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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Paulina Chiziane: o símbolo do feminino no romancismo da literatura moçambicana

Por Eduardo Quive
escritor, jornalista (Escorpião, kuphaluxa, Literatas-Revista de Literatura) -  Moçambique
 Eduardo Quive
 Baladas que levaram Paulina ao vento


Escritora Paulina Chizane












Paulina Chiziane, é agora uma mulher do mundo, mas esse percurso foi longo e teve um princípio.
Esse princípio chama-se Balada de Amor ao Vento, uma verdadeira viagem na realidade moçambicana e caracteristicamente o perfil da Paulina para quem acompanha as suas obras.
Esta obra retrata, desde a juventude à idade madura, o cenário em que a Sarnau e o Mwando, protagonistas desta eloquente estória de amor, percorrem os dias, os meses, os anos, os encontros e os desencontros, a dolorosa separação, o desespero, o sofrimento, a alegria, as lágrimas e os sorrisos, numa atmosfera que nos envolve e, nos comove.
«Tu foste para mim vida, angústia, pesadelo. Cantei para ti baladas de amor ao vento. Eras para mim o mar e eu o teu sal. No abismo, não encontrei a tua mão
Mas haverá um reencontro? Serão Sarnau e Mwando capazes de apagar um tão longo e trágico passado? Existirá ainda para eles um futuro a partilhar?
Voltarás a conseguir esboçar no rosto o teu lindo sorriso, há muito perdido no tempo?
Abrirás enfim os braços para neles abrigares o amor? Ouvirás a melodia que o vento espalha no universo? Texto retirado da contracapa da obra editada em 1990 e reeditada em 2003 pela editora moçambicana, Ndjira.
Na segunda viagem, a escritora a voar nos “Ventos do Apocalipse”, lançada pela editora Caminho, em 1999 e reeditada, em 2006.
Guerra, destruição, miséria, sofrimento, humilhação, ódio, superstição, morte. Este é o cenário dantesco, boscheano, que encontramos nas páginas deste romance. A escritora consegue levar-nos ao âmago do mais baixo dos mais baixos degraus de degradação do ser humano.
Com ela percorremos as vinte e uma noites de pesadelo e tormentos que foi o êxodo dos sobreviventes de uma aldeia.
«Se o homem é a imagem de Deus, então Deus é um refugiado de guerra, magro e com o ventre farto de fome. Deus tem este nosso aspecto nojento, tem a cor negra da lama e não toma banho à semelhança de nós outros, condenados da terra. O Diabo, sim, esse deve ser um janota que segura os freios da vida dos homens que sucumbem.» Ndjira.

Já “O Sétimo Juramento”, lançada em quatro edições, concentra-se num fenómeno que é muito característico nas famílias moçambicanas, mas hoje ainda que de forma oculta.
Feitiços, tabus, magia negra, fantasia e muito pânico, é a vida que nos é demonstrada por esta autora, baseando-se numa família de condições médias, e cheia de muitos problemas, que se supõe que seja obra de feitiçaria.
Nesta obra, o personagem David, sem se aperceber, entrega-se a magia negra e as tradições mais antigas das famílias moçambicanas, sobrevivendo do curandeirismo e actos assustadores para o seu crescimento económico.
Por outro lado o seu filho enfrenta uma maligna doença que se manifesta de uma maneira estranha, e assim vai se fazendo esta obra, desvendando estes mistérios que nos levam a delirar a cada página.
Estas são algumas ideias trazidas em termos da nossa percepção da qualidade bibliográfica da Paulina Chiziane, que brindou as mulheres, já em 2002 com seis reedições que tomaram o mundo.
Por último, nos trouxe “O Alegre Canto da Perdiz” que exalta, igualmente, a vida de uma mulher bonita que encanta até homens brancos e “As Andorinhas” que relata a estória de alguns Heróis Moçambicanos, como Eduardo Mondlane.
Prémios
Em termos de prémios, Paulina Chiziane, não nos remete a várias viagens, tendo vencido em 2003. o Prémio José Craveirinha, pela obra Niketche: Uma História de Poligamia.
Mas em termos de acontecimentos mais marcantes na carreira desta escritora, destaca-se a sua designação, pela União Africana (UA), como embaixadora da paz para África em Julho de 2010.

Sobre o feminismo da Paulina Chiziane
Muitas vezes tem se chegado a conclusão de que Paulina Chiziane é feminista, entretanto, em entrevista com o Kuphaluxa, a escritora não deu importância, simplesmente escusou-se de assumir ou negar esta postura.
“Estou-me nas tintas... que o chamem. Eu sou uma mulher e falo de mulheres, então eu sou feminista? É simplesmente conversa de mulher para mulher, não é para reivindicar nada, nem exigir direitos disto ou daquilo, porque as mulheres têm um mundo só delas e é isso que eu escrevi, e espero que isso não traga nenhum tipo de problemas, porque há ainda pessoas que não estão habituadas e não conseguem ver as coisas com isenção.”

Na mesma entrevista, a escritora, falou ainda da sua postura feminina, principalmente, argumentando o factor mulher no auge das atenções no mundo africano.
“Ser mulher é muito complicado, e ser escritora é uma ousadia. Como é uma ousadia a mulher sair de madrugada ir a praia comprar peixe para vir cozinhar. A mulher está circunscrita num espaço e quando salta essa fronteira sofre represálias, há quem não as sente de uma forma directa, mas a grande maioria...”
“É sempre uma dificuldade, porque primeiro, eu tenho de provar que sou capaz, depois tenho de conquistar um espaço. Eu tenho que trabalhar muito para mostrar que não foi por acaso que as coisas aconteceram. Mas agora estou numa fase mais estável em que as pessoas já não se assustam e, de certa maneira, já não implicam; mas para chegar até este ponto teve de ser uma batalha.” Disse Paulina.

Sobre a escrita e a literatura moçambicana, a escritora disse que escrever é uma maneira de estar no mundo. “Eu preciso de meu espaço, é por isso que eu escrevo. Em primeiro lugar eu escrevo para existir, eu escrevo para mim. Eu existo no mundo e a minha existência repete-se nas outras pessoas. E neste caso é um livro, que depois será lido.”
“Acho que está a ganhar uma dinâmica maior nos últimos anos, há autores que começam a apostar muito seriamente e apresentam propostas novas. E há novos talentos, tantos, mas o que falta é uma mão, por exemplo aqui em Quelimane há um movimento muito grande.”
Verdade ou não, Paulina Chiziane é um dos símbolos do romancismo literário moçambicano, até hoje, a única mulher que tem se identificado com este género, mas não assumindo, como me referi, na introdução deste texto.
“Não sou romancista, sou apenas contadora de estórias. Estórias longas e curtas, inspiro-me nos Nkariganas em volta da lareira, que os nossos avós contam-nos.” Diz sempre a escritora.

Paulina Chiziane, nasceu no distrito de Manjacaze, porvíncia de Gaza, a 4 de Junho 1955 é uma escritora moçambicana, que apesar de ser identificada como romancista, a autora nunca assumiu esta identidade do género literário e classifica-se como uma contadora de estórias longas.
Com as suas aves formadas nos subúrbios da cidade de Maputo, Paulina, nasceu numa família protestante onde se falavam as línguas Chope e Ronga. Aprendeu a língua portuguesa na escola de uma missão católica.
Começou os estudos de Linguística na Universidade Eduardo Mondlane sem, porém, ter concluído o curso.
Iniciou a sua actividade literária em 1984, com contos publicados na imprensa moçambicana, como, a Revista Tempo e Domingo.
 
 












Eu sou uma mulher e falo das mulheres”





Eduardo Quive
Escritor, jornalista (Moçambique)





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