TRIBUTO DE HOMENAGAM AO POETA PORTUGUÊS
José Carlos ARY DOS SANTOS
(1937 - 1984)
Hoje, 21 de Março, DIA MUNDIAL DA POESIA, decidimos assinalar e celebrar este dia com a publicação de um TRIBUTO DE HOMENAGEM a esse famoso e popular poeta português, José Carlos ARY DOS SANTOS, porventura um dos poetas mais cantados, amados e controversos, durante o período de transição do regime ditaturial português para a democracia, com a Revolução de 25 de Abril de 1974.
Dizer que hoje é o Dia Mundial da Poesia, será o mesmo que dizer que hoje é o Dia Mundial da Liberdade, porque a poesia é libertação e, quando necessário, exprime-se como grito incontido de liberdade. contra a opressão, pelos direitos humanos e pela justiça. De Ary dos Santos podemos afirmar que ele primeiro gritou e, depois, cantou a Liberdade, porque, como ele afirmava num dos seus poemas ..."serei tudo o que disserem...poeta castraddo não".
Dizer que hoje é o Dia Mundial da Poesia, será o mesmo que dizer que hoje é o Dia Mundial da Liberdade, porque a poesia é libertação e, quando necessário, exprime-se como grito incontido de liberdade. contra a opressão, pelos direitos humanos e pela justiça. De Ary dos Santos podemos afirmar que ele primeiro gritou e, depois, cantou a Liberdade, porque, como ele afirmava num dos seus poemas ..."serei tudo o que disserem...poeta castraddo não".
Ary dos Santos, poeta e declamador, escreveu muitas canções para os músicos e cantores desse glorioso período da história recente de Portugal e foi, sem dúvida, uma das grandes vozes poéticas mais cantadas pelos maiores artistas cantores e músicos do seus tempo. Poeta polémico, corajoso, provocador e teatral, mas de grande alma poética, romântico, foi o parceiro dilecto de grandes interpretes da canção de intervenção e da canção popular, como Fernando Tordo, Carlos do Carmo e outros.
Poeta português, natural de Lisboa. Saiu de casa aos 16 anos, exercendo várias actividades como meio de subsistência.
Revelando-se como poeta com a obra Asas (1953), publicou, em 1963, o livro Liturgia de Sangue, a que se seguiram Azul Existe, Tempo de Lenda das Amendoeiras e Adereços, Endereços (todos de 1965). Em 1969, colaborou na campanha da Comissão Democrática Eleitoral e, mais tarde, filiou-se no Partido Comunista Português, tendo tido uma intervenção politizada, mas muito pessoal.
Ficou sobretudo conhecido como autor de poemas para canções do Concurso da Canção da RTP. Os seus temas «Desfolhada» e «Tourada» saíram ambos vencedores. Em 1971, foi atribuído a «Meu Amor, Meu Amor», também da sua autoria, o grande prémio da Canção Discográfica. Declamador, gravou os discos «Ary Por Si Próprio» (1970), «Poesia Política» (1974), «Bandeira Comunista» (1977) e «Ary por Ary» (1979), entre outros. Publicou ainda os volumes Insofrimento In Sofrimento (1969), Fotos-Grafias (1971), Resumo (1973), As Portas que Abril Abriu (1975), O Sangue das Palavras (1979) e 20 Anos de Poesia (1983). Em 1994, foi editada Obra Poética, uma colectânea das suas obras.
Personalidade entusiasta e irreverente, muitos dos seus textos têm um forte tom satírico e até panfletário, anticonvencional, contribuindo decisivamente para a abertura de novas possibilidades para a música popular portuguesa. Deixou cerca de 600 textos destinados a canções.
POEMA ORIGINAL
De José Carlos Ary dos Santos
Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutra espasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse ao abismo
e faz um filho às palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever em sismo.
Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte
faz devorar em jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.
Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce à rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.
Original é o poeta
que chega ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.
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POETA CASTRADO NÃO !
De J. C. Ary dos Santos
Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!
Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.
Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:
Da fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa -
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?
Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal -
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?
E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!
Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!
Carlos Morais dos Santos
Cônsul do M.I. "Poetas Del Mundo"
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