TRIBUTO DE HOMENAGEM
AO PROFESSOR EDUARDO LOURENÇO
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Carlos Morais dos Santos
Professor Universitário
Escritor, ensaísta, poeta, fotógrafo
Editor/Administrador do CeA.L.
Cônsul da Assoc.Internac. Poetas Del Mundo
CULTURAS E AFETOS LUSÓFONOS CELEBRA E SAÚDA HOJE, AQUI, O MAIS ILUSTRE ENSAÍSTA, PENSADOR, FILÓSOFO PORTUGUÊS DO SÉC.XX-XXI, O PROFESSOR EDUARDO LOURENÇO, PRESTANDO-LHE A NOSSA SINGELA HOMENAGEM, NA OCASIÃO EM QUE MUITO JUSTAMENTE FOI DISTINGUIDO COM MAIS UM IMPORTANTE PRÉMIO - O PRÉMIO PESSOA 2011.
ESTE É MAIS UM ENTRE MUITOS PRÉMIOS E DISTINÇÕES QUE LHE TÊM SIDO ATRIBUÍDAS, QUER EM PORTUGAL, QUER NOUTROS PAÍSES, COM DESTAQUE PARA AS ELEVADAS CONDECORAÇÕES QUE O GOVERNO DA FRANÇA TEM PREMIADO E HOMENAGEADO O NOTÁVEL LABOR INTELECTUAL DESTE GRANDE ENSAÍSTA E PENSADOR DO NOSSO TEMPO.
TEMOS A FELICIDADE E O PRIVILÉGIO DE CONHECER PESSOALMENTE O NOSSO PROFESSOR EDUARDO LOURENÇO, COM QUEM TEMOS TIDO A HONRA E O GRANDE PRAZER DE COM ELE TERMOS ESTABELECIDO UMA RELAÇÃO DE GRANDE CORDIALIDADE E DELE TERMOS BENEFICIADO DE INÚMERAS E FASCINANTES LIÇÕES MAGISTRAIS, APRECIADO A IMENSA LUMINOSIDADE DA SUA INTELIGÊNCIA, CULTURA E PENSAMENTO, E DE COM ELE TERMOS CONVIVIDO EM INÚMEROS EVENTOS LITERÁRIOS EM QUE PARTICIPÁMOS, EM QUE SEMPRE NOS FASCINA COM A SUA PERSONALIDADE E GRANDEZA INTELECTUAL E HUMANA, QUE SE MANIFESTA COM UMA GRANDE SIMPLICIDADE E COM UMA RARA DELICADEZA AMISTOSA NO TRATO PESSOAL. SÃO ASSIM AS GRANDES FIGURAS HUMANAS, COMO O PROFESSOR EDUARDO LOURENÇO, COM QUEM AINDA ESTE ANO ESTIVÉMOS NUM ENCONTRO INTERNACIONAL SOBRE FERNANDO PESSOA E NIETZSCHE, NA CASA FERNANDO PESSOA, EM LISBOA.
EDUARDO LOURENÇO é o 25.º premiado com o Prémio Pessoa, uma iniciativa do Expresso em colaboração com a Caixa Geral de Depósitos.
Eduardo Lourenço de Faria, tem 88 anos e uma vasta e importante obra de grande valor publicada, o que foi determinante a escolha unânime do júri deste ano. A reedição, pela Fundação Caloustre Gulbenkian, da sua obra completa - num total de 38 volumes - foi o motivo mais imediato para a atribuição do prémio.
Um trabalho 'ciclópico', como afirmaram os responsáveis científicos da Fundação Calouste Gulbenkian que este ano iniciaram a publicação da obra. De facto, são 38 volumes de ensaios político-filosóficos escritos entre os anos de 1945 e 2010, de um autor que apesar da sua enorme projecção internacional permanece "pouco lido em Portugal", justifica a Gulbenkian.
Beirão radicado em FrançaEduardo Lourenço nasceu numa pequena aldeia da Beira Alta, em 1923. Cedo radicado em França, permaneceu sempre fortemente ligado a Portugal.
"Fico furioso", afirmou recentemente em entrevista, quando questionado sobre o facto de poder ser considerado exilado. Ainda este ano, na sua aldeia, foi homenageado como figura ímpar da cultura nacional. O Prémio Pessoa tem, este ano, o valor de 60 mil euros.
"Num momento crítico da História e da sociedade portuguesa, torna-se imperioso e urgente prestar reconhecimento ao exemplo de uma personalidade intelectual, cultural, ética e cívica que marcou o século XX português", escreveu o júri em comunicado sobre a escolha de Eduardo Lourenço, homenageando "a generosidade e a modéstia desta sabedoria, que tendo deixado uma marca universal nos Estudos Portugueses e nos Estudos Pessoanos, nunca desdenhou a heteredoxia nem as grandes questões do nosso tempo e da nossa identidade".
Doutores Mário Soares e Francisco Pinto Balemão, Membros do Júri
do Prémio Pessoa 2011, no Palácio Seteais, em Sintra-Portugal
Para o júri, do qual Eduardo Lourenço foi membro até 1993, este prémio pretende prestigiar o filósofo e a sua intervenção na sociedade, "ao longo de décadas de dedicação, labor e curiosidade intelectual, que o levaram à constituição de uma obra filosófica, ensaística e literária sem paralelo".
Eduardo Lourenço é o grande intérprete da identidade portuguesa com projecção internacional.
1923
Nasce em 23 de Maio, embora conste do assento de nascimento a data de 29 de Maio, em S. Pedro do Rio Seco (concelho de Almeida, distrito da Guarda) Eduardo Lourenço de Faria, filho de Abílio de Faria, 2.º Sargento de Infantaria, e de Maria de Jesus Lourenço, tendo como avós paternos Guilherme de Faria e Maria Nunes e, como avós maternos, António Lourenço e Ana Carpinteiro.
1930-1931
Frequenta a Escola Primária em S. Pedro do Rio Seco.
1932
Parte com a mãe e os irmãos para a Guarda, onde o pai é Alferes de Infantaria.
1933
Em Almeida, conclui o 2.º grau do ensino primário, tendo sido aprovado com distinção no exame final.
1934
Regressa à Guarda onde frequenta o 1.º ano do ensino secundário no Liceu Afonso de Albuquerque. O pai parte para África (Nampula).
1935-40
Entra no Colégio Militar, em Lisboa, cujo curso conclui em 1940.
1940
Faz provas de admissão aos cursos preparatórios destinados a alunos provenientes das escolas militares, tendo sido admitido pela Faculdade de Ciências, em 06/07/40.
1941
Desiste dos cursos preparatórios na Faculdade de Ciências e presta provas de aptidão com destino à Licenciatura em Ciências Históricas e Filosóficas.
1946
Defende a tese de licenciatura, subordinada ao tema O Sentido da Dialéctica no Idealismo Absoluto (mais tarde publicada, em parte, em Heterodoxia I). Conclui, a 23 de Julho, o acto de licenciatura em Ciências Históricas e Filosóficas com 18 valores.
Publica “Crónicas Heterodoxas” no Diário de Coimbra.
1947
É convidado para Assistente do Curso de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, à qual estará ligado até 1953 (Professor titular Joaquim de Carvalho).
1949
Parte para França, a convite do Reitor da Faculté de Lettres da Universidade de Bordéus, com uma Bolsa de Estágio da Fundação Fulbright.
1950
Assistente de Filosofia na Universidade de Coimbra desde 1950/51 a 1952/53.
1953
Leitor na Universidade de Hamburgo.
1954
Casa com Annie Salamon a 20 de Abril, em Dinard, Bretenha.
Leitor na Universidade de Heidelberg.
1955
Leitor na Universidade de Montpellier.
1958
Professor convidado na Universidade da Baía.
1960
A convite do governo francês, torna-se leitor na Universidade de Grenoble entre os anos lectivos de 1960/61 e 1964/65.
1965
É “Maître-assistant” e professor associado da Universidade de Nice (até à jubilação, em 1988/89). Fixa residência em Vence, Alpes Marítimos.
1973
Torna-se professor convidado da Universidade Nova de Lisboa.
1986
Maître de Conferences, associado na Faculdade de Letras de Nice.
1988
Professor Jubilado na Universidade de Nice.
Recebe o Prémio Europeu do Ensaio “Charles Veillon”, pelo conjunto da sua obra.
1989
Conselheiro Cultural junto da Embaixada Portuguesa em Roma, até ao ano de 1991.
1992
Recebe a Ordem do Infante D. Henrique (Grande Oficial). Recebe o prémio António Sérgio.
1995
Doutoramento Honoris Causa, pela Universidade do Rio de Janeiro.
1996
Officier de L’Ordre de Mérite, (distinção atribuída pelo Governo francês).
Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Coimbra.
Recebe o Prémio Camões.
1998
Doutoramento Honoris Causa pela Universidade Nova de Lisboa.
2000
É-lhe atribuído, pelo governo francês, a distinção de Chevalier de L”Ordre des Arts et des Lettres.
2001
Recebe o prémio Vergílio Ferreira.
Recebe a Medalha de Ouro da cidade de Coimbra.
2002
Condecorado pela França, com a Legião de Honra, no grau de Cavaleiro.
2003
Homenageado pela revista brasileira Metamorfoses, com um dossier comemorativo sobre a sua obra. É neste ano objecto de diversas grandes entrevistas e capas de jornais quando, em Maio, completa 80 anos. Homenageado igualmente pela Biblioteca Municipal da Maia com uma exposição bibliográfica (que se tornou itinerante) e um volume que recolheu os principais textos críticos sobre a obra de Eduardo Lourenço.
2006
Recebe o prémio Extremadura para a Criação, categoria ‘Melhor trajectória literária de um autor Ibero-Americano’.
2007
Doutoramento Honoris Causa pela Facoltà di Lingue e Letterature Straniere Università di Bologna e criação da Cátedra Eduardo Lourenço de História da Cultura Portuguesa. Homenageado no Congresso Internacional Jardins do Mundo que decorreu no Funchal.
2008
O Centro Nacional de Cultura promove, em Lisboa, um Ciclo de Conferências na semana do seu 85º aniversário. Nessa altura também doa três mil livros da sua biblioteca pessoal, nas áreas da Cultura Portuguesa e História das Ideias, à Biblioteca Eduardo Lourenço na Guarda.
Em Outubro, o Centro Nacional de Cultura e a Fundação Calouste Gulbenkian promovem um Congresso Internacional em sua homenagem onde recebe a Medalha de Mérito Cultural .
Recebe a Medalha de Ouro da Cidade da Guarda.
Bibliografia
Livros publicados por Eduardo Lourenço
- Heterodoxia I, Coimbra, Coimbra Editora, 1949 (republicado em 2005).
- O Desespero Humanista na Obra de Miguel Torga e o das Novas Gerações, Coimbra, Coimbra Editora, 1955.
- Heterodoxia II, Coimbra, Coimbra Editora, 1967 (republicado em 2006).
- Sentido e Forma da Poesia Neo-Realista, Lisboa, Ulisseia, 1968 (republicado em 2007).
- Fernando Pessoa Revisitado. Leitura Estruturante do Drama em Gente, Porto, Ed. Inova, 1973 (A ideia central deste livro foi exposta pelo autor em Maio de 1967 numa comunicação apresentada ao Círculo Cervantes de Nice. 2.ª edição em 1981; 3.ªe 4ª edições em 2000 e 2003, com o título Pessoa Revisitado e com novo prefácio; traduzido para francês em 1990, nas edições Métailé, com o título Pessoa l’Étranger Absolu e em 2006 para espanhol, na editora pré-texto;).
- Tempo e Poesia – À Volta da Literatura, Porto, Ed. Inova, 1974 (2.ª edição na Relógio de Água, Lisboa, 1987; republicado em 2003).
- Os Militares e o Poder, Lisboa, Editora Arcádia, 1975.
- O Fascismo Nunca Existiu, Lisboa, D. Quixote, 1976.
- Situação Africana e Consciência Nacional, Lisboa, Pub. Génese, 1976.
- O Labirinto da Saudade – Psicanálise Mítica do Destino Português, Lisboa, D. Quixote, 1978 (Edições sucessivas na D. Quixote: 2..ª ed. 1982, 3..ª ed. 1988, 4..ª ed. 1991, 5..ª ed. 1992. Edição do Círclo de Leitores, em 1988; republicado em 2000, com novo prefácio).
- O Complexo de Marx ou o Fim do Desafio Português, Lisboa, D. Quixote, 1979.
- Espelho Imaginário – Pintura, Anti-Pintura, Não-Pintura, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1981 (2.ª edição aumentada em 1996).
- Poesia e Metafísica – Camões, Antero, Pessoa, Lisboa, Sá da Costa Editora, 1983 (republicado em 2002);
- Prémio de Ensaio Literário Jacinto do Prado Coelho, atribuído pelo Pen Clube em 1984).
- Ocasionais I / 1950-1965, Lisboa, A Regra do Jogo, Edições, 1984.
- Fernando, Rei da Nossa Baviera, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1986 (Recebeu o Prémio Nacional da Crítica, em 1986. 2.ª edição em 1993; republicado em 2008).
- Heterodoxia I e II, Lisboa, Assírio & Alvim, 1987.
- Fernando Pessoa, Roi de Notre Bavière, (Trad. Annie de Faria), Paris, Chandeigne, 1988 (2.ª edição revista e aumentada em 1997).
- Le Labyrinthe de la Saudade – Psychanalyse Mythique du Destin Portugais, (Trad. Annie de Faria), Bruxelles, Ed. Sagres-Europa, 1988.
- Nós e a Europa ou as Duas Razões, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1988 (2.ª ed. em 1989, 3.ª ed. em 1990 e 4.ª ed. aumentada em 1994).
- ’Europe Introuvable. Jalons pour une Mythologie Européenne, (Trad. Annie de Faria), Paris, Métaillé, 1991.
- O Canto do Signo – Existência e Literatura (1957-1993), Lisboa, Editorial Presença, 1994 (Recebeu o Prémio D. Dinis de Ensaio, em 1995).
- Europa – Para uma Mitologia Europeia, Lisboa, Visão, 1994 (republicado em 2001, com novo prefácio).
- Le Miroir Imaginaire – Essais sur la Peinture, (Trad. Annie de Faria), Bordeaux, Ed. L’Escampette, 1994.
- Fernando Re Della Nostra Baviera, (Trad. Daniela Stegagno), Roma, Empirìa, 1997.
- Mythologie de la Saudade. Essais sur la Mélancolie Portugaise, (Trad. Annie de Faria), Paris, Ed. Chandeigne, 1997.
- Nós Como Futuro, Lisboa, Assírio & Alvim, 1997 (Fotografias de Jorge Molder).
- Portugal-Europa, Mythos und Melancholie: Essays, Frankfurt, TFM, 1997 (Tradução para alemão de diversos ensaios publicados em língua francesa).
- O Esplendor do Caos, Lisboa, Gradiva, 1998 (traduzido para francês em 2002 nas edições L’Escampette, com o título La Splendeur du Chaos).
- A Nau de Ícaro, seguido de Imagem e Miragem da Lusofonia, Lisboa, Gradiva, 1999.
- Portugal como Destino, seguido de Mitologia da Saudade, Lisboa, Gradiva, 1999 (publicado no Brasil sob o título Mitologia da Saudade, seguido de Portugal Como Destino, S. Paulo, Companhia das Letras, 1999).
- Mi És Európa, (Trad. Kutor Tünde trad. Csaba Márta, Rákóczi István, Szelényi Zsolt, Székely Y Ervin, Szilágyi Ágnes Judit), Búbosbanka, Ed. Ibisz, 1999.
- A Noite Intacta. (I)recuperável Antero, Vila do Conde, Centro de Estudos Anterianos, 2000 (republicado em 2007, sob o título Antero ou a Noite Intacta).
- La Culture à l’Ère de la Mondialisation, suivi d’un Portrait par Catherine Portevin, (Trad. Annie de Faria), Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.
- Mythologie der Saudade. Zur Portugiesischen Melancholie, Frankfurt am Main, Ed. Suhrkamp, 2001 (Tradução para alemão de diversos ensaios da edição francesa).
- Europa Y Nosotros o las Dos Razones, (Trad. Ernesto García Cejas e Vicente Araguas), Madrid, Huerga Y Fierro Editores, 2001.
- Le Poète dans la Cité (Aujourd’hui) – De Dichter in de Samenleving (Vandaag), Bruxelles, Instituto Camões – Delegação da Bélgica, 2002.
- Chaos a Nádhera – Eseje o Identitě, Praha, Dauphin, 2002.
- Chaos and Splendor & Other Essays, Dartmouth, Center for Portuguese Studies and Culture- University of Massachusetts Dartmouth, 2002.
- Chaos and Splendor & Other Essays, CARLOS VELOSO (ed.), Dartmouth,Center for Portuguese Studies and Culture- University of Massachusetts Dartmouth, 2002.
- This Little Lusitanian House: Essays on Portuguese Culture, Providence,Gavea-Brown Pub., 2003.
- Destroços - O Gibão De Mestre Gil E Outros Ensaios, Lisboa, Gradiva, 2004.
- O Lugar Do Anjo - Ensaios Pessoanos, Lisboa, Gradiva, 2004.
- O Outro Lado Da Lua - a Ibéria Segundo Eduardo Lourenço, Porto, Campo das Letras, 2005
- A Morte De Colombo - Metamorfose E Fim Do Ocidente Como Mito, Lisboa, Gradiva, 2005
- As Saias de Elvira E Outros Ensaios, Lisboa, Gradiva, 2006
Pensamentos de Eduardo Lourenço
O Canto do Signo – Existência e Literatura, Editorial Presença, 1994.
“A crítica só tem um significado ‘crítico’ razoável: é ‘consciência efectiva dos limites’,
exactamente como Kant a entendeu.”
“Os criadores têm a realidade das suas criações. Os críticos aquela que as criações
lhes consentem, sejam elas medíocres, excelentes ou geniais. A sua ilusão desenraizável é a
de imaginar que são eles quem lhes dá vida, quem as ilumina, quem as julga.
O contrário é mais exacto: são elas quem os faz viver, os ilumina ou julga.”
“O que se chama Crítica é a sombra apagada desta constelação móvel e irradiante das Obras.”
“A existência da obra de Arte oferece a particularidade única de ser uma existência que
não está certa da sua existência e ao mesmo tempo a existência mais resistente
na sua abissal fragilidade.”
“A Literatura é, no espelho da Cultura, uma prova da mortalidade das Obras,
pois é como mortas que elas se prestam à manipulação culturalista dos vivos.”
“O «ser» da crítica não é mais que sombra do «ser literário», embora esta sombra
não seja criada do exterior, mas segregada pela própria existência literária.
Por isso os avatares da Literatura são os avatares da Crítica Literária.”
“Entre crítica e literatura não há nem concorrência, nem oposição, nem convergência.
Há comparticipação na mesma liturgia do imaginário que ambas celebram,
uma criando-o, a outra lendo-o e recriando-o numa espécie de infelicidade sublime
a meio do caminho entre o eco e a metáfora.”
“Em todos os sentidos do termo, a obra é uma presença intemporal, porque nenhum
tempo preciso, nem sequer o do seu empírico nascimento, lhe pode ser assinalado.
E como seria de outro modo se ela é realidade humana na sua máxima irrealidade?
Ou se se prefere, irrealidade humana na sua máxima realidade?”
“O verdadeiro crítico é aquele que não compreende a obra e antevê (um pouco)
as razões por que não pode compreendê-la.”
“Toda a nomenclatura é uma aposta, um risco. Mas o que nós próprios
nos atribuímos é além disso desafio e pretensão. Através da palavra mágica «geração»
damo-nos facilmente uma figura no céu passageiro da vida literária.”
“Há apenas duas maneiras de conviver com o tempo: tomá-lo como realidade
ou como ficção. O que nós chamamos a literatura clássica tomava o tempo
como ficção. A literatura especificamente moderna – a que nasce com o D. Quixote
e toma plena consciência de si mesma com Madame Bovary – colhe a essência
da realidade humana como temporalidade pura.
É a ficção que deve enfrentar esta esfinge sem enigma.”
p. 302
O Labirinto da Saudade, Gradiva, 2005.
“Que o português médio conhece mal a sua terra – inclusive aquela que habita
e tem por sua em sentido próprio – é um facto que releva de um mais genérico
comportamento nacional, o de viver mais a sua existência do que compreendê-la.”
“Citar um autor nacional, um contemporâneo, um amigo ou inimigo,
porque nele se aprendeu ou nos revimos com entusiasmo, é, entre nós,
uma raridade ou uma excentricidade como usar capote alentejano.
A referência nobre é a estrangeira por mais banal que seja, e quem se poderá
considerar isento de um reflexo que é, por assim dizer, nacional?”
“Os Portugueses vivem em permanente representação, tão obsessivo
é neles o sentimento de fragilidade íntima inconsciente e a correspondente vontade
de a compensar com o desejo de fazer boa figura, a título pessoal ou colectivo.”
“Mas seja qual for a interpretação ideológica de Camões, não é possível,
para ninguém, separar o seu canto épico da apologia histórica de um povo
enquanto vanguarda de uma fé ameaçada na Europa do tempo e de um império
igualmente guarda-avançada da expressão comercial e guerreira do Ocidente.
É essa a «matéria» textual e moral do Poema.”
“Em princípio, todo o português que sabe ler e escrever se acha apto para tudo,
e o que é mais espantoso é que ninguém se espante com isso.”
A Nau de Ícaro seguido de Imagem e Miragem da Lusofonia - Gradiva
“Na verdade, e enquanto cultura europeia moderna, uma das originalidades
da nossa cultura foi a de ter sido, entre os séculos XV e XVII,
expressão singular e multiforme do «olhar europeu» sobre outras culturas,
e o que não é menos importante, reflexo do olhar do outro sobre a Europa.
O poema nacional dos Portugueses, Os Lusíadas, e a Peregrinação de Mendes Pinto
podem ser considerados os pólos deste duplo movimento solar da nossa cultura
portuguesa enquanto cultura inscrita fora do seu círculo original.”
“O nosso grande problema, enquanto portugueses, neste fim de século,
é integrar a realidade, a banal realidade europeia, com os seus imperativos
de organização, de competitividade, de invenção. Sem perder um certo arcaísmo,
um certo perfume de vida que se lembra ainda do seu passado rural,
vida banhada da doce luz da Finisterra.”
”Nenhuma barca europeia está mais carregada de passado do que a nossa.
Talvez por ter sido a primeira a largar do cais europeu e a última a regressar.”
“O nosso mundo, na aurora de um novo milénio, segundo o calendário crístico,
parece-se com um dos grandes aeroportos onde a humanidade se cruza sem se ver.”
“Não pode dizer-se de língua alguma que ela é uma invenção do povo que a fala.
O contrário seria mais exacto. É ela que o inventa. A língua portuguesa é menos
a língua que os Portugueses falam do que a voz que fala os Portugueses.”
“Uma língua não é de ninguém, mas nós não somos ninguém
sem uma língua que fazemos nossa. É neste sentido, e unicamente
neste sentido – longe das identificações narcisistas dos
nacionalismos culturais -, que uma língua é, como pensava Pessoa,
a nossa verdadeira pátria. A esse título, habitá-la, defendê-la,
da única maneira criadora tolerável, o que a torna cúmplice
dos nossos desejos e dos nossos sonhos de imortalidade humana,
nem é mesmo um dever, mas a natural respiração de uma cultura
que tem nela a sua matéria e a sua forma. Ou melhor, a alma da sua alma.”
“O povo brasileiro é um povo cheio de humor. Não é culpa dele se é um povo
demasiado grande para a memória que tem, como nós somos um povo
pequeno de mais para a memória imensa que ao longo dos séculos
refluiu para o nosso coração e nos sufoca.”
pp. 142-143
Tempo e Poesia, Gradiva
“Como a palavra comum, e mais do que ela, a escrita é um risco total.
De uma maneira geral ninguém a lerá como o seu autor a concebeu.
Ela será ocasião inevitável de desentendimento, desatenção, porventura
Irritação ou desprezo, mas igualmente de comunhão possível,
de entusiasmo, sobretudo de veículo para o transporte do próprio sonho.”
“À obsessão de julgar a Obra, antepôs-se-me a urgência de uma espécie de osmose
com ela, de modo a que o meu discurso sobre ela fosse uma espécie de duplo,
não do seu próprio discurso – o que nenhuma Obra é -, mas da claridade,
da evidência interna, do movimento, em suma, da vida iluminante
que na Obra existe, por ser o que é.”
"Decidi, por conseguinte, que os Poetas seriam os meus guias e não os críticos,
quero dizer a espécie crítica que vive na ilusão de uma superioridade
de estado do seu próprio estatuto crítico e da instância
(quando não instituição...) em que se constitui.”
“O acto crítico autêntico é um contínuo acto de amor que não
precisa de outra justificação que a da invenção mútua
de existência em que todo o amor consiste […].”
“Em sentido radical não há nada a dizer de um poema,
pois é ele mesmo o dizer supremo.”
“Se nada mais ficar do propósito que os meus textos «críticos» quiseram
encarnar, que sobrenade ao menos a paixão e o fervor nunca desmentido
pela Poesia mesma, lâmpada miraculosamente intacta no tempo
de plurais trevas que a cercaram sem a poder dissolver.”
“Espírito da Terra capaz de romper através da vida obscura da
nércia animal para oferecer uma face de Deus ao apelo universal da luz,
a Esfinge é encarnação perfeita da ambiguidade radical da situação humana.
E ao mesmo tempo a realização plástica mais concreta
do acto original do homem: a poesia.”
“Compreender a Esfinge, compreender a poesia é olhá-la sem a tentação
de lhe perguntar nada. É aceitar o núcleo de silêncio donde todas as
formas se destacam. A obra vale pela densidade de silêncio que nos impõe.
Por isso os poetas que imaginam dizer tudo
são tão vãos como as estátuas gesticulantes.”
“A Saudade é a sensível existência humana, a si mesma
inacessível e próxima. Inacessível porque próxima.”
“O amor pela poesia, como todo o amor, é a história dum equívoco.”
“A importância única da geração de Orpheu reside nessa aceitação sem limites
da seriedade da poesia, ou, se se prefere, da poesia como realidade absoluta.”
“O universo de «Orpheu» é o de um abalo radical que num segundo de terror
e êxtase confunde na terra desolada os deuses e os demónios. O drama
de «Presença» é o de homens que entre as ruínas de uma terra novamente
quieta procuram com fervor a imagem de um deus mais intacto para adorar.
enquanto o não acham, o prazer e a angústia da busca
lhes servem de verdadeiro deus.”
Fernando, Rei da nossa Baviera, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1993.
p. 48
[…]
“A galáxia-Fernando Pessoa não é habitável senão por aqueles
que como ele sabem que ‘grandes são os desertos…’”
DEPOIMENTOS
EXCERTOS SELECTOS SOBRE EDUARDO LOURENÇO
Um dos espíritos mais sagazes, de uma fulgurância estonteadora, que o ensaísmo
português em alguma época produziu. Muitas características e muitas virtudes
(por vezes dissociáveis, como no seu caso) desenham o perfil deste beirão
que, nunca deixando de o ser, se tornou um dos nossos universalistas –
talvez por isso vemo-lo como o mais certeiro e apaixonado diagnosticador
das contraditórias especificidades do homem português e, ao mesmo tempo,
um daqueles que mais capazes se revelam de um distanciamento clarificante.
Fernando Namora
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“Eduardo Lourenço é um mestre do ensaio livre e criativo que procura abarcar
e desvelar a compreensão da realidade em perspectivas inesperadas. Mestre de
uma crítica livre pensadora, mas pós-livre-pensamento, difícil de enquadrar em
escolas e correntes, Eduardo Lourenço tem procurado desminar o nosso imaginário
repleto de imagens desfocadas de nós mesmos, de mitos e utopias delirantes que nos têm impedido de trilhar caminhos sólidos de realização colectiva. Os seus textos
são interpretação e, ao mesmo tempo, são fonte de interpretação. A sua lucidez
analítica perante a complexidade da história e suas derivas presentes obriga-nos
a uma ascese das nossas insuficiências hermenêuticas e a alargar a compreensão
de Portugal, da Europa e do mundo. Tenho uma dívida de inspiração a
Eduardo Lourenço e aos seus escritos, lidos por mim com entusiasmo sistemático.
Os seus textos e os momentos de convívio com este pensador têm sido
desbravadores de caminhos e de temas de abordagem da História da
Cultura, esse mar onde navego em termos de investigação. Sem Eduardo Lourenço
os meus livros seriam mais pobres. Ele tem-me ensinado, com os suas análises
argutas e as suas provocações eivadas de ironia, a olhar o nosso passado
e o nosso presente de forma menos simplista e mais complexizante.”
José Eduardo Franco
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“(…) trata-se de um verdadeiro pensamento da literatura, e, no mesmo gesto,
de uma proposta de interpretação global da história literária do século
XIX e XX (…) e de uma tentativa de caracterização dos grandes problemas
do nosso tempo. Não se pode dizer que seja pouco”.
Eduardo Prado Coelho
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Eduardo Lourenço é um filósofo que pensa em metáforas e um poeta que transforma as metáforas em personagens. As suas personagens são os textos que lê e que
nos ensina a ler como se fossem gente: Camões, Pessoa, Portugal, o que fomos,
o que somos, o que ainda poderemos querer ser.
Helder Macedo
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Cosmopolita à maneira de Goethe ou de Stendhal, dotado do olhar lúcido de um exilado do interior, Eduardo Lourenço é um digno sucessor de Paul Hazard”.
Gerard Spiteri.
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“(…) a sua compreensão íntima do mistério da saudade, (…) a sua magistral interpretação
da obra de Pessoa, dão-nos a essência mesma da lusitanidade”.
Catherine Trautmann, Ministra da Cultura de França
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“Eduardo Lourenço (…) sabe que todos nós somos espíritos perdidos no tempo e que,
apesar das palavras não poderem quebrar a nossa irredutível solidão, elas podem pelo
menos proporcionar um pouco de conforto no vazio da infinitude”.
Pascal Avot.
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Fontes:
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