Cientistas da Missão Cruls foram reunidos para colectar dados sobre o sertão brasileiro Fotos: Arquivo Público do DF
Realizou-se dia 18 de Março, pelas 19.00, no Auditório do Instituto
Camões/Embaixada de Portugal em Brasília, uma sessão pública de
apresentação do livro "Missão Cruls - Uma
Trajectória para o Futuro".
Brasília - uma ideia que vem de longe
A
ideia de construir Brasília não surgiu de repente. Desde o século
XVIII, sonhos e projectos já povoavam o imaginário político ao
vislumbrar a possibilidade de a capital do Brasil ser transferida para
o interior. De acordo com pesquisa de António Menezes Júnior, Marta Sinoti e Regina Fernandes Saraiva, publicada em "Olhares Sobre o Lago Paranoá" em 1750, quando o Brasil era ainda colónia de Portugal, o cartógrafo genovês Francisco Tossi Colombina elaborou a Carta de Goiás e sugeria a mudança da capital do país para essa região.
Há também registos atribuídos ao Marquês de Pombal,
afirmando que o estadista português já sonhava com a mudança da sede de
governo para o vale do Amazonas, transformando o Rio de Janeiro, sede
do governo naquela época, em capital provisória.
Os
inconfidentes também demonstravam esse desejo. Em 1789 eles fizeram
constar em seu programa a transferência da Capital Federal para São
João Del Rei — para eles, o local que apresentava as melhores condições
para abrigar o centro do governo, por causa de sua privilegiada
localização geográfica e pela fartura de mantimentos.
No começo do século XIX, o jornalista Hipólito José Costa,
através do Correio Braziliense, instigou uma forte campanha em defesa
da transferência da capital. O jornalista indicava um ponto ideal, na
zona dos mananciais dos rios Araguaia, Tocantins, São Francisco e
Paraná — ou seja, justamente sobre o Planalto Central brasileiro.
José Bonifácio,
o "patriarca da independência", também foi um fervoroso partidário da
substituição da capital. Ele vislumbrava a mudança para a cidade de
Paracatu, no planalto mineiro, e propunha até mesmo o novo nome:
Petrópole ou Brasília.
As qualidades
ambientais e as riquezas naturais dessas regiões eram sempre citadas
como um dos principais argumentos para a transferência. A outra
justificativa estava relacionada com as questões estratégicas de
segurança: um centro político localizado no interior seria menos
vulnerável a ataques de conquistadores.
Com
a Proclamação da República, em 1889, essa preocupação foi materializada
na Constituição, que estabeleceu para a União a propriedade de uma zona
de 14.400 km2 no Planalto Central, que seria oportunamente demarcada
para o estabelecimento de uma futura sede de governo.
Em 1892, para cumprir a Constituição, o presidente Floriano Peixoto
nomeou a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, cujo
objetivo era iniciar de facto a demarcação do Distrito Federal. Foi a
primeira iniciativa oficial do governo brasileiro para concretizar a
mudança da capital. Essa comitiva ficou conhecida por Missão Cruls.
Luiz Cruls
era um notável astrónomo belga, director do Observatório Astronómico do
Rio de Janeiro. Para cumprir a determinação do presidente Floriano
Peixoto, Cruls organizou uma equipa de 21 pesquisadores, entre
geólogos, geógrafos, botânicos, naturalistas, engenheiros, médicos e
higienistas, que seguiram a Ferrovia Mogiana, do Rio de Janeiro a
Uberaba, e depois rumaram ao Planalto Central, percorrendo um total de
4 mil quilómetros.
Uma Trajetória para o Futuro
Um
grupo de 17 pesquisadores brasileiros decidiram reconstituir, em 2003,
a trajectória do astrónomo belga Luis Cruls rumo ao Planalto Central.
Para isso, desenvolveram o projecto "Missão Cruls: Uma Trajetória para
o Futuro", coordenado por Pedro Jorge de Castro, Doutor em Comunicação e Artes.
A
expedição partiu no dia 10 de Novembro da sede do Museu Nacional de
Astronomia no Rio de Janeiro. Objectivo: observar e comparar os
aspectos analisados pela comitiva do século XIX, verificando as
mudanças que ocorreram no século XXI.
Nenhum comentário:
Postar um comentário