ELISE HAQUIM
– A REVELAÇÃO DE UM TALENTO
É com muito
gosto que trazemos hoje ao conhecimento dos nossos milhares de leitores um caso
muito interessante de talento artístico para a poesia e desenho que floriram
de entre a dor e o sofrimento. E trata-se de uma revelação tão inesperada e dolorosa
quanto bela, como aquelas maravilhosas flores que resplandecem dos cactos do
deserto ou de lagoas interiores de águas fechadas.
Elise Haquim
é pedagoga clínica, em Curitiba, encantadora capital do Estado do Paraná, no sul do Brasil, hoje
coordenando o núcleo de educação e psicanálise na Associação Serpiá, atendendo
crianças, adolescentes e suas famílias no trabalho com o
sofrimento psíquico. Elise foi-nos apresentada e revelada pela nossa cara amiga, a escritora Maria Cristina Hein Lacerda, membro do nosso corpo editorial-redatorial, nossa representante em Curitiba, a quem estamos gratos por este privilégio de publicação de estreia, em exclusivo para esta nossa revista C.A.L.
A história
da descoberta da escrita e dos desenhos-pinturas de Elise Haquim é deveras
curiosa e resultou de uma situação de grande angústia e sofrimento. Aconteceu,
por acaso, no decurso de uma situação grave de saúde. E foi assim que, do
escuro da dor, surgiu e resplandeceu a luminosidade de um talento em que a arte
sublimou o sofrimento.
Mais uma vez a arte salvou ! Neste, como em muitos casos, o espírito humano se eleva pela arte, mesmo nos momentos de trevas, porque na arte, como profunda manifestação de humanização pela estética que é, se pode encontar o sentido da vida, como revelação ! Toda a criação artística exige sofrimento e o encontro com a exigência da estética é já um conflito angustiante.
Mais uma vez a arte salvou ! Neste, como em muitos casos, o espírito humano se eleva pela arte, mesmo nos momentos de trevas, porque na arte, como profunda manifestação de humanização pela estética que é, se pode encontar o sentido da vida, como revelação ! Toda a criação artística exige sofrimento e o encontro com a exigência da estética
Ouçamos a narrativa dessa revelação pelas palavras da própria poetisa-desenhista Elise Haquim:
“Esses meus escritos e desenhos, surgiram em uma época
que tive como diagnóstico, hepatite C, em grau bem adiantado.
Precisei me deparar com inúmeros preconceitos e desinvestimentos, restando
apenas a realidade da doença. Na época, eu e minha irmã soubemos que estávamos ambas
infectadas, mas com diferença no prognóstico: o dela era de vida (grau 1, sem
atividade), o meu não era tão bom ( grau 3 para 4, em atividade) e
mais alguns agravantes.
Iniciei o tratamento e com isso, a dor e a solidão.
Nesse processo fui acompanhada por uma psicanalista que me sugeriu a
escrever ou desenhar, o que viesse em minha mente. E foi o que fiz e esse
foi o resultado. Primeiro, a dor me calou fundo, não havia palavras possíveis,
por isso os desenhos surgiram antes. Depois, no final do tratamento (um ano), vieram as
palavras.
No decorrer do tratamento minha irmã sucumbiu a um
aneurisma, que resultou em uma vida vegetativa. Esses são os
mistérios que a vida conserva e em si reserva: quem tinha um
prognóstico de vida, “morreu”, e quem tinha um prognóstico incerto, sobreviveu.
Na época, quando comecei a escrever, estava sob os efeitos do medicamento, com
pensamentos intermitentes e funcionando numa lógica do inconsciente…”.
Os desenhos
de Elise Haquim mostram-nos uma expressão onírica em que se manifesta a transfiguração
de realidades simbólicas que habitam o inconsciente da artista. Alguns desses
impressionantes mas belos desenhos sugerem-me as criações de duas geniais artistas
plásticas portuguesas contemporâneas, de reputação internacional, que se exprimem muito por
esses interditos transfigurados, fantásticos e grotescos, como estes desenhos
de Elise.
Refiro-me a Paula Rego (1935…), radicada em Londres (onde, em leilões, quadros seus têm chegado a valores de 800.000 Euros), e a Graça Morais (1948…), radicada em Lisboa (amigas entre si), que também nos transmite nas suas pinturas esse figurativo transfigurado com a força de um simbolismo que brota das profundezas do onírico, por vezes atormentado com angústias trazidas desde a infância de ambas.
Os poemas e os desenhos de Elise Haquim nasceram, como ela própria disse, em ocasiões diferentes, e a sua fusão é uma escolha posterior da autora que lhes encontra expressões emocionais semelhantes, por isso os junta para que as vozes (ou gritos) se elevem mais ou, simplesmente, dialoguem entre si.
Refiro-me a Paula Rego (1935…), radicada em Londres (onde, em leilões, quadros seus têm chegado a valores de 800.000 Euros), e a Graça Morais (1948…), radicada em Lisboa (amigas entre si), que também nos transmite nas suas pinturas esse figurativo transfigurado com a força de um simbolismo que brota das profundezas do onírico, por vezes atormentado com angústias trazidas desde a infância de ambas.
Os poemas e os desenhos de Elise Haquim nasceram, como ela própria disse, em ocasiões diferentes, e a sua fusão é uma escolha posterior da autora que lhes encontra expressões emocionais semelhantes, por isso os junta para que as vozes (ou gritos) se elevem mais ou, simplesmente, dialoguem entre si.
É, pois, um
privilégio, iniciar hoje a publicação da produção artística de Elise Haquim, porque, estamos certos, a beleza (às vezes perturbadora ou
inquietante) da sua poesia e dos seus desenhos, trará aos nossos caros milhares
de leitores uma experiência, ao mesmo tempo, de grande beleza estética que esta criadora nos
revela.
Mas Elise Haquim, também nos mostra um exemplo de vida e espírito solidário e fraternal, porque de uma experiência de sofrimento, nasceu também a sua determinação em se consagrar profissionalmente ao apoio e atendimento de crianças, adolescentes e famílias em sofrimento psíquico.
BEM HAJA, ELISE HAQUIM ! SEJA BEM VINDA AO CULTURAS E AFETOS LUSÓFONOS!
Mas Elise Haquim, também nos mostra um exemplo de vida e espírito solidário e fraternal, porque de uma experiência de sofrimento, nasceu também a sua determinação em se consagrar profissionalmente ao apoio e atendimento de crianças, adolescentes e famílias em sofrimento psíquico.
BEM HAJA, ELISE HAQUIM ! SEJA BEM VINDA AO CULTURAS E AFETOS LUSÓFONOS!
ESPERAMOS CONTINUAR A RECEBER MAIS FLORES BELAS DO SEU JARDIM ARTÍSTICO, SEJAM POEMAS OU DESENHOS OU AMBOS EM FUSÃO DE “POEMAS PLÁSTICOS”!
Carlos Morais dos Santos
Cônsul (Lisboa) M.I. Poetas Del Mundo
Apreciemos alguns
dos poemas e desenhos de Elise Haquim:
RESIGNAÇÃO
Repassa transpassa
Insiste em se fazer
Presente na gente
Cansaço! Já não consigo
Frear o repasso da vida
Que faço seqüente tento
O rechaço
Me vejo aos panos
Que os danos já
Causaram Reduzir
A pena daquele que
Se despena por ter
Nascido na arena
Trinta anos pagando
A pena sem saber
O porquê de ser
Refém da algema
Que pena não ter
Um programa que
Reduzisse as penas
Daquele que ousou
Em cena ser o protagonista
De um mecenas
APARTAR
Felizardo esse Artaud
Que apenas nove anos
Se encerrou
Quanta gente
Dentro da gente
Já faz mais anos
Que se calou
Sonoras palavras
Pronunciadas no ventre
Que traz para si
Ondas de calor
Vindo da boca
Da morte
Ventre livre
Que boca rôta
Na rota da dor
Salário mínimo
Daquele que paga
em vida o amor
Na emergência
Da ausência,
Descontinuidade.
Não existe
O ter sido
Só o tecer.
Ausência só sente
Quem teve presença.
Sabe-se lá que
Sença na crença
Sente-se em lar?
Alarido esse riso
Triste na desesperança
De ter o riso sorriso
Daquele que ama em cor.
Vânias,
Pifânias,
Ora bolas,
Que tantas
Tânias, Sanias.
Que gema.
INTERFERON
Vai pela esfera
Prelúdio quem dera
De mera face
Sem lado espera
Fastiado se encontra
Embolado na onda
Da areia surrada
No corpo suado
Prefácio adágio
Cercado se via
Em meio pedágio
Suporte meeiro
Em pé no bonde
Havia presságio
A carta aberta
Se faz presente
No circo armado
Perto da gente
A espera se esmera
Em pôr fim aos anseios
De tamanhos meios
Acalentando o tempo
Sem horas semeio
Cem toras arquitetou
A subida aos céus
Quantos réus há de julgar?
Sugar o que pouco restou
Transfusão na confusão ficou
Meiose acoplou na hematose
Que dose seguinte tomou?
Observa a serva
Que fica na selva
Selvagem em
Turvos declínios.
Suspense
Suspenso
Suspiro
Respiro
Reviro
Sanado
Tarado
Surrado
Enfado
Que saco furado.
Sobre a matéria dessa grande mulher - Elise Haquim, na verdade, não sei o que é mais belo e dignificante: se a vida e obras da poetisa homenageada, ou a aparesentação do dr. Carlos Morais.
ResponderExcluirUma história de vida. A pintura e a poesia, frutos da sensibiliade molhada nas águas dos sofrimentos de uma pessoa linda.
Que benção divina!
Parabéns a ambos: Dr. Carlos e Elise, os quais beijo as mãos e o coração.
Lucia Helena
Nata-RN - Brasil
À essa pessoa maravilhosa, que já me ajudou em diversos momentos com meu filho, e a mim, sendo uma pedagoga espetacular, pessoa admirável a quem tanto prezo, meus parabéns Elise! És uma artista fantástica que merece todo reconhecimento!
ResponderExcluirRealmente uma grande mulher e uam grande guerreira!
ResponderExcluirSuperou todas as dificuldades da vida com muita classe!
Parabéns mãe, você merece todo o reconhecimento pelas suas lindas obras!
Eu te amo muito.
Manoela
Realmente uma grande mulher e uam grande guerreira!
ResponderExcluirSuperou todas as dificuldades da vida com muita classe!
Parabéns mãe, você merece todo o reconhecimento pelas suas lindas obras!
Eu te amo muito.
Manoela
A minha mensagem é para Elisa Haquin, mas também para a Vânia Mercer.
ResponderExcluirVânia que descoberta, hein! Que movimento certo este de ajudar a tua paciente a dar aquele “nó” necessário para reconstituir uma subjetividade abalada! Encantou-me saber que uma terapeuta pôde ajudar dessa maneira a sua paciente (e não apenas assim, eu sei).
Mas, é claro Elisa tinha tudo dentro dela: isso, tinha um enorme talento que lhe emprestou força para superar com beleza tão doloroso momento!
Parabens, Elisa, por ter tido essa coragem de recrutar a tua genialidade nesse momento em que muitos se fecham. E que genialidade! Os teus trabalhos de pintura contém uma expressão especial: representam a dor, mas não uma dor comum, uma profunda dor no feminino!
O que ecoa nos teus versos:
Trinta anos pagando
A pena sem saber
O porquê de ser
Refém da algema...
Beijos para Elisa e para Vânia
Selma
Querida Elise
ResponderExcluirFoi um momento de muitas dores e dificuldades. A hora do desafio em que Deus testou todos os seus limites e, como prêmio de superação, fez de você artista e poeta. Agora que tudo já passou Ele mostra ao Brasil inteiro a pessoa forte, talentosa e maravilhosa que você é. Te admiro muito e estou muito feliz por você.
Um grande beijo,
Mari.
Querida Elise
ResponderExcluirMeus parabéns !! Sinto-me feliz por ter conhecido você, cuja alma transborda poesia.Só mesmo uma poetisa conseguiria extrair da dor e do sofrimento arte e beleza ! Para nós é um exemplo de força e coragem e tenho certeza que a sua história está sendo um estímulo para todos que se encontram diante desse grande desafio que é VIVER! E você me dizia que não era nem escritora nem desenhista !!!Agora não dá mais para negar: o mundo está vendo a artista que você é ! Um super abraço da Maria Cristina
Ao Carlos
ResponderExcluirSou muito agradecida pela oportunidade de participar deste Blog-Revista. Isto tem me proporcionado experiências riquíssimas, possibilitado conhecer pessoas interessantes que sempre acrescentam algo à minha vida.
O nosso ( posso chamar assim ?) Blog está divulgado no Blog de Wagner Rengel - EVA PORUS - apresentado pela Elise Haquim - quem sabe um futuro escritor a nos presentear com a sua obra. Se quiser conhecer...
Um grande abraço
Maria Cristina
O nosso Blog-Revista de Culturas Lusófonas está em grande expansão e eu sinto-me muito contente por isso acontecer devido, sobretudo, a colaborações muito estimáveis dos membros do nosso Conselho Editorial-Redatorial e aos nossos milhares de leitores-divulgadores. Estou grato a todos.
ResponderExcluirNo caso desta (postagem) publicação em honra à poesia e desenhos de Elise Haquim, que consideramos um talento que é justo publicar e homenagear, devemos essa grande honra e grande satisfação à nossa querida representante em Curitiba, Maria Cristina Hein Lacerda que nos apresentou o magnífico trabalho de poesia e desenho de Elise Haquim. A ela se deve, pois, a oportunidade de termos conhecido tão talentosa poetisa-desenhista que é Elise. Felicito vivamente ambas que tão bem representam o Estado do Paraná e Curitiba e enriquecem este nosso Blog-Revista Cultural.
Mas quero aqui destacar, também, o meu contentamento pelos justos e carinhosos comentários sobre esta postagem, vindos de tantas pessoas que não conheço - algumas passaram, certamente, a fazer parte dos nossos milhares de leitores habituais - e, muito especialmente, às queridas amigas e amigos que muito apreciaram o trabalho de Elise Haquim e o nosso,com palavras sábias,sensíveis e comoventes, ditadas umas aqui, em comentários, outras que me foram enviadas por email, por quem tem grandes méritos literários firmados e reconhecidos, como são os de:
- Lúcia Helena Pereira, Poetisa das Flores, Cônsul por Ceará Mirim (RN)do Mov.Intern. Poetas Del Mundo, grande poetisa nordestina;
- Selma Calasans Rodrigues, Professora de Literatura Comparada (UFRJ e UL.Lisboa), Psicanalista e escritora;
- Eduardo Gosson - escritor-poeta, Presidente da UBE-União Brasileira de Escritores/RN;
A todos, em nome do nosso Blog, o meu reconhecimento pelas comoventes palavras dirigidas a Elise Haquim e pelo estímulo que também dão ao nosso gratificante trabalho de divulgarmos e promovermos aqui os autores menos conhecidos, mas talentosos, que é a nossa prioridade, sem deixarmos de prestar, de quando em vez, os nossos Tributos de Homenagem aos grandes autores da Lusofonia, vivos ou já residentes no Oriente Eterno, lá de onde vem a Luz maior, o Sol radiante dos sábios e artistas.
Um grande e afetuoso abraço
Carlos Morais dos Santos