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MÚSICA DE FUNDO E AUDIÇÃO DE VÍDEOS E AUDIOS PUBLICADOS

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domingo, 21 de março de 2010

DIA MUNDIAL DA POESIA - TRIBUTO AO POETA PORTUGUÊS ARY DOS SANTOS

TRIBUTO DE HOMENAGAM AO POETA PORTUGUÊS

José Carlos ARY DOS SANTOS
(1937 - 1984)

Hoje, 21 de Março, DIA MUNDIAL DA POESIA, decidimos assinalar e celebrar  este dia com a publicação de um TRIBUTO DE HOMENAGEM a esse famoso e popular poeta português, José Carlos ARY DOS SANTOS, porventura um dos poetas mais cantados, amados e controversos, durante o período de transição do regime ditaturial português para a democracia, com a Revolução de 25 de Abril de 1974.

Dizer que hoje é o Dia Mundial da Poesia, será o mesmo que dizer que hoje é o Dia Mundial da Liberdade, porque a poesia  é libertação e, quando necessário, exprime-se como grito incontido de liberdade. contra a opressão, pelos direitos humanos e pela justiça. De Ary dos Santos podemos afirmar que ele primeiro gritou e, depois, cantou a Liberdade, porque, como ele afirmava num dos seus poemas ..."serei tudo o que disserem...poeta castraddo não".

Ary dos Santos, poeta e declamador, escreveu muitas canções para os músicos e cantores desse glorioso período da história recente de Portugal e foi, sem dúvida, uma das grandes vozes poéticas mais cantadas pelos maiores artistas cantores e músicos do seus tempo. Poeta polémico, corajoso, provocador e teatral, mas de grande alma poética, romântico, foi o parceiro dilecto de grandes interpretes da canção de intervenção e da canção popular, como Fernando Tordo, Carlos do Carmo e outros. 

Poeta português, natural de Lisboa. Saiu de casa aos 16 anos, exercendo várias actividades como meio de subsistência.

Revelando-se como poeta com a obra Asas (1953), publicou, em 1963, o livro Liturgia de Sangue, a que se seguiram Azul Existe, Tempo de Lenda das Amendoeiras e Adereços, Endereços (todos de 1965). Em 1969, colaborou na campanha da Comissão Democrática Eleitoral e, mais tarde, filiou-se no Partido Comunista Português, tendo tido uma intervenção politizada, mas muito pessoal.

Ficou sobretudo conhecido como autor de poemas para canções do Concurso da Canção da RTP. Os seus temas «Desfolhada» e «Tourada» saíram ambos vencedores. Em 1971, foi atribuído a «Meu Amor, Meu Amor», também da sua autoria, o grande prémio da Canção Discográfica. Declamador, gravou os discos «Ary Por Si Próprio» (1970), «Poesia Política» (1974), «Bandeira Comunista» (1977) e «Ary por Ary» (1979), entre outros. Publicou ainda os volumes Insofrimento In Sofrimento (1969), Fotos-Grafias (1971), Resumo (1973), As Portas que Abril Abriu (1975), O Sangue das Palavras (1979) e 20 Anos de Poesia (1983). Em 1994, foi editada Obra Poética, uma colectânea das suas obras.

Personalidade entusiasta e irreverente, muitos dos seus textos têm um forte tom satírico e até panfletário, anticonvencional, contribuindo decisivamente para a abertura de novas possibilidades para a música popular portuguesa. Deixou cerca de 600 textos destinados a canções.

 












POEMA ORIGINAL
De José Carlos Ary dos Santos

Original é o poeta

que se origina a si mesmo

que numa sílaba é seta

noutra espasmo ou cataclismo

o que se atira ao poema

como se fosse ao abismo

e faz um filho às palavras

na cama do romantismo.

Original é o poeta

capaz de escrever em sismo.


Original é o poeta

de origem clara e comum

que sendo de toda a parte

não é de lugar algum.

O que gera a própria arte

na força de ser só um

por todos a quem a sorte

faz devorar em jejum.

Original é o poeta

que de todos for só um.


Original é o poeta

expulso do paraíso

por saber compreender

o que é o choro e o riso;

aquele que desce à rua

bebe copos quebra nozes

e ferra em quem tem juízo

versos brancos e ferozes.

Original é o poeta

que é gato de sete vozes.


Original é o poeta

que chega ao despudor

de escrever todos os dias

como se fizesse amor.

Esse que despe a poesia

como se fosse mulher

e nela emprenha a alegria

de ser um homem qualquer.

»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»

POETA CASTRADO NÃO !
De J. C. Ary dos Santos


Serei tudo o que disserem

por inveja ou negação:

cabeçudo dromedário

fogueira de exibição

teorema corolário

poema de mão em mão

lãzudo publicitário

malabarista cabrão.

Serei tudo o que disserem:

Poeta castrado não!


Os que entendem como eu

as linhas com que me escrevo

reconhecem o que é meu

em tudo quanto lhes devo:

ternura como já disse

sempre que faço um poema;

saudade que se partisse

me alagaria de pena;

e também uma alegria

uma coragem serena

em renegar a poesia

quando ela nos envenena.


Os que entendem como eu

a força que tem um verso

reconhecem o que é seu

quando lhes mostro o reverso:


Da fome já não se fala

- é tão vulgar que nos cansa -

mas que dizer de uma bala

num esqueleto de criança?


Do frio não reza a história

- a morte é branda e letal -

mas que dizer da memória

de uma bomba de napalm?


E o resto que pode ser

o poema dia a dia?

- Um bisturi a crescer

nas coxas de uma judia;

um filho que vai nascer

parido por asfixia?!

- Ah não me venham dizer

que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem


por temor ou negação:

Demagogo mau profeta

falso médico ladrão

prostituta proxeneta

espoleta televisão.

Serei tudo o que disserem:

Poeta castrado não!





Carlos Morais dos Santos
Cônsul do M.I. "Poetas Del Mundo"

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