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MÚSICA DE FUNDO E AUDIÇÃO DE VÍDEOS E AUDIOS PUBLICADOS

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sexta-feira, 18 de junho de 2010

JOSÉ SARAMAGO, PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA, MORREU HOJE.... E AGORA JOSÉ ?!

 TRIBUTO DE HOMENAGEM A JOSÉ SARAMAGO


José de Sousa Saramago (Azinhaga-Golegâ-Portugal, 16 de Novembro de 1922
- Lanzarote-Canárias-Espanha, 18 de Junho de 2010.

O escritor português José Saramago, Prémio Nobel de Literatura /1998, morreu, hoje, aos 87 anos, em sua casa da ilha espanhola de Lanzarote, nas Canárias, pela manhã, na companhia de sua esposa  espanhola, jornalista e tradutora, Pilar Del Rio. 

E AGORA JOSÉ ?!... orfãos da tuas novas palavras ficaremos, mas não orfãos da tua imorredoira obra e posições humanistas, cívicas, combativas - qual bravo "cavaleiro campino" da Lezíria da tua Golegã - posições às vezes polémicas e ou provocatórias, interpelativas, instigantes, duras, tantas vezes julgadas severamente como  impróprias, injustas ou causticas e amargas,  sobretudo para os que julgaram certas decisões e posições de José Saramago, à margem dos contextos em que elas foram determinadas, ou ignorando que as marcas de um duro e doloroso percurso de vida podem determinar ainda mais acidentes e incidentes de percurso.

Muitos dos seus inclementes juízes, ignoram, talvez, Ortega Y Gasset, quando nos ensinou que ...o Homem é o Homem e as suas circunstâncias... Ignoram, talvez, o poeta sevilhano António Machado e o que ele nos ensinou no seu poema, em que disse ...
Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
...
Ignoram, talvez, que um simples homem e a sua humanidade, até um grande artista e a sua genialidade, não podem ser avaliados nas suas dimenssões ontológicas, no seu humanismo, senão pelo percurso de toda uma vida, jamais apenas por alguns dos seus passos. Ignoram, talvez, que a maior injustiça e desumanidade  é denegrir a obra de alguém, por se não concordar, não aprovar, alguns dos seus actos, ou não se identificar com o autor, enquanto pessoa, confundindo a obra com o seu criador. Mas, por  outro lado, alguns desses mais odiosos detractores de Saramago não hesitam em mostrar a sua verdadeira índole inquisitorial ao incensarem alguns outros criadores artísticos, que consideram ideologicamente próximos às suas posições, mesmo que de alguns destes, tenham que branquear ou fingir ignorar comportamentos e posições pessoais que tenham ofendido os valores e direitos humanos, ou que tenham mostrado indiferença por esses valores, não por um ou outro infeliz episódio de suas vidas, mas como uma marca permanente de todos os seus  percursos de vida, independentemente das suas ideologias políticas.  


Fernando Pessoa dizia que é um perigo e um risco muito grande, os amantes da obra virem a conhecer o autor. Por isso, ele se furtava a encontros ou actos em que tivesse que se dar a conhecer pessoalmente aos que as suas obras seduziam, sobretudo a mulheres, por pensar que dele imaginariam uma beleza e encantamento humano correspondente, que ele julgava não possuir. O que explica, talvez, o número exíguo das suas relações de amizades estreitas.  
 
Em 1983, Saramago foi agraciado com o Prémio Camões, o mais importante prémio da literatura de língua portuguesa. 

Considerado um dos maiores nomes da literatura mundial contemporânea, Saramago criou um dos universos literários mais pessoais e sólidos do século XX , unindo a actividade de escritor com a de crítico social, pronunciando-se aberta e corajosamente  sobre os grandes confrontos políticos da nossa época e denunciando injustiças sociais. 

E nem temeu ou escondeu as suas grandes dúvidas, questionamentos ou posicionamentos, oposições, face ao metafísico, ao sagrado, ao religioso, aos dogmas, às concepções deístas, usando o brilho de sua inteligência e o poder do seu livre pensamento e da sua escrita dialéctica, para frontal e corajosamente, sem a hipocrisia do social e politicamente correcto e conveniente, agitar consciências (começando pela sua própria), no pleno uso do seu direito ao livre arbítrio, em democracia. 

Por essa coragem e seriedade intelectual pagou altos custos pessoais que, lucidamente, sabia que os iria pagar com graves penas que escolheu sofrer, em vez de vãs glórias facilmente conquistáveis pelas boas graças que obteria pelo simples silêncio da sua voz mais íntima sobre essas questões que, sendo de muitos silenciosos ou silenciados, lhes deu voz e com eles solidariamente partilhou o eco de suas consciências socialmente "policiadas" e condicionadas pelas censuras invisíveis de muitos "Richelieu" ou "Torquemadas" de conveniência, a que até se juntaram a mesquinhez de "pequeninos altos" responsáveis políticos e até Papas sem glória e sem clemência, que pregam em encíclicas e sermões a virtude do perdão cristão, católico, que no fundo desprezam, ofendendo o próprio Cristo de que se dizem representantes, mas são incapazes de praticar esse perdão, nem ao menos a simples tolerância cristã de, simplesmente, aceitarem a comunhão com a diferença, manchando a herança cristã, tantas e tão reincidentes vezes ao longo de séculos. 

Que o diga a história, ainda que deliberadamente mutilada em tantos testemunhos documentais, diligentemente devorados por fogueiras de inquisições sob novas formas, que continuam simbolicamente a existir com novas e mais eufemísticas modernas "fogueiras", reabertas ou disfarçadas, que estão sempre prontas para serem reacendidas implacavelmente, até mesmo com aqueles que, já mortos, não lhes podem mais responder com o seu  direito à defesa e ao contraditório. 

Que o digam pela voz do além, os não católicos mas cristãos, os judeus, os "cristão novos", forçados", os ateus, os agnósticos, os cátaros, albigenses que, glosando Dante, na entrada para o purgatório da Divina Comédia, poderia ter dito o que disse ou o seu contrário que, como parábola significaria o mesmo: "Óh vós que não alinhais, perdei toda a esperança..."

Saramago recebendo o Prémio Nobel de Literatura, em 1998

Podemos considerar que José Saramago foi um escritor verdadeiramente GLOCAL E CÍVICO, porque através das suas obras e posições públicas não só exprimia a problemática regional e nacional, como mergulhava nas grandes inquietações que o mundo do seu tempo atravessa, projectando na sua escrita e intervenções públicas, sempre uma posição cívica de Cidadania Universal, sem deixar de exprimir, por vezes, a sua caustica crítica, para defender uma visão humanista de um futuro que, idealizava, viesse salvar a humanidade.

As suas parábolas, às vezes cruas, objectivas e amargas, deixavam, todavia, entrever a solidez dos seus valores e a crença de que é possível um mundo melhor. Nem hesitou em se opor  e  de criticar publicamente, com toda a severidade, alguns actos e derivas de pessoas, organizações, estados e seus líderes, a que estava ligado ideologicamente, por julgar que a sua concepção de comunismo estaria a ser ou renegada ou atraiçoada, isto é, haviam abandonado, também, a base humanista que ele, sem dúvida, havia defendido.  

O presidente da Associação Portuguesa de Escritores, José Manuel Mendes, afirmou que se perdeu "uma referência luminosa "  Perdemos não apenas o maior escritor português, mas uma referência luminosa de dignidade e grandeza à escala universal",  disse.


Em 2003, o mundialmente prestigiado e famoso crítico norte-americano Harold Bloom, no seu livro Genius: A Mosaic of One Hundred Exemplary Creative Minds ("Génios: Um Mosaico de Cem Exemplares Mentes criativas"), considerou José Saramago "  o mais talentoso romancista vivo no mundo do seu  tempo"   (tradução livre de the most gifted novelist alive in the world today), referindo-se a ele como "o Mestre".
Harold Bloom qualificou-o, ainda, como... um dos últimos titãs de um género em vias de extinção".   
A citação consta do prefácio de "O Caderno", assinado pelo italiano Umberto Eco, reproduzido pelo site do jornal espanhol "El País". 

Neste "Caderno", Saramago reúne textos publicados inicialmente em seu blog. 
No prefácio, Eco notava que, apesar de já ser amplamente consagrado, Saramago ainda se dispunha a escrever as suas reflexões sobre o mundo, na internet e a dialogar com os leitores.
No mesmo texto, o pensador italiano lista alguns dos temas presentes na obra de Saramago: os grandes problemas metafísicos, a realidade e a aparência, a natureza e a esperança, e como são as coisas quando não as estamos olhando. Eco arrisca ainda uma entre as muitas definições possíveis para Saramago: um     "  delicado tecedor de parábolas". 

De facto, Saramago foi um criador de uma escrita densa, substancial, recriando a tradição da narrativa oral, mas com uma oralidade muito inovadora, muito rica em metáforas e parábolas, que não podem ler-se e muito menos entender-se de forma literal, porque elas nos interpelam, nos instigam a ver mais largo e mais longe, a sentir mais fundo, mais emotivo e mais racional, tudo isso, ao mesmo templo, de modo simples e complexo, estático (passado e presente) e dinâmico (futuro), local, parcial e  global, utópico, ficcional e real, ingénuo e arguto, modesto  e orgulhoso, humilde e grandioso.      

A obra de Saramago encontra-se amplamente editada no Brasil, onde o escritor português é muito apreciado.

O seu livro "Ensaio sobre a Cegueira" foi adaptado para o cinema em 2008 pelo realizador brasileiro Fernando Meirelles.

No mesmo ano, uma exposição sobre o trabalho de Saramago foi exibida no Brasil, país em que a sua obra é muito apreciada e divulgada.   " José Saramago: a consistência dos sonhos"   trazia cerca de 500 documentos originais e outros tantos digitalizados, reunidos num formato que, misturando o tradicional e a tecnologia moderna, levavam o visitante a uma agradável e rara viagem pela vida e pela obra do escritor português, que um dia afirmou:
No fundo, não invento nada, sou apenas alguém que se limita a levantar uma pedra e a pôr à vista o que está por baixo. Não é minha culpa se de vez em quando me saem monstros". 


Casado com a tradutora e jornalista espanhola Pilar del Rio em segundas núpcias, tem uma filha e dois netos do primeiro casamento. Vivia na ilha espanhola de Lanzarote, nas ilhas Canárias, onde tem uma fundação com o seu nome.

Saramago será sempre "uma referência"    nacional - diz Presidente da República Portuguesa. 


O Presidente da República recordou hoje José Saramago como um “escritor de projecção mundial”, sublinhando que o Nobel português “será sempre uma figura de referência da cultura nacional. Escritor de projecção mundial, justamente galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, José Saramago será sempre uma figura de referência da nossa cultura”, refere o chefe de Estado, numa mensagem de condolências à família do escritor, enviada à comunicação social.

“Em nome dos Portugueses e em meu nome pessoal, presto homenagem à memória de José Saramago, cuja vasta obra literária deve ser lida e conhecida pelas gerações futuras”, sublinha o Presidente, endereçando condolências à família do escritor.

O Ministro da Cultura do Brasil lamenta a morte de José Saramago. 

O ministro da Cultura do Brasil, Juca Ferreira, divulgou na manhã de hoje uma nota oficial lamentando a morte do escritor português José Saramago.

Aquele responsável refere que José Saramago mantinha relações privilegiadas com o Brasil e esteve presente em diversos eventos literários no país, onde se tornou muito popular, mesmo antes de ter sido galoardoado com o Prémio Nobel.

" A sua perda é recebida com muita tristeza, particularmente pelos que têm apreço pela língua portuguesa e pela sua importância cultural em tantos continentes. O Ministério da Cultura do Brasil soma-se aos que lamentam e manifestam a sua dor pela perda desse grande escritor"   - diz a nota.

A escritora Nélida Piñon representará ABL nos funerais de Saramago

A Académica, que está em Espanha, foi designada para representar a Academia Brasileira de Letras na despedida do autor



Selma Calasans Rodrigues, enquanto Professora de Literatura Comparada na Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, teve ocasião de conhecer pessoalmente Saramago quando das suas frequentes palestras no Brasil - que sempre lotavam os auditórios - e com ele falar da importância da literatura Portuguesa e do grande impacto que José Saramago tem no Brasil e no mundo, tal como, já antes, Fernando Pessoa. Neste momento de ausência de José Saramago, Selma Calasans Rodrigues dá-nos este testemunho, que a seguir publicamos:











Ars longa, vita brevis*Adeus Saramago!


Hoje estamos de luto. As personagens de nossa peça teatral decidem inesperadamente fechar a cortina e terminar mais um ato. Por sorte, não nos deixam de mãos vazias. Personagens como José Saramago nos deixam plenos, suas obras nos acompanharão e nos inseminarão sempre.

Comecei por conhecer Saramago, ou seja, sua obra nos Estados Unidos, pela mão de Emir Rodríguez Monegal, professor em Yale, especialista em Jorge Luís Borges. Ele me entregou o Memorial do convento e disse-me que lesse, que era uma obra muito especial. De fato li e fiquei encantada com aquela história inesperada, narrada num estilo também inédito.


Encantou-me a verdade da construção de um convento, as pedras imensas carregadas por aquelas personagens que geralmente não têm lugar na História oficial. Senti que Saramago queria dar voz a eles a esses representantes dos 20 000 trabalhadores que construíram o convento de Mafra. Outras personagens se entrelaçam: Bartolomeu Lourenço (ou Gusmão) que constrói um sonho: a passarola voadora. A história que mais nos encanta é a do amor de Baltazar e Blimunda que se entrelaça na outra. A música de Domenico  Scarlatti completa esse imenso painel  que revela os segredos de uma época repressiva. Histórias de desejo e de luta, muita luta para tentar a realização dos mesmos.


Depois do Memorial do Convento li muitos outros romances de Saramago, dos quais destaco O ano da morte de Ricardo Reis, que também me encantou, Todos os nomes, O Evangelho segundo Jesus Cristo, Ensaio sobre a cegueira e outros . Não gostei de todos com a mesma intensidade. Confesso que os dois primeiros citados são os preferidos.


Tenho ainda obras a ler, de Saramago, seus últimos romances, mas tenho sobretudo a convicção de que um autor vale, sim, pelo conjunto de sua obra que se avalia quando está "  completa".  Mas vale, sobretudo, por aqueles momentos inesquecíveis, de verdade e de poesia : Blimunda e Baltazar Sete-Sóis…
*Versão latina da frase famosa de Hippocrates


Selma Calasans Rodrigues
__________________________

Um avião do Governo português partirá para Lanzarote para recolher o corpo de José Saramago que está a ser velado na Biblioteca de Lanzarote que tem o seu nome, e será transportado depois para a capital portuguesa onde será realizada uma cerimónia fúnebre.

No avião, que ainda não está decidido se segue hoje ou no sábado, viajará a ministra da Cultura Gabriela Canavilhas. De Madrid viajará hoje mesmo para Lanzarote o embaixador português. 
José Saramago será cremado em Lisboa e as cinzas ficarão em Portugal.

ATÉ SEMPRE, SARAMAGO ! NOS REENCONTRAREMOS EM TEUS LIVROS E CONTIGO CONTINUAREMOS A DIALOGAR - MESMO COM OBJEÇÕES OU QUESTIONAMENTOS A ALGUMAS DAS TUAS PARÁBOLAS - PORQUE O TEU PENSAMENTO E  EXPRESSÃO É TÃO LIVRE, COMO O VENTO, QUE HÁ-DE ILUMINAR E AFAGAR SEMPRE TODOS OS DIÁLOGOS, COMO QUEM NÃO SOFRE DAQUELA "CEGUEIRA" - A DA MENTE, QUE É A MAIS OBSCURA DE TODAS !

ATÉ SEMPRE, SARAMAGO ! PORQUE NOS HÁS-DE QUESTIONAR ATÉ À ETERNIDADE, QUE CONQUISTASTE, PORQUE DA LEI DA MORTE TE LIBERTASTE! 

AQUI, NESTE ESPAÇO LIVRE QUE É O CULTURAS E AFECTOS LUSÓFONOS, TE RENDEMOS A NOSSA SINGELA HOMENAGEM. 

     
Texto e pesquisa de internet
Carlos Morais dos Santos
Professor Universitário (Apos.)
Cônsul (Lisboa) M.I. Poetas Del Mundo
Escritor-ensaísta, poeta, fotógrafo
Texto testemunhal
Selma Calasans Rodrigues
Professora Universitária (Apos.)
Escritora-ensaísta, investigadora

 

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