Interrompemos o estado de luto em que nos encontrávamos - prolongado também, por razões de saúde que nos afastaram do labor regular das nossas edições - para publicarmos as notícias relativas à homenagem ao grande Poeta Maior de Moçambique, JOSÉ CRAVEIRINHA, que o Movimento Literário Kuphaluxa" de Moçambique, nossos amigos e parceiros, representados no nosso "Conselho Editorial" pelo jornalista e escritor Eduardo Quive, vão realizar em Maputo.
Como José Craveirinha já estava em reserva de agendamentos de Tributos de Homenagem a serem publicados pelo nosso Blog-Revista, não só é com muito gosto que publicamos a "Nota de Impremsa" que gentilmente o amigo Mauro Brito do "M.L.Kuphaluxa" nos enviou, como é com muita honra e grande júbilo que antecipamos o nosso Tributo de Homenagem a esta grande figura da poesia lusófona de grande projeção internacional.
Aproveitando esta oportunidade, nos associamos a estes nossos parceiros e amigos do M.L.K. e, comungando da mesma grande e profunda admiração pelo Grande Poeta José Craveirinha, aqui lhe prestamos já, também, o "Tributo de Homenagem" do nosso Blog-Revista Culturas e Afetos Lusófonos, estimulando, assim, os nossos amigos leitores espalhados pelos 76 países onde somos lidos, a um conhecimento mais alargado e aprofundado da obra do Poeta Maior Moçambicano e um dos mais importantes da lusofonoa contemporânea, fornecendo alguns dados de informação sobre José Craveirinha e alguns poemas de sua obra, o que fazemos depois da Nota de Imprensa que se segue.
Aproveitando esta oportunidade, nos associamos a estes nossos parceiros e amigos do M.L.K. e, comungando da mesma grande e profunda admiração pelo Grande Poeta José Craveirinha, aqui lhe prestamos já, também, o "Tributo de Homenagem" do nosso Blog-Revista Culturas e Afetos Lusófonos, estimulando, assim, os nossos amigos leitores espalhados pelos 76 países onde somos lidos, a um conhecimento mais alargado e aprofundado da obra do Poeta Maior Moçambicano e um dos mais importantes da lusofonoa contemporânea, fornecendo alguns dados de informação sobre José Craveirinha e alguns poemas de sua obra, o que fazemos depois da Nota de Imprensa que se segue.
NOTA DE IMPRENSA
O Movimento Literário Kuphaluxa realiza na próxima segunda-feira, dia 06 de Fevereiro, no Centro Cultural Brasil – Moçambique em Maputo, uma evento em Homenagem ao José Craveirinha, pela passagem dos nove anos do seu desaparecimento físico.
O Movimento Literário Kuphaluxa realiza na próxima segunda-feira, dia 06 de Fevereiro, no Centro Cultural Brasil – Moçambique em Maputo, uma evento em Homenagem ao José Craveirinha, pela passagem dos nove anos do seu desaparecimento físico.
O evento, é organizado em parceria com a Família Craveirinha e pelo CCBM, sendo que ambos estarão presentes, numa cerimónia em que será exibido um vídeo de José Craveirinha em vida no bairro da Mafalala, recital dos seus pemas inéditos e ainda, momentos de reflexão do seu percurso poético e de convívio.
No painel em que se vai debater o Craveirinha poeta-mor, estarão presentes e darão os seus depoimentos os escritores: Calane da Silva, Ungulane Ba Ka Khosa, Juvenal Bucuane, Lília Momplé e Machado da Graça, para além do público em geral que poderá participar através das intervenções.
Ainda com este evento, o Movimento Literário Kuphaluxa, pretende lançar uma série de actividades que irá realizar com a família Craveirinha pelos 90 anos de idade, que completaria José Craveirinha se estivesse vivo, com o ponto mais alto das actividades, a registar-se no dia 28 de Maio deste ano, desta vez, numa cerimónia a ser realizada na cidade de Xai-xai, província de Gaza.
Ainda com este evento, o Movimento Literário Kuphaluxa, pretende lançar uma série de actividades que irá realizar com a família Craveirinha pelos 90 anos de idade, que completaria José Craveirinha se estivesse vivo, com o ponto mais alto das actividades, a registar-se no dia 28 de Maio deste ano, desta vez, numa cerimónia a ser realizada na cidade de Xai-xai, província de Gaza.
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José João Craveirinha, nasceu na então designada cidade de Lourenço Marques (hoje Maputo, Capital de Moçambique) a 28 de Maio de 1922, e faleceu em Maputo, 6 de Fevereiro de 2003. É considerado o Poeta Maior de Moçambique. Em 1991, tornou-se o primeiro autor africano galardoado com o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa.
Como jornalista, colaborou nos periódicos moçambicanos O Brado Africano, Notícias, Tribuna, Notícias da Tarde, Voz de Moçambique, Notícias da Beira, Diário de Moçambique e Voz Africana.
Utilizou os seguintes pseudónimos: Mário Vieira, J.C., J. Cravo, José Cravo, Jesuíno Cravo e Abílio Cossa. Foi presidente da Associação Africana na década de 1950.
Esteve preso entre 1965 e 1969 por fazer parte de uma célula da 4.ª Região Político-Militar da Frelimo, maior partido político de Moçambique que, então, lutava pela independência de Moçambique do país colonizador - Portugal.
Primeiro Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação dos Escritores Moçambicanos, entre 1982 e 1987, José Craveirinha, dizia de si próprio, o seguinte:
"Nasci a primeira vez em 28 de Maio de 1922. Isto num domingo. Chamaram-me Sontinho, diminutivo de Sonto. Isto por parte da minha mãe, claro. Por parte do meu pai, fiquei José. Aonde? Na Av. Do Zihlahla, entre o Alto Maé e como quem vai para o Xipamanine. Bairros de quem? Bairros de pobres.
Nasci a segunda vez quando me fizeram descobrir que era mulato…
A seguir, fui nascendo à medida das circunstâncias impostas pelos outros.
Quando o meu pai foi de vez, tive outro pai: seu irmão.
E a partir de cada nascimento, eu tinha a felicidade de ver um problema a menos e um dilema a mais. Por isso, muito cedo, a terra natal em termos de Pátria e de opção. Quando a minha mãe foi de vez, outra mãe: Moçambique.
A opção por causa do meu pai branco e da minha mãe preta.
Nasci ainda outra vez no jornal O Brado Africano. No mesmo em que também nasceram Rui de Noronha e Noémia de Sousa.
Muito desporto marcou-me o corpo e o espírito. Esforço, competição, vitória e derrota, sacrifício até à exaustão. Temperado por tudo isso.
Talvez por causa do meu pai, mais agnóstico do que ateu. Talvez por causa do meu pai, encontrando no Amor a sublimação de tudo. Mesmo da Pátria. Ou antes: principalmente da Pátria. Por parte de minha mãe, só resignação.
Uma luta incessante comigo próprio. Autodidacta.
Minha grande aventura: ser pai. Depois, eu casado. Mas casado quando quis. E como quis.
Escrever poemas, o meu refúgio, o meu País também. Uma necessidade angustiosa e urgente de ser cidadão desse País, muitas vezes, altas horas a noite".
Prémios
• Prémio Cidade de Lourenço Marques (1959)
• Prémio Reinaldo Ferreira do Centro de Arte e Cultura da Beira (1961)
• Prémio de Ensaio do Centro de Arte e Cultura da Beira (1961)
• Prémio Alexandre Dáskalos da Casa dos Estudantes do Império, Lisboa, Portugal (1962)
• Prémio Nacional de Poesia de Itália (1975)
• Prémio Lotus da Associação de Escritores Afro-Asiáticos (1983)
• Medalha Nachingwea do Governo de Moçambique (1985)
• Medalha de Mérito da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, Brasil (1987)
• Prémio Camões (1991)
Livros publicados
• Xigubo. Lisboa, Casa dos Estudantes do Império, 1964. 2.ª ed. Maputo, Instituto Nacional do Livro e do Disco, 1980
• Cantico a un dio di Catrame (bilingue português/italiano). Milão, Lerici, 1966 (trad. e prefácio Joyce Lussu)
• Karingana ua karingana. Lourenço Marques, Académica, 1974. 2.ª ed., Maputo, Instituto Nacional do Livro e do Disco, 1982
• Cela 1. Maputo, Instituto Nacional do Livro e do Disco, 1980
• Maria. Lisboa, África Literatura Arte e Cultura, 1988
• Izbranoe. Moscovo, Molodoya Gvardiya, 1984 (em língua russa).
Alguns Poemas de José Craveirinha
BLASFÉMIA
No relicário que te acolhe
é-me angustioiso supor
o labor das areias
na madeira.
E meu pesadelo dos pesadelos
a iconoclasta muchém
no afã da sua lavra
orgiando-se voraz.
Blasfémia suprema
o festim.
O COVAL
Excêntrica
é a minha indignada
mesquinha forma de sofrer.
Lúcido
eu a desencher o mundo
tapando-me no mesmo coval.
MONOGRAMA
A sotavento da face
colar aquoso
se desfia
E em sua fímbria macia
meu lenço azul-escuro
discreto humedece
o monograma
Jota
Cê.
Colar
que se desfia
no próprio lapso.
GUMES DE NÉVOA
Lágrimas?
Ou apenas dois intoleráveis
ardentes gumes de névoa
acutilando-me cara abaixo?
O SACRÁRIO
A ausência do corpo.
Amor absoluto.
Hossanas de sol.
De chuva.
De brisa.
E de andorinhas
resvalando as asas
no ombro de uma nuvem.
Com uma hérbia mantilha
por cima velando
o teu sacrário.
SILEPSES
Ajustadas ao comprido as ripas
esfarelando-se devagarinho
por entre minuciosos
dedilhos de terra.
E em melancólicas silepses
conspícuas gralhas versejam
extemporâneas férias
da Maria
REMENDOS DE ESTRELAS
Remendos de estrelas
passajadas no espaço
reconstroem todo o céu.
Mãe:
E se não houvesse estrelas
se o teu ventre me não gerasse
e se o céu em vez de infinito
fosse de pergamóide azul?
Que espécie de poesia, mãe
faria um poeta que não renuncia
exatamente como eu
à cor com que nasceu?
PARA UM IDÍLIO CLANDESTINO
Deixa-me que te beije
ao de leve o rosto na manhã nova
e meus dedos acariciem
nervosos a curva meiga do teu seio.
Meu amor:
o senso fragmenta-me a sensibilidade
e o que seu sinto-o
larva plena do que há-de vir.
Tu e eu
envolvidos nesta aventura
esperamos o comprometido instante
nalguma parte de nós.
Vai. Não te esqueças.
Nesta manhã do Infulene
ao quilômetro dez da liberdade
o sobrenatural acontece:
É assim.
Eu preso.
E tu minha mulher
depois da visita partes à vontade
mas não livre.
(Julho de 1967)
CANÇÃO NEGREIRA
Amo-te
com as raízes de uma canção negreira
na madrugada dos meus olhos pardos.
E derrotas de fome
nas minhas mãos de bronze
florescem languidamente na velha
e nervosa cadência marinheira
do cais donde os meus avós negros
embarcaram para hemisférios da escravidão.
Mas se as madrugadas
das minhas órbitas violentadas
despertam as raízes do tempo antigo ...
mulher de olhos fadados de amor verde-claro
ventre sedoso de veludo
lábios de mampsincha madura
e soluções de espasmo latejando no quarto
enche de beijos as sirenas do meu sangue
que meninos das mesmas raízes
e das mesmas dolorosas madrugadas
esperam a sua vez.
* fruto comestível de planta rasteira.
Poemas extraídos de: CRAVEIRINHA, José. Obra Poética. Maputo: Direcção de Cultura, Universidade Eduardo Mondlane, 2002. 367 p.
De José Craveirinha
ANTOLOGIA POÉTICA
Org. Ana Mafalda Leite
Belo Horizonte: Editora ufmg, 2010.
198 p. (Poetas de Moçambique)
ISBN 978-85-7043-849-4
Agradeço a beleza que enternece! Agradeço a informação que ensina! A reportagem sobre José Craveirinha é rica. Preciosa! Obrigada, Carlos! Sensibilidade fina!
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