto da serra pela primeira vez
ganhou importância: não era mais uma vila. No passado dia 11 de julho fez 300 anos que São
Paulo virou cidade.
No dia em que o então rei de Portugal, D. João V,
assinou em Lisboa a ordem régia que oficializou a elevação, os
vereadores paulistanos discutiam na Câmara a crise mais grave do seu
tempo: faltava sal na cidade. O transporte ilegal de éguas pelo caminho
do mar também preocupava. E as procissões religiosas estavam sendo
comprometidas por "rapazes, carijós e negros", que atentavam contra a
"compostura e decência".
Os vereadores discutiam assuntos
corriqueiros quando descobriram, oito meses depois da elevação, que
haviam recebido a honraria da Coroa. Em 2 de fevereiro de 1712, São
Paulo foi chamada de "cidade" pela primeira vez.
Na prática, a elevação permitia
que a cidade pudesse servir de residência para o governador e
capitão-mor da capitania de São Paulo e Minas do Ouro e que ganhasse um
bispo. Como vila, isso não seria possível.
São Paulo foi a sétima cidade do
Brasil - antes dela, apenas Salvador, Rio, Paraíba, Olinda, São Luís e
Cabo Frio haviam recebido a condição..
Nova cidade
No início do século XVIII, a
agora cidade de São Paulo começava na Rua do Carmo e terminava na Rua
São Bento. Mais ao sul, estava o Largo São Francisco. E era só - um
triângulo, com igrejas nas pontas.
Os primeiros sobrados começavam a
surgir, mas a maioria dos paulistanos vivia em casas térreas, com chão
de terra batida, idêntica à que havia na rua. Dormia em redes ou
esteiras. Não havia quarteirões inteiramente construídos - terrenos
baldios, pequenos pomares e plantações de mandioca, milho e trigo eram
comuns na nova cidade.
Havia ainda a caça. O paulistano
típico pescava camarões de água doce no Rio Tamanduateí, caçava
perdizes em sua várzea e plantava milho e trigo no Anhangabaú. Comia à
moda dos índios: farinha de mandioca, peixes e - introdução europeia -
pão.
A cidade tentava também, pela
primeira vez, dar ordem às criações de animais. A grande discussão na
Câmara em 19 de fevereiro de 1713 foi a tentativa de proibir porcos de
fuçar na cidade - eram "prejudiciais à saúde e causavam ruína aos
edifícios e ruas". Suínos flagrados seriam mortos e a carne, destinada
aos presos. Aos proprietários infratores, 30 dias de cadeia.
Nenhuma discussão da cidade,
entretanto, tinha tanta importância quanto o ouro. Com a elevação de São
Paulo a cidade, a Câmara demonstrou pela primeira vez preocupação com a
acomodação de poderosos. Em 1713, na avaliação dos vereadores, uma
única casa na cidade poderia receber os governadores esperados - a do
falecido capitão Fernandes Paes de Barros. Era preciso mais. A
discussão, porém, foi inútil: nenhum dos três primeiros governadores
quis viver na nova cidade. Assim que chegavam, partiam em direção às
minas.
Foi com as descobertas de ouro
em Cuiabá e Goiás - também pelos paulistas, em 1719 e 1720 - que a
cidade, ironicamente, perdeu importância. Já havia estrutura em
povoamentos próximos das minas e São Paulo, novamente, ficou isolada. Em
1748, vergonha suprema: a capitania de São Paulo e Minas do Ouro foi
extinta e a cidade ficou subordinada ao Rio de Janeiro.
Melhor consideração da Coroa, só passaria a receber a partir de 1765. Chegou à cidade Morgado de Matheus, governador encarregado de auxiliar na criação, a partir de São Paulo, de uma nova divisão do Brasil.
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