TRIBUTO DE HOMENAGEM A
TERESA RITA LOPES
É para mim um gratíssimo prazer e uma emoção, trazer hoje à Galeria do nosso Ciclo de Tributo de homenagem aos poetas Lusófonos,
o nome e a obra de Teresa Rita Lopes. Por várias razões: Em primeiro
lugar, por se tratar de uma das mais brilhantes académicas dedicadas à
literatura portuguesa; em segundo lugar, por ser a maior especialista
portuguesa de Fernando Pessoa; em terceiro lugar, por ser uma autora notável com
vasta obra literária nos campos da poesia, do ensaio, do teatro, obra
consagrada em Portugal e em outros países onde se têm feito traduções
de suas produções e, ainda e também, pelos justos e merecidos prémios
que já lhe foram atribuídos.
Mas
há também a emoção que tenho em prestar esta singela mas justa e
sincera homenagem, através deste nosso Blogue-Revista Cultural, por se
tratar de uma pessoa a que nos ligam antigos laços de amizade.
Por
isso, podemos também afirmar que a "Cultura e os Afetos" são "Nós e
Laços" que nos unem, numa amizade que nos faz recordar os bons momentos
passados em Portugal, no Brasil, em sua casa de Almada, em nossa casa
de Algés, ou em São Paulo e no Rio de Janeiro, ou os bons momentos que
eu e Selma vivemos em Paris, por ocasião do "Bicentenaire" da Revolução
Francesa, intalados, a seu convite, em sua casa de Paris - Ville Juif.
De
Teresa Rita Lopes se pode afirmar que os Deuses foram muito generosos
com a sua pessoa. A juntar à sua vivacidade e brilhante inteligência e
grande cultura, temos os há muito reconhecidos talentos em vários
campos já citados, onde a sua obra é extensa, rica e de grande mérito.
E como se isso, que já é muito, não bastasse, os Deuses ainda a dotaram
de uma personalidade marcante, que não deixa ninguém indiferente, com
um carisma intrínseco que não faz concessões, grande sentido de humor,
senhora de uma beleza e sedução natural, que até nos olhos lindos e na
voz de timbres musicais raros, se manifesta. Dir-se-ia que os Deuses lhe deram tudo isso para evidenciar a coerência entre a sua beleza interior e exterior.
Biografia
Nasceu em Faro. Viveu 13
anos em Paris onde foi professora na Sorbonne e defendeu a tese de doutoramento
"Fernando Pessoa et le drame symboliste – héritage et création". É
professora catedrática na Universidade Nova de Lisboa.
Teresa
Rita
Lopes é um dos maiores especialistas contemporâneos em Fernando Pessoa,
dedicando-se também a outros autores como Miguel Torga, tendo
centrado o seu trabalho académico na obra deste poeta e dedicando-se
especialmente à divulgação da parte inédita da sua obra.
Dirige um
grupo de investigadores que produziu várias obras, nomeadamente um guia de
Lisboa, escrito por Pessoa, com traduções em várias línguas (espanhol, francês,
italiano e duas em alemão).
Das obras
produzidas individualmente em português destaca-se Pessoa por conhecer (2
volumes, mais de 400 inéditos) e uma edição crítica: Álvaro de Campos – Livro
de Versos (mais de 80 poemas inéditos).
Organizou
várias exposições sobre Fernando Pessoa, em Espanha (inauguração em Madrid,
itinerante por toda a Espanha), no Brasil (inaugurada em S. Paulo, depois
itinerante) e em França (Paris, Centre Pompidou – Beaubourg).
Tem-se
dedicado à obra de Miguel Torga, sobre a qual tem vários ensaios. Tem além
disso colaborado regularmente em várias publicações literárias portuguesas e
estrangeiras, quer no domínio do ensaio, quer da poesia.
Dedica-se à
poesia, tendo três livros publicados e, regularmente, a teatro.
Tem peças
publicadas e representadas em Portugal e no estrangeiro: França, Bélgica,
Itália, Roménia, Alemanha. A sua peça Se Mentes (Wenn du lügst – Samen) foi
escolhida para representar Portugal no Festival de Autores de Teatro na Bonner
Biennale 94 – e posteriormente representada em Munique e em Roma.
Obra
Ensaio
Fernando Pessoa et le drame symboliste - héritage et création. Paris: C.C. Português da Fundação Gulbenkian, 1977; 2ª ed. 1985.
Pessoa por Conhecer I. Lisboa: Estampa, 1991.
Miguel Torga - Ofícios a "Um Deus de Terra". Porto: Asa, 1993.
Fernando Pessoa et le drame symboliste - héritage et création. Paris: C.C. Português da Fundação Gulbenkian, 1977; 2ª ed. 1985.
Pessoa por Conhecer I. Lisboa: Estampa, 1991.
Miguel Torga - Ofícios a "Um Deus de Terra". Porto: Asa, 1993.
Edição de textos de Pessoa
Álvaro de Campos, Vida e obras do Engenheiro. Lisboa: Estampa, 1990; 2ª ed. 1992.
Pessoa por Conhecer II. Lisboa: Estampa, 1990
A Hora do Diabo. Lisboa: Rolim, 1988.
O Privilégio dos Caminhos. Lisboa: Rolim, 1988.
Pessoa Inédito. (Org.) Lisboa: Livros Horizonte, 1993.
Álvaro de Campos: Livro de Versos. (edição crítica). Lisboa: Estampa, 1ª e 2ª ed.,1993; 3ª ed.
Os Melhores Poemas de Fernando Pessoa (prefácio e selecção). S. Paulo: Global, 1986; 7ª ed. 1995.
Álvaro de Campos: Notas para a recordação do meu mestre Caeiro. Lisboa: Estampa, 1997.
Álvaro de Campos, Vida e obras do Engenheiro. Lisboa: Estampa, 1990; 2ª ed. 1992.
Pessoa por Conhecer II. Lisboa: Estampa, 1990
A Hora do Diabo. Lisboa: Rolim, 1988.
O Privilégio dos Caminhos. Lisboa: Rolim, 1988.
Pessoa Inédito. (Org.) Lisboa: Livros Horizonte, 1993.
Álvaro de Campos: Livro de Versos. (edição crítica). Lisboa: Estampa, 1ª e 2ª ed.,1993; 3ª ed.
Os Melhores Poemas de Fernando Pessoa (prefácio e selecção). S. Paulo: Global, 1986; 7ª ed. 1995.
Álvaro de Campos: Notas para a recordação do meu mestre Caeiro. Lisboa: Estampa, 1997.
Poesia
Os Dedos, os Dias, as Palavras. Porto: Figueirinhas, 1987.
Por Assim Dizer. Lisboa: De Viva Voz, 1994.
Cicatriz. Lisboa: Presença, 1996.
Os Dedos, os Dias, as Palavras. Porto: Figueirinhas, 1987.
Por Assim Dizer. Lisboa: De Viva Voz, 1994.
Cicatriz. Lisboa: Presença, 1996.
Teatro
"Três Fósforos" in Teatro 62. Lisboa: Guimarães Editores, 1962.
Sopinhas de Mel. Lisboa: Moraes Editores, 1980.
Teatro I . Lisboa: De Viva Voz, 1994.
"Três Fósforos" in Teatro 62. Lisboa: Guimarães Editores, 1962.
Sopinhas de Mel. Lisboa: Moraes Editores, 1980.
Teatro I . Lisboa: De Viva Voz, 1994.
Traduções
Francês
Fernando Pessoa: le théâtre de l'être. Paris: La Différence, 1985; 2ª ed. 1990.
L'Heure du Diable. Paris: José Corti, 1990.
Le Privilège des Chemins. Paris: José Corti, 1991.
Notes en souvenirs de mon maître Caeiro. Paris: Fischerbacher, 1997.
Fernando Pessoa: le théâtre de l'être. Paris: La Différence, 1985; 2ª ed. 1990.
L'Heure du Diable. Paris: José Corti, 1990.
Le Privilège des Chemins. Paris: José Corti, 1991.
Notes en souvenirs de mon maître Caeiro. Paris: Fischerbacher, 1997.
Italiano
L'Ora del Diavolo. Roma: Biblioteca del Vascello, 1992.
L'Ora del Diavolo. Roma: Biblioteca del Vascello, 1992.
Citações sobre a obra
Ensaio
Una radioscopia minuziosissima e straordinaria di tutti i Pessoa (anche dei flatus vocis, anche degli embrioni, anche degli ignoti), il migliore atlante cosmografico della galassia Pessoa, qualcosa che sembra il resoconto di una Comédie Humaine fantascientifica, è l'opera di Teresa Rita Lopes, F.P. et le Drame Symboliste. Héritage et création.
Antonio Tabucchi
Quaderni Portoghesi, nº 2, 1978
Una radioscopia minuziosissima e straordinaria di tutti i Pessoa (anche dei flatus vocis, anche degli embrioni, anche degli ignoti), il migliore atlante cosmografico della galassia Pessoa, qualcosa che sembra il resoconto di una Comédie Humaine fantascientifica, è l'opera di Teresa Rita Lopes, F.P. et le Drame Symboliste. Héritage et création.
Antonio Tabucchi
Quaderni Portoghesi, nº 2, 1978
El nombre de
la profesora, poeta y ensayista Teresa Rita Lopes es una referencia obligada en
cualquier bibliografía mínima sobre Fernando Pessoa: su obra Fernando Pessoa et
le drame symboliste: héritage et création es hoy un trabajo clásico de la
investigación pessoana.
Perfecto E. Cuadrado
El Pais, 8/3/91
Perfecto E. Cuadrado
El Pais, 8/3/91
Le théâtre
de l'être propose une 'mise en scène' bilingue des poèmes de sept
heteronymes.
Patrick Théveneau
L'Express, 2/5/85
Patrick Théveneau
L'Express, 2/5/85
"Ce que
je suis essentiellement (…) c'est un dramaturge" disait encore Pessoa.
Teresa Rita Lopes lui donne raison, qui, en assemblant dans son admirable
Théâtre de l'être l'essentiel de l'ouvre du poète, effectue une confrontation
entre Pessoa et ses hétéronymes, qui vaut la plus subtile des éxègeses.
Hector Bianciotti
Le Nouvel Observateur, 11/6/85
Hector Bianciotti
Le Nouvel Observateur, 11/6/85
Teresa Rita
Lopes donne de son génie une representation de textes confrontés et "mis
en situation": il prouve que toute une lumière n'est pas faite sans Pessoa
et qu'un hétéronyme peut en cacher un'autre, plus petit.
Alain Bosquet
Magazine Littéraire, Juillet/Aôut, 1985
Alain Bosquet
Magazine Littéraire, Juillet/Aôut, 1985
Ce beau et gros ouvrage indique un des itinéraires possibles et le lecteur
français s'y perdra avec surprise et bonheur.
Pierre Rivas
La Quinzaine Littéraire, 31/5/85
Pierre Rivas
La Quinzaine Littéraire, 31/5/85
E cabe-nos
felicitar a autora de Fernando Pessoa et le Drame Symboliste pela fundura da
análise, riqueza dos seus pontos de vista e
a singularidade da sua visão do problema.
João Gaspar Simões
Diário de Notícias, 6/7/78
a singularidade da sua visão do problema.
João Gaspar Simões
Diário de Notícias, 6/7/78
Poesia
O poema está completo, porque ele é, acima de tudo, a tentativa de reduzir o absurdo ao espaço das sensações. Teresa Rita Lopes é uma boa candidata à celebridade, posto que foi envergando uma folha branca para dar bom dia ao dia. E já está pronta para resplandecer, como é seu tempo agora.
Agustina Bessa-Luís
Primeiro de Janeiro, 11/11/87
Há na poesia
de Teresa Rita [publicada em 1987 sob o título Os Dedos, Os Dias as Palavras]
uma constante réplica ao quotidiano e essa réplica é uma afirmação de liberdade
contra todos os entraves que impedem a adesão ontológica do ser a si
mesmo.
António Ramos Rosa
in A Parede Azul
António Ramos Rosa
in A Parede Azul
Tudo muda em
Os Dedos os Dias as Palavras Tudo muda porque tudo nasce, renasce, renova. Ou
tudo se inventa e reinventa, descobre-se ou se redescobre. Trata-se de um
nascimento fundador (…) O que dá origem, alimento e abrigo. Um útero. E uma
mãe.
Maria Lúcia Lepecki
Diário de Notícias, 5/6/88
Maria Lúcia Lepecki
Diário de Notícias, 5/6/88
Ao escrever
sobre Cicatriz, parto de uma reacção emocionada, a de quem se sente atingido
por uma meditação constituída por uma espécie de viagem (…) São versos que
podemos recitar: dizem o que não sabemos dizer, tocam-nos com a evidência do
que há a dizer.
Silvina Rodrigues Lopes
Público, 25/5/96
Silvina Rodrigues Lopes
Público, 25/5/96
É o que
Teresa Rita Lopes faz neste seu livro. Convoca o tempo original. Fá-lo através
dos sons, dos cheiros, dos sítios e das imagens da infância. Mas também através
dos ditos e das conversas. O poema procura a fala primordial. Pronuncia as
palavras mágicas do paraíso perdido.
Manuel Alegre
(na apresentação de Cicatriz, Março 1995)
Manuel Alegre
(na apresentação de Cicatriz, Março 1995)
Teatro
"Se Mentes" (was mi "Wenn du lügst", aber auch mit "Samen übersetzt werden kann) heit die überrragende Aufführung des "Teatro o Bando aus Lissabon, in der ein junges Mädchen mit ihrem älteren alter ego über Liebe, Sexualität, Ideale und Sensüchte ring und streitet und eifersüchtelt. "Die Personen dieses Stückes sind auf die Dynamik ihrer Sensüchte reduziert", schreibt die Fernendo-Pessoa-Spezialistin Teresa Rita Lopes über ihren so poetischen wie surrealen Text.
Matthias Pees
Süddeutsche Zeitung, 21/6/94
Teresa Rita Lopes hat mit "Se Mentes" (Wenn du Lügst) ein
poetisches Traumspiel verfat, dessen Sprache an Lorca erinnert und zuweilen die
Grenze des Schwülstigen streift.
Eva Pfister
Neue Zeit, 29/6/94
Eva Pfister
Neue Zeit, 29/6/94
Teresa Rita
apareceu, fulgurantemente, nos finais da década de 50 e princípios da de 60.
Era o tempo da efémera tentativa do Teatro de Novos para Novos (…) Para todos,
as frustrações e os desgastes provocados pela Censura. Teresa Rita terá sido
nessa época (…) particularmente cilindrada pela circunstância… donde ser agora
muito gratificante o verificar-se que, apesar de tudo, não ficou destruída para
o Teatro (…)
Fernando Midões
Diário Popular, 26/01/83
Fernando Midões
Diário Popular, 26/01/83
Grande
Prémio de Ensaio Unicer/Letras & Letras, 1993 (Miguel Torga - Ofícios a
"Um Deus da Terra")
Prémio de
Ensaio Pen Club, 1990 (Pessoa por Conhecer)
Prémio Eça
de Queirós de Poesia, 1997 (Cicatriz)
POEMA DE
TEREZA RITA LOPES
POEMA DE NATAL
No Natal lembramo-nos das pessoas de quem regularmente
nos esquecemos durante todo o ano
e enviamos cartões
de Boas Festas
agora sob a forma de
rápidos e-mail’s
(alguns até tocam música)
e de sucintos SMS
em abreviaturas.
O Pai
Natal chega com bastante antecedência
para montar o negócio com tempo.
Espalhadas por todo o lado
ei-las as suas veneradas figurações como alpinista
a escalar
os prédios agarrado a uma corda.
Ou será como bombeiro?
Ou talvez como assaltante!
Estaria mais
de acordo com a crise
e com a paisagem urbana.
Confesso a minha saloia
saudade
dos presépios da infância em que recriava o mundo
apesar
dos gritantes anacronismos: até punha comboios e
carrinhos
de brincar a correr para o Menino Jesus!
Mas que prazer
e que poder inventar montanhas com pedaços de
cortiça
lagos com espelhos
e povoar esse pequeno mundo com casinhas
e moinhos e ovelhas e pastores e patos e até
lavadeiras!
Se eu não tivesse armado e amado em menina os meus
presépios
seria hoje outra pessoa
na minha relação com a casa e com o mundo.
Pena que já não seja o Menino Jesus a dar as prendas
natalícias
por que já não espero!
Os meus sapatos cresceram demais
para os pôr na chaminé
que aliás já não tenho (um exaustor
metálico faz as vezes de).
Dantes aí púnhamos o
sapatinho
na Noite de Natal com o coração a pular
mas tínhamos
que esperar pelos presentes a noite inteira porque só
na manhã
seguinte os podíamos ir buscar.
Era sobretudo a espera que
os tornava preciosos.
Agora é tudo dito e feito
não há tempo
para esperar:
o Pai Natal avia toda a
gente
pequenos e grandes
na Noite de Natal
(alguns desconfiam que as suas prendas vieram
do Chinês da esquina e arrependem-se das que deram).
Mas a verdade
verdadinha é que continuamos todos a gostar do Natal
talvez
porque no fundo do ser ainda esperamos por essa prenda
que não
sabemos quem nos prometeu
e
ainda nos não deu.
FAZER DA DOR SUBTERRÂNEA
Fazer da dor
subterrânea
uma flor
desperta
FAZER DA DOR SUBTERRÂNEA
Fazer da dor
subterrânea
uma flor
desperta
fazer do choro
represo
uma ave
liberta
Ah! poder
lançar
no ar
este negro
fogo
preso
In A Fímbria da Fala
Editora Ausência, 2002
TERESA RITA LOPES - VÍDEOS
Imagina que descalcei o sapato e agora não o consigo enfiar
De
Teresa Rita Lopes
COVERSA COM TERESA
RITA LOPES E BATISTA BASTOS
De
Teresa Rita Lopes
COVERSA COM TERESA
RITA LOPES E BATISTA BASTOS
Gostei muito da homenagem. A beleza é um componente que atravessa todos os escritos desta artista. Um senso estético que beira a perfeição associado a uma inteligência brilhante.
ResponderExcluirCláudia.
De Acordo com comentário anterior. Trata-se de uma escritora ensaísta, dramaturga e poeta de grande sensibilidade que partindo de conteúdos sempre muito simples nos oferece uma grande complexidade das coisas humanas com sentido estético profundo.
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