O que o acaso tece, pode ser o encontro improvável de “Nós e Laços” poéticos entre dois poetas de dois países lusófonos, e que, apesar de ambos terem coexistido na contemporaneidade, dificilmente se teriam encontrado e conhecido.
Um deles, já descansando no “oriente eterno”, grande poeta brasileiro – Mário Quintana – oriundo do sul do Brasil (Porto Alegre), que deixou uma obra imortal, que ainda é, e será, cantada sempre que se tiver de declamar a poesia dos melhores representantes da galeria superior dos poetas brasileiros.
O outro, um poeta português de uma geração posterior à do primeiro, ainda afinando o seu alaúde de menestrel contemporâneo, que mais se compraz na contemplação das obras cantadas por Mestres, como é um exemplo Mário Quintana, do que se revê como cantor poético de primeira linha. Ao invés, melhor se lhe afigura o papel de mais um poeta misturado no grande corpo coral desses poetas, cuja função é irem garantindo a música de acompanhamento que vai servindo de prelúdio e fundo musical, aos cantos dos grandes cantores da imortal música poética daqueles, cujos “Nós e Laços” que teceram, ou tecem, são anéis de ouro fino e puro, de brilho permanente.
Vem isto a propósito, de eu, Carlos Morais dos Santos, português de Lisboa – poeta menor – ter sido premiado com uma gratificante descoberta feita ao “capinar”, um destes dias, a obra poética do grande Mário Quintana. Deparei-me com um poema de Mário Quintana, cujo título é igual a um outro que compus, em Barcelona, no ano de 2003, sem saber, então, da existência de outro título semelhante.
Duas épocas, dois poetas, duas poéticas, a mesma temática – a amizade, o amor, “Os Nós e os Laços”. Vejamos esses dois cantos que nos cantam o que é, e sempre será eterno na poesia, como na vida: OS AFETOS !
Poeta brasileiro Mário Quintana
NÓS E LAÇOS
(Mário Quintana)
(Mário Quintana)
Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço... uma fita dando voltas.
Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o laço.
É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço.
É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido, em qualquer coisa onde o faço. E quando puxo uma ponta, o que é que acontece?
Vai escorregando... devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.
Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.
E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.
Ah! Então, é assim o amor, a amizade. Tudo que é sentimento.
Como um pedaço de fita. Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora, deixando livre as duas bandas do laço.
Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade.
E quando alguém briga então se diz: romperam-se os laços.
E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço.
Então o amor e a amizade são isso...
Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço.
Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o laço.
É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço.
É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido, em qualquer coisa onde o faço. E quando puxo uma ponta, o que é que acontece?
Vai escorregando... devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.
Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.
E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.
Ah! Então, é assim o amor, a amizade. Tudo que é sentimento.
Como um pedaço de fita. Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora, deixando livre as duas bandas do laço.
Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade.
E quando alguém briga então se diz: romperam-se os laços.
E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço.
Então o amor e a amizade são isso...
Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço.
OS NÓS E OS LAÇOS
(Carlos Morais dos Santos)
Se os Nós que nos ligam
São fortes Laços,
Que os sentimentos digam São fortes Laços,
Se são abraços !
Se são abraços com fervor
E Nós para durar,
Então são Laços de amor, E Nós para durar,
Não são Nós para desatar !
Se os Laços ficarem lassos
E os Nós a deslassar, São Nós e Laços, fracassos,
São ligações a findar !
Há complicados Laços
Que queremos desmanchar,
Não são Laços, são embaraços, São Nós cegos, de atormentar !
Só Nós e Laços bem ligados
Fazem na vida a ligação Dos afectos entrelaçados
E dos Nós de amor em comunhão !
Mas só há vida bem vivida
Com Nós e Laços a emendar, Porque a uma vida não sofrida
Faltam Nós e Laços para a enfeitar !
Carlos Morais dos Santos
Cônsul do M.I. Poetas Del Mundo
Fotos de Carlos M.Santos
Os dois poetas nos puseram a pensar: nós e laços, lassos ou não de Carlos Morais dos Santos, a fita de Mário Quintana que, afinal fica inteira quando se desmancham os laços. Em ambos laços e abraços ao rimarem, juntam-se no som e fazem correr o significado intensificado por esta via... E nós, leitores ficamos mais ricos com essa aproximação de dois poetas e, sem dúvida, mais alertas nas nossas próprias relações amorosas, familiares: nós ou laços?
ResponderExcluirBênçãos@aosdois!
ResponderExcluirRiscando verso...
No verso traço o ressalto
As letras rastejam inibidas
Às vezes dou vida ao morto
Os roços mortos nas vidas.../
No verso traço o ressalto
Rastreando os destroços
Às vezes rabisco abstrato
Às vezes o lúdico esboço.../
No verso traço o ressalto
Às vezes matizo a lúbrica
Às vezes de mim arrebato
Gotejo carpindo a lírica.../
No verso traço o ressalto
Às vezes o luto insiste
Versejo ao vil candidato
A dor que não mais existe.../
No verso traço o ressalto
Sopro a lembrança triste
Imprimo meu celibato
No verso o poema insiste.../
No verso traço o ressalto
Às vezes desenho cordato
Versando me desbarato
Nos ridos do anonimato.../
No verso traço o ressalto
As letras rastejam inibidas
Às vezes dou vida ao morto
Os roços mortos nas vidas.../
“A Poetisa dos Ventos”
Deth Haak
A Voz
"Ser poeta não é dizer grandes coisas, mas ter uma voz reconhecível dentre todas as outras."
Mario Quintana, e a Carlos Morais meu apreço.
Bacana teu blog
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