Alexander Ellis, embaixador
britânico em Portugal, escreveu em finais de Dezembro, na sua habitual
coluna no jornal Expresso, a crónica que, com a devida vénia, a seguir
se transcreve:
"Portugueses: 2010 tem sido um
ano difícil para muitos; incerteza, mudanças, ansiedade sobre o futuro. O
espírito do momento é de pessimismo, não de alegria. Mas o ânimo certo
para entrar na época natalícia deve ser diferente. Por isso permitam-me,
em vésperas da minha partida pela segunda vez deste pequeno jardim,
eleger dez coisas que espero bem que nunca mudem em Portugal.
1. A ligação intergeracional.
Portugal é um país em que os jovens e os velhos conversam - normalmente
dentro do contexto familiar. O estatuto de avô é altíssimo na sociedade
portuguesa - e ainda bem. Os portugueses respeitam a primeira e a
terceira idade, para o benefício de todos.
2. O lugar central da comida na vida diária.
O almoço conta - não uma sandes comida com pressa e mal digerida, mas
uma sopa, um prato quente etc, tudo comido à mesa e em companhia. Também
aqui se reforça uma ligação com a família.
3. A variedade da paisagem.
Não conheço outro pais onde seja possível ver tanta coisa num dia só,
desde a imponência do rio Douro até à beleza das planícies do Alentejo,
passando pelos planaltos e pela serra da Beira Interior.
4. A tolerância.
Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso
que Portugal é considerado um dos países mais abertos aos emigrantes
pelo estudo internacional MIPEX.
5. O café e os cafés.
Os lugares são simples, acolhedores e agradáveis; a bebida é um pequeno
prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata
quente.
6. A inocência.
É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer
paternalista; mas vi no meu primeiro fim de semana em Portugal, numa
festa popular em Vila Real, adolescentes a dançar danças tradicionais
com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência.
7. Um profundo espírito de independência.
Olhando para o mapa ibérico parece estranho que Portugal continue a ser
um país independente. Mas é e não é por acaso. No fundo de cada
português há um espírito profundamente autónomo e independentista.
8. As mulheres.
O Adido de Defesa na Embaixada há quinze anos deu-me um conselho
precioso: "Jovem, se quiser uma coisa para ser mesmo bem feita neste
país, dê a tarefa a uma mulher". Concordei tanto que me casei com uma
portuguesa.
9. A curiosidade sobre, e o conhecimento, do mundo.
A influência de "lá" é evidente cá, na comida, nas artes, nos nomes.
Portugal é um pais ligado, e que quer continuar ligado, aos outros
continentes do mundo.
10. Que o dinheiro não é a coisa mais importante no mundo.
As coisas boas de Portugal não são caras. Antes pelo contrário: não há
nada melhor do que sair da praia ao fim da tarde e comer um peixe
grelhado, acompanhado por um simples copo de vinho.
Então, terminaremos a contemplação do país não com miséria, mas com brindes e abraços. Feliz Natal.
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