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MÚSICA DE FUNDO E AUDIÇÃO DE VÍDEOS E AUDIOS PUBLICADOS

NÓS TEMOS TODO O EMPENHO EM MANTER SEMPRE MÚSICA DE FUNDO MUITO SELECIONADA, SUAVE, AGRADÁVEL, MELODIOSA, QUE OUVIDA DIRETAMENTE DO SEU COMPUTADOR QUANDO ABRE UMA POSTAGEM OU OUVIDA ATRAVÉS DE ALTI-FALANTES OU AUSCULTADORES, LHE PROPORCIONA UMA EXPERIÊNCIA MUITO AGRADÁVEL E RELAXANTE QUANDO FAZ A LEITURA DAS NOSSAS PUBLICAÇÕES.

TODAVIA, SEMPRE QUE NAS NOSSAS POSTAGENS ESTIVEREM INCLUÍDOS AUDIOS E VÍDEOS FALADOS E/OU MUSICADOS, RECOMENDAMOS QUE DESLIGUE A MÚSICA AMBIENTE CLICANDO EM CIMA DO BOTÃO DE PARAGEM DA JANELA "MÚSICA - ESPÍRITO DA ARTE", QUE SE ENCONTRA DO LADO DIREITO, LOGO POR BAIXO DA PRIMEIRA CAIXA COM O MAPA DOS PAISES DOS NOSSOS LEITORES AO REDOR DO MUNDO.

sábado, 31 de outubro de 2009

CONTO "HISTÓRIA DE IRENE" - Por Selma Calasans Rodrigues


Uma nova colaboração se inicia hoje com um delicioso conto. 
Selma Calasans, a autora, mulher simultaneamente das Letras e da análise do Psique Humano (como Professora Universitária de Literaturas Comparadas e como Psicanalista) tem publicado vários livros relacionados com estas áreas de investigação, mas não tem querido até hoje "dar à estampa" os seus encantadores contos cheios, simultaneamente, de humanismo, de significações simbólicas e de sabor próprio, em que capta com subtileza as  ambiências e as falas dos protagonistas em contos curtos, o que é verdadeira proeza literária. 
Iniciamos a partir de agora a publicação de alguns dos seus contos e textos literários e, com isso,  retiramos das gavetas essas criações de uma lusófona do Rio de Janeiro.
Carlos Morais dos Santos  

                                                                                                                      Selma Calasans no lançamento em Lisboa de um dos seus livros
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História de Irene 
A meus  filhos queridos Cláudio e Pedro
 
Irene no céu

Irene preta

Irene boa

Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:
Licença, meu branco

E São Pedro bonachão:
entra, Irene. Você não precisa pedir licença. 
                                         Manuel Bandeira


“Ter um filho só é coisa muito ruim. Quem tem um, não tem nenhum” filosofava Irene a boa empregada que permaneceu em nossa casa seis anos, ajudou-me a criar os filhos, entrou para o coração de todos nós. Um belo dia fugiu, sumiu.
Terá ido atrás de uma paixão? Sim, foi atrás do único amor de sua vida: o filho Zé. Ele por certo correspondia a esse amor, pois foi com ela que se embrenhou de volta no sertão longínquo da Paraíba, onde nascera. Os dois a formar uma célula placentária para defesa própria contra a maldita vida, a incompreensão, a justiça cega. Em vão tentou-se demovê-la da ideia de seguir o Zé, de largar tudo que havia construído na cidade grande…
Zé era homem feito, quase trinta anos, trabalhava na construção civil, mas não se fixava em nenhuma mulher. Tinha namoradas diversas, variadas, sem consequência. Um dia emprenhou uma donzela, uma menor. O pai da dita era da tradição: fez menino, tem que casar. Zé se negou. Daí um processo em cima dele. Não pensou em mais nada: no sertão ninguém mais o acharia. E assim o fez com a cumplicidade da mãe que não hesitou em segui-lo, pensando sempre que o protegia.
Irene branca, de um branco sujo. Sua cor remontava a muitos séculos de miscigenação. Irene feia, Irene boa. Desajeitada de corpo, não tinha cintura, nem contornos distinguíveis. Cheirava a perfume barato. Severina, para resumir em uma só palavra. Irene alegre, sempre de bom humor.
Nada disso era empecilho para Irene não andar sempre acompanhada, sobretudo com o corpo, ou seja a libido, em dia.
Nunca tinha menos de dois namorados: o médico, por exemplo, não a deixava sossegada, telefonava sempre, saíam para jantar.
 Ao voltar de sua folga dos fins-de-semana, Irene sempre nos surpreendia com o relato dos programas feitos. Muitas vezes era o aviador que a levava para passear: “Esse domingo voei por aí tudo, passei por cima da Senhora!” E passara mesmo pelo Leblon todo. Seu segredo era um só: a descontração, a simpatia. Irene sempre de bom humor…
 Tivera uma relação que durou certo tempo, e que só serviu para infernizar sua vida. Ela o chamava de “o doido”. O doido bebia, e era aborrecido. Mas tinha delicadezas.
Antes de se embrenhar no Nordeste profundo com o filho, Irene contou uma história exemplar que mostra bem aquilo que disse aqui, no início, sobre o ter um filho só. A história resume a sua relação com o Zé, único amor da sua vida e nela entra o doido pontuando a relação.
Dou-te a palavra: fala, Irene, conta-nos em que momento te deste conta de que a prisão do amor se perpetrou em ti:
 Um dia de madrugada, dona Serma, eu ainda vivia com aquele meu doido, eu sonhei que o meu menino tava ali. Acordei de sopetão, meia tonta e comecei a dá falta daquele meu menino que eu tinha. Daí eu despertei o doido e disse: __Cadê o meu menino que eu vestia com babadinhos e fitinhas e parecia menina? Aquele que na festa do Boi do Rei dançava de princesa? Eu sentia um aperto por dentro, uma coisa muito ruim e pensava que eu tinha perdido o meu menino. Naquela noite o doido pegou a vela e me chamou: _Vem cá, muié! Caminhemo até o quarto do Zé. Ele dormia sossegado. Já era um homão. O doido falou para mim: _Tá vendo, tá aí o teu menino, ele cresceu, só, mas é ele mesmo. No tempo de antão que tu tinha o Zé das fitinhas e dos babados, tu não tinha esse Zé. Agora tu não tem o menino, mas tem esse grandão.
Dona Serma, eu senti que o meu juízo tava saindo…
Ninguém mais soube deles. Agora mãe e filho único estão juntos no mistério partilhado. Irene nem sequer suspeitou que seu amor por Zé tinha raízes tentaculares que a ligavam a um passado ao qual nunca se referira, pois sua história era narrada a partir do Zé, da existência da maternidade. E nem sequer suspeitou que sua fuga para Tebas… a faria reencontrar-se com o Destino. E que não haveria mais retorno. 
Selma Calasans Rodrigues




4 comentários:

  1. PARABÉNS DRA. SELMA E OBRIGADA POR ME FAZER RELEMBRAR MINHA INFÂNCIA ATRAVÉS DESSA CASINHA DE TAIPA QUE TÃO BEM RETRATA A VIDA DO SERTANEJO BRASILEIRO. ABRAÇOS VIVI

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  2. Prezada Dra. Selma: Bem haja! Auspiciosa estreia! Pois que continue sempre a nos brindar com o seu talento e criatividade.
    Muita saúde e paz!
    Fraternal e saudoso abraço dos seus admiradores, Malu ("Boalusa") & Rubens

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  3. Parabéns por esta excelente foto!
    Abraço
    Armando Isaac

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  4. Mae, parabens,
    Gostei muito deste conto que fez parte das nossas vidas

    Beijos

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