A minha amiga de Natal-Brasil, a sublime "Poetisa das Flores e do Amor" - Lúcia Helena Pereira, minha confrade como Cônsul da Assoc. Internacional Poetas Del Mundo" e, como eu, também membro do IHG-RN-Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Norte-Brasil, além de, também, ser nossa colaboradora como membro do Conselho Editorial/Redatorial deste nosso nosso Blog-Revista Cultural, enviou-me ontem um email em que relatava a sua emoção ao ter visto e ouvido, num programa cultural da televesão brasileira, uma mulher do campo do interior de Minas Gerais-Brasil, de seu nome Leopoldina, cantar uma canção que tinha como letra, o poema de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa), "Quem me dera " ...que a minha vida fosse um carro de bois " da obra "Guardador de Rebanhos ".
Como já era minha vontade voltar a publicar brevemente algo mais do meu Genial Mestre Fernando Pessoa ou de alguns dos seus inúmeros heterónimos, e inspirado pelo relato de minha amiga sobre a emoção de ter ouvido a mineira Leopoldina a cantar Pessoa, resolvi antecipar a minha intenção e fazer já hoje esta postagem dedicada àquele poema e à obra " Guardador de Rebanhos ".
Como, para mim e para a maioria dos amantes da poesia lusófona, Fernando Pessoa é o maior e mais genial poeta da língua portuguesa depois de Camões, e pelo facto de a obra " O Guardador de Rebanhos " (escrito por Alberto Caeiro numa só noite de insónias, como afirmou Fernando Pessoa) ser, talvez, menos conhecida, aproveitei a inspiradora sugestão da minha amiga poetisa Lúcia Helena Pereira para, celebrar mais uma vez aqui, o Grande Poeta, agradecendo a boa sugestão que a minha amiga, em boa hora, me induziu.
QUEM ME DERA
Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
Que vem a chiar, manhãzinha cedo, pela estrada,
E que para de onde veio volta depois
Quase à noitinha pela mesma estrada.
Eu não tinha que ter esperanças - tinha só que ter rodas...
A minha velhice não tinha rugas nem cabelo branco...
Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas
E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.Alberto Caeiro (in o Guardador de Rebanhos
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O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa)
http://www.passeiweb.comO Guardador de Rebanhos é uma obra poética constituído por 49 poemas, escritos pelo heterônimo Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, em 04.03.1914, e Fernando Pessoa atribuiu sua gêneses a uma única noite de insônia de Caeiro. Foram publicados em 1925 nas 4ª e 5ª edições da revista Athena, com exceção do 8º poema do conjunto que só viria a ser publicado em 1931, na revista Presença.
A obra contêm poemas "em que a personagem surge sob iluminações imprevistas, revelando aspectos que contradizem o seu ideal de Si-Mesmo e lhe conferem verossimilhança ficcional". Os poemas mostram a forma simples e natural de sentir e dizer de seu autor, voltado para a natureza e as coisas puras.
O Guardador de Rebanhos nos transmite ou propõe uma forte cosmovisão ao querer reintroduzir aparentemente um mundo pagão no século vinte de um ocidente cristianizado, mas também é certo que não possui uma ordem ou hierarquia de valores como é apanágio do poema épico. Pelo contrário, a sua forma modular permite que o poema se alongue com repetições de motivos que passam de texto para texto não resolvidos ou por resolver, numa recombinação sucessiva onde emerge uma insuspeita temporalidade. Assim, a natureza aleatória das séries (outra designação para o poema serial) sugere que estas são anárquicas, não porque acabem num tumulto de sentidos incompreensíveis, mas porque se recusam a impor uma ordem externa nos assuntos que tratam ou desenvolvem.
Por outro lado, se o poema de Caeiro oferece um texto final de adeus, este final é completamente arbitrário, não decorre de nenhuma progressão temática ou narrativa que o exija ou a venha coroar, nem, por outro lado, de uma finalidade ou intencionalidade, como acontece necessariamente com o poema épico. Além disso, a concatenação dos textos que se seguem uns aos outros não é subordinada, antes denuncia o seu acaso de inspiração.
O Guardador de Rebanhos guarda pensamentos, que são sensações. O símbolo do rebanho é a representação do limite da existência humana, onde reside a liberdade. O que possui rastros do religioso torna-se demoníaco. O símbolo rompe a angústia da separação e busca na dimensão do divino, o divino que se rompera.
Na obra há um aperfeiçoamento gradual neste sentido: os poemas finais – e sobretudo os quatro ou cinco que precedem os dois últimos – são de uma perfeita unidade ideo-emotiva.
Alberto Caeiro é o poeta voltado para a simplicidade e as coisas puras. Vive em contato com a natureza, extraindo dela os valores ingênuos com os quais alimenta a alma. Embora contrária às filosofias tradicionais, essa faceta de Fernando Pessoa segue ainda os princípios acadêmicos em seus versos. É o lírico que restaura o mundo em ruínas, quando se relaciona com os seres sensitivos, ou o bucólico que foge para o campo, onde encontra maneira poética de sentir e de viver. Em Caeiro há uma "ciência espontânea", um "misticismo materialista" e uma "simplicidade complexa" - "atributos paradoxais que servem para intensificar e tornar crível a sua extraordinária singularidade". Os fragmentos IX e X de O Guardador de Rebanhos mostram, a forma simples e natural de sentir e dizer desse poeta:
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IX
Sou guardador de rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheira-la
E Comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de goza-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade
Sei a verdade e sou feliz.
X
Olá, guardador de rebanhos,
Ai à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?
Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois,
E a ti o que te diz?
Muita cousa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras cousas.
De memórias e de saudades
E de cousas que nunca foram.
Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti.
O Guardador de Rebanhos é uma obra poética constituída por 49 poemas, escritos pelo heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, em 04.03.1914. Eis aqui, abaixo, o conjunto dos 49 poemas
49.
XLIX
- Meto-me para Dentro
Por cortesia e créditos devidos a: http://www.jornaldepoesia.jor.br/fp254.html
todos os títulos acima estão "linkados" aos respectivos poemas que compõem os 49 poemas da Obra "O Guardador de Rebanhos" de Alberto Caeiro, pelo que "clicando" nos títulos terá acesso direto ao respectivo poema
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Por cortesia e créditos devidos a: http://www.jornaldepoesia.jor.br/fp254.html
todos os títulos acima estão "linkados" aos respectivos poemas que compõem os 49 poemas da Obra "O Guardador de Rebanhos" de Alberto Caeiro, pelo que "clicando" nos títulos terá acesso direto ao respectivo poema
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Carlos Morais dos Santos
Cônsul (Lisboa) da Assoc. Internac. Poetas Del Mundo
1.
Criativo e iluminado Seareiro: Bem haja sempre!
ResponderExcluirEm poucas palavras - para que mais? - devo dizer do enlevo que suas palavras a respeito do imortal Mestre Pessoa me provocou.
Parabéns!